Tunísia/ Reeleição de Kais Saied
marcada por abstenção recorde
Bissau, 08 Out 24 (ANG) - O Presidente cessante Kais
Saied, acusado pela sociedade civil de “deriva autoritária, foi reeleito com
90,7% dos votos na Tunísia, numa eleição que fica marcada por uma taxa de
abstenção recorde.
A taxa de participação situou-se nos 28,8%, a mais baixa desde a
chegada da democracia, em 2011, ao país. De acordo com o especialista da
ONG International Crisis Group, Michael Ayari, a vitória de Kais Saed era
previsível, tendo em que conta que, das 17 candidaturas, apenas dois
concorrentes foram autorizados a apresentar-se.
Kais Saed venceu confortavelmente o industrial liberal Ayachi
Zammel, que obteve 6,9% dos votos, e o antigo deputado pan-árabe de esquerda
Zouhair Maghzaoui, que ficou em último lugar com 3,9%.
O discurso anti-sistema e as promessas de reformas radicais
continuam a atrair um grande segmento da população, apesar das crescentes
preocupações com o estado da democracia tunisina.
O país, considerado um dos poucos exemplos de sucesso
democrático após o movimento da “Primavera Árabe”, em 2011, sofreu durante os
últimos cinco anos um retrocesso nos direitos e liberdades. Segundo a
organização Human Rights Watch, há actualmente 170 pessoas detidas na Tunísia
por razões políticas.
Muitos críticos atribuem este retrocesso ao Presidente Kais Saed
que já chegou a ser comparado com Zine el Abidine ben Ali, que governou o país
entre 1987 e 2011.
Desde que chegou ao poder, Kaïs Saïed, antigo professor de
direito constitucional, transformou radicalmente o cenário político tunisino,
com a suspensão do Parlamento, demissão do Primeiro-Ministro, governação por
decretos.
Em declarações ao canal de televisão France 24, Vincent Geisser,
especialista no Magreb, considera que o Presidente tunisino deverá continuar o
projecto de desmantelamento das instituições formadas após a queda de Ben Ali
em 2011, acrescentando que o Kaïs Saïed fará tudo para se manter no poder.
“O objectivo de
Kais Saïed é estabelecer uma chamada ‘democracia de proximidade' com
assembleias regionais e um sistema de patrocínio extremamente complexo para ser
candidato numa eleição. Ele defende um sistema que ligue directamente a aldeia
a Cartago [sede da presidência, nota do editor], sem intermediários”, explicou Vincent Geisser. ANG/RFI
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