Guerra/Amnistia Internacional acusa
Rússia de usar armas de fragmentação em Kharkiv
Bissau, 14 Jun
22 (ANG) - A Amnistia Internacional acusou a Rússia de crimes de guerra em
Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, onde foram mortas centenas de pessoas desde o
início da guerra em finais de Fevereiro.
Num relatório
publicado segunda-feira, esta ONG de defesa dos Direitos Humanos dá conta de
bombardeamentos indiscriminados das forças russas contra populações civis
naquela localidade onde refere que foram recolhidos vestígios de bombas de
fragmentação e minas terrestres, armas proibidas pelas convenções
internacionais.
Intitulado
“Qualquer um pode morrer a qualquer momento: os ataques indiscriminados das
forças russas em Kharkiv, Ucrânia”, o novo relatório da Amnistia Internacional
sobre os acontecimentos de Kharkiv, dá conta da morte de 606 de civis, 1.248
feridos e da destruição de bairros residenciais de Kharkiv desde o início da
invasão da Rússia à Ucrânia.
Com base na recolha de testemunhos de 160
pessoas, nomeadamente sobreviventes dos ataques, familiares de vítimas e fontes
médicas, durante duas semanas em Abril e Maio, a Amnistia Internacional dá
conta do uso de munições de fragmentação e de minas de dispersão naquela
localidade, afirmando ter recolhido e analisado "provas materiais nos locais atacados,
nomeadamente fragmentos de munições, bem como uma série de materiais digitais".
Ao recordar que "embora a
Rússia não integre a Convenção de Munições de Fragmentação e a Convenção de
Minas Antipessoais, o Direito Internacional Humanitário proíbe os ataques
indiscriminados e o uso de armas devastadoras" e
que "os ataques que resultem em morte ou ferimentos a civis, ou danos a bens
civis, constituem crimes de guerra", a Amnistia Internacional
considera que “as forças russas devem ser responsabilizadas pelas
suas acções" e que "as vítimas e as suas famílias devem
receber uma indemnização”.
Esta foi precisamente a reivindicação
enunciada em entrevista à RFI por Pedro Neto, director executivo da Amnistia
Internacional em Portugal.
Ao realçar que a ONG de defesa dos Direitos Humanos registou "inclusive ataques que atingiram parques infantis" em
Kharkiv e que "nestes ataques também foram documentados
9 mortos e 35 feridos",
Pedro Neto refere por outro lado que a Amnistia Internacional viu "também ataques durante os trabalhos de
ajuda humanitária, isto é quando centenas de pessoas estavam em filas para
receberem mantimentos e outra ajuda humanitária", sendo que "ao abrigo das convenções de Genebra, não só é
proibido atacar civis, também é proibido atacar civis e trabalhadores
humanitários enquanto estão a prestar ajuda humanitária", recorda este responsável.
Relativamente ao uso de armas proibidas, Pedro Neto detalha que a
Amnistia Internacional "identificou fragmentos de bombas de
fragmentação 9N210 e 9N235", que "também
se verificou que foram utilizadas minas de dispersão" e que "este
tipo de bombas não direccionadas são proibidas por tratados internacionais
sobre armamento a que a Rússia não aderiu -e percebe-se agora porquê- porque as
quer utilizar."
O director executivo da Amnistia Internacional em Portugal
sublinha que "mesmo assim, a Rússia não está
desobrigada do cumprimento destas regras porque as convenções de Genebra, o
direito humanitário internacional proíbe também causar sofrimento
desproporcional e desnecessário quer a militares e muito menos a civis. As
convenções de Genebra proíbem o ataque a civis. Pelo que vimos há aqui ataques
indiscriminados e deliberados a zonas residenciais. A cidade de Kharkiv foi
atacada com este tipo de armamento e de bombardeamentos aéreos e que atingiram
os civis que estavam na sua vida do dia-a-dia completamente fora de uma lógica
de guerra conforme as regras da guerra assim o definem".
Neste sentido, Pedro Neto declara que a Amnistia Internacional
reclama "a
responsabilização perante a lei e o direito internacional por parte do exército
russo que foi quem atacou a cidade e os civis desta forma para duas medidas: a
primeira, indemnizar as famílias dos civis mortos; a segunda, indemnizar os
civis feridos e que perderam parcialmente ou totalmente membros do seu corpo e
que terão que enfrentar a vida a partir de hoje de uma forma completamente
diferente que até então, pelas limitações funcionais que agora terão e por
causa de ataques sem sentido."
Refira-se entretanto que no terreno, neste que é o 110° dia da
ofensiva de Moscovo na Ucrânia, as tropas russas continuam os seus
bombardeamentos contra Severodonetsk no leste do país, cidade cuja zona central
foi abandonada pelas tropas ucranianas depois de duas semanas de intensos
combates. De acordo com as autoridades locais, cerca de 500 civis, entre os
quais 40 crianças, terão encontrado refúgio na fábrica de produtos químicos
Azot, num cenário semelhante àquele que aconteceu em Mariupol.
O Presidente ucraniano acusou ontem os russos de ter visado civis nestes últimos ataques, o que Moscovo desmente. Paralelamente, a agência noticiosa russa Interfax indicou que as tropas russas destruíram um armazém contendo armas americanas e europeias, na região de Ternopil, no oeste do país. Uma informação que por enquanto não foi possível confirmar. ANG/RFI
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