Suíça/ Lula defende taxação de super-ricos e critica concentração de renda
Bissau, 14 Jun 24 (ANG) - O
presidente Lula da Silva defendeu a taxação dos super-ricos, criticando a
concentração da riqueza nas mãos de poucos.
Lula Da silva discursava,
quinta-feira, no fórum da Coligação para Justiça , da Organização Internacional
de Trabalho(OIT) em Genbra, Suíça.
Segundo ele, “nunca antes o
mundo teve tantos bilionários”.
“Estamos falando de 3 mil pessoas que detêm quase US$ 15 trilhões em
patrimônio. Isso representa a soma dos PIBs do Japão, da Alemanha, da Índia e
do Reino Unido. É mais do que se estima ser necessário para os países em
desenvolvimento lidarem com a mudança climática”, defendeu.
Segundo ele, “a concentração de renda é tão absurda
que alguns indivíduos possuem seus próprios programas espaciais”, alfinetando o
empresário sul-africano Elon Musk, fundador e diretor do Space X, que tem
o objetivo de reduzir os custos de transporte espacial para permitir a
colonização do planeta Marte.
“Não precisamos buscar soluções em Marte. É a Terra que precisa do nosso
cuidado”, disse o presidente, que foi aplaudido pelo menos cinco vezes durante
seu discurso.
O presidente afirmou que o crescimento da produtividade não tem sido
acompanhado pelo aumento dos salários, o que gera insatisfação e muita
polarização.
“Não se pode discutir economia e finanças sem
discutir emprego e renda. Precisamos de uma nova globalização, uma globalização
de face humana" afirmou dizendo que q justiça social e a luta contra as
desigualdades são prioridades da presidência do Brasil G20 do .
Lula defendeu que os benefícios da inteligência artificial “cheguem a
todos e não apenas aos mesmos países que sempre ficam com a parte
melhor”. Do contrário, segundo ele, esta tecnologia “tenderá a reforçar vieses
e hierarquias geopolíticas, culturais, sociais e de gênero”.
Ao informar que o Brasil vai trabalhar pela
ratificação da emenda de 1986 à Constituição da OIT, que propõe eliminar
os assentos permanentes dos países mais industrializados no conselho da
organização, Lula foi mais uma vez aplaudido.
“Não faz sentido apelar aos países em desenvolvimento para que
contribuam para a resolução das crises que o mundo enfrenta hoje sem que
estejam adequadamente representados nos principais órgãos de governança global.
Nossas decisões só terão legitimidade e eficácia se tomadas e implementadas
democraticamente”, afirmou.
O presidente falou também que as enchentes no
sul do Brasil e em outras oartes do mundo mostram que “o planeta já não aguenta
mais”.
“A crise climática será prioridade da COP 30
que será feita na cidade de Belém em um estado da Amazônia. As florestas
tropicais não são santuários para o deleite da elite global. Tampouco podem ser
tratadas como depósitos de riquezas a serem exportadas. Debaixo de cada árvore
vivem trabalhadoras e trabalhadores que precisam de emprego e renda”,
disse.
O presidente explicou por que aceitou o convite do diretor-geral da OIT,
Gilbert Houngbo para copresidir a Coalizão Global para a Justiça Social. “O
bem-estar de cada um depende do bem-estar de todos. Como afirmou o papa
Francisco, não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza e nem justiça
na desigualdade”, disse
Lula falou da alta taxa de informalidade, da precarização do trabalho,
da contínua queda da renda do trabalho para os menos escolarizados, da falta de
espaço no mercado para as novas gerações.
Segundo ele, o slogan da OIT, “se desejas a paz, cultiva e não permita a
injustiça”, é ainda mais pertinente hoje, alegando que as guerras na Ucrânia e
em Gaza "nos afastam desse ideal".
Ele lembrou que em 2024, quase metade da população mundial participará
de processos eleitorais.
“A democracia e a participação social são essenciais para a conquista de
direitos trabalhistas. Sem a democracia, um torneiro mecânico jamais teria
chegado à Presidência da República de um país como o Brasil”, disse, recebendo
aplausos.
Os ataques à democracia historicamente implicaram à
perda de direitosdisse Lula. “Não é mera coincidência que meu país foi
investigado por violar normas desta organização durante o governo de meu
antecessor”, completou
Em Genebra, Lula teve reuniões com a presidenta do Conselho Federal da
Suíça, Viola Amherd, e com o diretor-geral da OIT, Gilbert Houngbo.
Quando chegou à ONU para participar do fórum, foi recebido por Houngbo e
pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom
Ghebreyesus. Antes de embarcar para a Itália, onde participa de cúpula do G7,
ele se encontrou com o escritor Paulo Coelho para o lançamento de selo
comemorativo dos 35 anos do livro “O Alquimista”.
Depois de discursar, Lula falou com jornalistas sobre o posicionamento
do Brasil na guerra entre Rússia e Ucrânia, afirmando que não faz a defesa do
presidente russo Vladimir Putin.
"O Brasil foi o primeiro país a criticar a Rússia pela invasão de
um país. O que eu não faço é ter lado. O meu lado é a paz. O meu lado não é
ficar do lado do Zelensky contra o Putin, do lado do Putin contra o
Zelensky", disse. "O Brasil tem uma posição definida. Nós estaremos
dispostos a participar de qualquer reunião que discuta a paz, se tiver os dois
conflitantes na mesa, Rússia e Ucrânia. Senão, não é discutir paz”,
completou.
Lula disse que o Brasil não participou da cúpula na Suíça pela paz na
Ucrânia, porque o evento só faria sentido se os dois lados participassem.
“As guerra são feitas por duas nações. Se você quiser encontrar a paz,
você tem que colocar os dois num ambiente de negociações. Pra colocar só um
lado, você não quer paz. Então, eu disse para a presidente da Suíça que o
Brasil tem todo interesse e estamos à disposição”, afirmou.
"SE o Zelensky diz que não tem conversa com
Putin e o Putin diz que não tem conversa com o ZElensky é que eles estão
gostando da guerra. Qualquer solução pacífica mata menos gente, destrói menos e
é mais benéfica ao povo”, disse.
Questionado pela RFI Brasil sobre a votação do projeto sobre o aborto na
Câmara, ele preferiu não falar sobre o tema.
“Deixa eu voltar pro Brasil, tomar pé da situação, aí você pergunta e eu
falo com você”, tergiversou.
Lula também disse elogiou o ministro da Fazenda Fernando Haddad,
afirmando que era um "extraordinário ministro”.
“Não sei qual é a pressão contra o Haddad. Todo ministro da Fazenda,
desde que eu me conheço por gente, vira o centro do debate. O Haddad tentou
ajudar os empresários construindo uma alternativa à desoneração feita para
aqueles 17 grupos de empresários. Fez uma proposta. Os empresários não
quiseram. Agora, você tem uma decisão da Suprema Corte, que vai
acontecer", disse.
"Se em 45 dias não houver um acordo sobre compensação, vai acabar a
desoneração, que era o que eu queria, por isso que eu vetei naquela época.
Agora, a bola não está mais na mão do Haddad, a bola está na mão do Senado e na
mão dos empresários. Haddad tentou, não aceitaram, agora, encontrem uma
solução”, afirmou.
Nesta semana, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG),
decidiu devolver parte da medida provisória (MP) que limitava o uso de créditos
decorrentes da tributação do PIS-Cofins pelas empresas. A devolução representou
uma derrota para o ministro da Fazenda que propôs a medida como compensação à
desoneração da folha de pagamentos dos 17 setores que mais empregam e dos
municípios.
Perguntado se havia conversado com o ministro das Comunicações Juscelino
Filho, indiciado por corrupção pela PF, ele disse que depois que voltar do G7,
“vai sentar e discutir o que aconteceu de verdade”.
“Eu digo para todo mundo: só você sabe a verdade. Se você cometeu um erro, reconheça que cometeu. Se não cometeu, brigue pela sua inocência", completou.ANG/RFI
Sem comentários:
Enviar um comentário