Rússia/Putin defende aumento do comércio em moedas nacionais para escapar de sanções
Bissau,
22 Out 24 (ANG) - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, defendeu nesta
terça-feira (22) o aumento do comércio em moedas nacionais para minimizar os
"riscos políticos externos", antes do início da reunião de cúpula do
Brics em Kazan.
"Um aumento dos pagamentos em moedas
nacionais torna possível minimizar os riscos políticos externos", disse
Putin, durante uma reunião com a ex-presidente Dilma Rousseff, atual presidente
do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que financia projetos de infraestrutura
e desenvolvimento nos países emergentes.
A Rússia é alvo, desde o início da ofensiva na Ucrânia em
2022, de sanções ocidentais, em particular financeiras, e o presidente russo
pede com frequência a redução da dependência da economia russa do dólar, uma
moeda considerada "tóxica" por Moscou.
O estabelecimento de um sistema de pagamentos
internacional permitiria competir com o Swift (Sociedade para Telecomunicações
Financeiras Interbancárias Mundiais), do qual a maioria dos bancos russos foi
excluída.
Dilma Rousseff também apoiou a ideia de aumentar o comércio em
moedas nacionais durante uma reunião que contou com a presença da presidente do
Banco Central Russo (BCR), Elvira Nabiulina, e do chefe da diplomacia russa,
Serguei Lavrov.
"No momento, os países do Sul Global têm uma
grande necessidade de financiamento, mas as condições para obtê-lo são muito
complicadas", reconheceu, segundo suas declarações traduzidas para o
russo.
O banco do Brics foi criado como alternativa ao
Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial, duas instituições controladas
pelos países ocidentais.
Em Kazan, os líderes do
Brics discutem diferentes projetos de mecanismos financeiros alternativos ao
dólar no comércio intrabloco: o Brics Pay, equivalente à plataforma
internacional de pagamentos Swift, o Brics Bridge, sistema baseado em
blockchain que interligaria os respectivos bancos centrais, e a eventual moeda
comum dos Brics.
Em entrevista à RFI, Carl Grekou, economista
especialista em finanças do Centro de Estudos Prospectivos e de Informações
Internacionais (CEPII), em Paris, disse que "se o Brics se alargar para
cada vez mais países, é possível esperar que, a longo prazo, o dólar tenha um
papel cada vez menos importante nas transações comerciais".
Atualmente, o grupo dos emergentes já conta com 46%
da população mundial e tem um PIB ligeiramente superior ao das potências
econômicas ocidentais. Mas o "sistema Brics" ainda tem algumas etapas
para desenvolver e se concretizar, inclusive do ponto de vista geopolítico,
observa o economista. A Rússia tem interesse em acelerar o processo por ter
sido prejudicada pelas sanções ocidentais, após invadir a Ucrânia.
Antes de se reunir a portas
fechadas com Vladimir Putin, nesta terça, o primeiro-ministro indiano, Narendra
Modi, pediu ao anfitrião um rápido retorno à paz na Ucrânia.
“Acreditamos que os conflitos devem ser resolvidos
apenas de forma pacífica. Apoiamos totalmente os esforços para restaurar
rapidamente a paz e a estabilidade”, declarou Modi perante o presidente russo.
O indiano explicou que mantém "contato permanente" com Putin, que
saudou "a parceria estratégica" entre os dois países.
Modi busca manter um equilíbrio delicado entre os
laços historicamente fortes da Índia com a Rússia, e a vontade de se aproximar
do Ocidente para combater a China, sua adversária regional. O líder indiano
nunca condenou abertamente o ataque russo à Ucrânia, preferindo defender o
diálogo entre os dois países e até oferecer uma mediação diplomática.
A guerra na Ucrânia estará na agenda das discussões
em Kazan na quinta-feira, em uma reunião anunciada pelo Kremlin entre Putin e
António Guterres, o secretário-geral da ONU. No entanto, a ONU não confirmou
este encontro, que seria o primeiro na Rússia entre os dois dirigentes desde
abril de 2022, após o início do ataque russo contra o país vizinho.
A cúpula do Brics ocorre num momento em que Moscou volta a conquistar áreas no leste da Ucrânia e forja alianças estreitas com os maiores adversários dos Estados Unidos: China, Irã e Coreia do Norte. ANG/RFI/AFP
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