Moçambique/Centro de Integridade Pública contabiliza uma
dezena de mortos durante protestos
Bissau, 28 Out 24 (ANG) - O
Centro de Integridade Pública de Moçambique, CIP, uma das ONGs que acompanharam
o processo eleitoral, estimou este fim-de-semana que dez pessoas morreram
durante os dois dias de manifestação convocados quinta e sexta-feira passados
pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, sendo que o balanço destes dias
de protesto terá resultado em dezenas de feridos e 500 detenções.
Dados diferentes daqueles fornecidos pela
polícia moçambicana que deu conta de confrontos e de 371 detenções.
No
boletim que publicou no sábado, , o CIP refere-se aos dias de protesto como
tendo sido “de terror em algumas cidades e vilas como
Maputo, Matola, Boane, Chimoio, Nampula e Nacala-Porto. O saldo até aqui é de
cerca de dez pessoas assassinadas pela polícia, dezenas de feridos e cerca de
500 detidos”.
"Geralmente a polícia não anuncia quando é a
morte. Às vezes é o centro de saúde que vai dizer. Houve uma morte, mas não
fala de outras mortes. Chimoio fala-se de uma pessoa que morreu, mas as nossas
contas falam mais ou menos de 4 a 5 pessoas. Na cidade de Maputo, por exemplo,
fala-se de uma pessoa que morreu, mas só na província de Maputo, em Boane
morreu uma pessoa. Não está contabilizada nas estatísticas. Na cidade de Maputo
morreram, acho que foram duas pessoas. Só se contabilizou uma pessoa. Em
Nampula, morreram duas pessoas, só se contabilizou uma pessoa. Então, somando
tudo isso, chega-se a uma dezena de pessoas que morreram", explica Lázaro Mabunda, editor do boletim do
CIP.
"Em relação aos feridos, se nós formos a ver,
só naquela noite (de quinta-feira) em Chimoio, houve 44 feridos, mas as
autoridades não falam desses números. Nampula fala-se de poucos feridos, mas
Nampula teve mais de dez feridos. Gaza não se fala do número de feridos. Só se
fala de 18 detenções, mas nessas detenções, houve feridos. São esses dados que
nós andamos a recolher e a confrontar nos com as estatísticas que são
fornecidos pelo governo", refere o activista.
Evocando os dados que têm em mãos sobre as
detenções efectuadas durante os dois dias de protestos, Lázaro Mabunda explica
ainda que "geralmente, as estatísticas oficiais,
quando são anunciadas, são niveladas por baixo. Falam de 371 detidos, mas não
falam onde é que essas pessoas foram detidas. E se for a fazer análise, em cada
província há dezenas de detidos. Então, somando isso, os números estão acima de
400, Então estimamos em mais ou menos 500."
Neste mesmo relato, o CIP refere que três
sedes da Frelimo no poder foram queimadas durante esse período, que diversos
comércios foram pilhados e veículos incendiados.
“O dia
24 tinha começado calmo em todo o país, mas o cenário mudou após o anúncio dos
resultados eleitorais. Milhares de cidadãos, maioritariamente jovens, saíram às
ruas para contestar os resultados eleitorais que deram 70% de votos a favor da
Frelimo, uma mega fraude nunca vista na história do país”,
refere o CIP que na sexta-feira, num comunicado conjunto com outras duas
organizações da sociedade civil (CDD e CESC), exigiu uma "recontagem dos votos em todas as
assembleias de voto do país" e a "publicação dos editais originais de todas
as mesas".
Recorde-se que na passada quinta-feira, a
Comissão Nacional de Eleições de Moçambique anunciou os resultados das eleições
gerais de 9 de Outubro, atribuindo a vitória a Daniel Chapo, candidato da
Frelimo no poder, com um pouco mais de 70% dos votos, contra cerca de 20% para
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Podemos, cerca de 6% para a Renamo e um pouco
mais de 3% para o MDM.
Na sequência deste anúncio, os candidatos da oposição informaram que recusavam estes resultados, sendo que Venâncio Mondlane reforçou o seu apelo à manifestação. Este último anunciou, entretanto, durante o fim-de-semana que tencionava convocar novos dias de protestos e apelou à união da oposição.ANG/RFI
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