COP16/ Preservação da biodiversidade é crucial para o futuro de África
Bissau, 27 Fev 25 (ANG) - A 16.ª Conferência da
Convenção das Nações Unidas sobre Biodiversidade, suspensa em 2024 na Colômbia
por falta de quórum, retomou esta terça-feira, 25 de Fevereiro em Roma, com
foco no financiamento da proteção da natureza.
A comissária da
Agricultura e do Ambiente da União Africana, Josefa Sacko, descreve os desafios
do continente africano na conferência sobre biodiversidade, destacando a
importância da preservação da biodiversidade para a segurança alimentar.
RFI: Quais são os desafios desta reunião em
Roma para o continente africano?
Josefa Sacko: Neste
momento, conseguimos elaborar a nossa estratégia sobre a biodiversidade. Essa
estratégia foi adoptada no ano passado e está sendo popularizada. O segundo
ponto é a mobilização de recursos financeiros para podermos implementar a
estratégia.
Em que consiste essa estratégia?
A importância dessa estratégia é a conservação da nossa
biodiversidade, tanto a vida na Terra como nos oceanos. Temos os recursos
naturais que precisamos preservar, e esses recursos naturais também nos servem
para a nossa subsistência. A preservação da biodiversidade é muito importante
para nós no continente africano.
Porque a biodiversidade é importante para a
segurança alimentar e para a transformação dos sistemas agroalimentares?
Sim, é muito importante porque vivemos dos nossos
recursos naturais e, se fizermos a conservação e a preservação desses recursos
naturais, não teremos problemas de segurança alimentar, pois isso contribui
para a segurança alimentar no continente.
Quais podem ser as implicações se não se
chegar a um consenso sobre a criação de um novo fundo para a biodiversidade?
Não estamos apenas a falar de financiamento, mas a nível
do nosso continente, estamos empenhados para que haja mobilização doméstica
para a conservação da biodiversidade. Não dependemos muito do exterior, mas
assumimos as nossas responsabilidades e continuamos a preservar a nossa
biodiversidade, pois também é uma garantia para o futuro da África e das
futuras gerações, bem como a nível mundial.
Será que os países africanos, mas não só, os
países em desenvolvimento, por exemplo, na América Latina, vão conseguir
pressionar de forma eficaz para que sejam criados novos mecanismos financeiros?
Eu acredito que sim. Essa é a importância desses
encontros e desse tipo de diálogo entre as partes. Portanto, deve haver
sensibilidade. Temos que olhar para a sustentabilidade do ser humano e do
planeta. São questões que não podemos ignorar. São extremamente importantes e
prioritárias para nós, principalmente no continente africano, uma vez que
estamos a perder a nossa biodiversidade devido à urbanização, à
industrialização e também à agricultura, com práticas agrárias que não são
sustentáveis.
Esta questão da degradação ambiental
preocupa-a?
Preocupa-nos muito. A degradação ambiental preocupa-nos
muito, porque o nosso continente, felizmente ou infelizmente, não é um dos
grandes poluidores. No entanto, estamos a sofrer bastante com o problema das
alterações climáticas e a perda da nossa biodiversidade. Os impactos são
realmente muito grandes, e acreditamos que as soluções não podem ser tomadas de
forma isolada. Todos temos que colaborar. Precisamos de uma plataforma de
colaboração para encontrar formas de preservar a nossa biodiversidade.
Diz que o continente africano não é poluidor,
mas sofre com asconsequências das alterações climáticas. Isso vê-se, por
exemplo, nos países afro-lusófonos, como Moçambique, que tem sido devastado por
ciclones.
Sim, para nós isso é muito importante. Como se vê em
Moçambique. A nível do nosso departamento, temos Moçambique como um campeão da
redução das catástrofes naturais. O novo Presidente, com quem tive um encontro
sobre essa situação na semana passada, está a trabalhar para mobilizar mais
recursos, a fim de mitigar os efeitos das alterações climáticas, como as
inundações, as secas e os ciclones.
O sul de Angola sofr também com a seca...
Sim, a seca no sul de Angola. Moçambique também enfrenta
secas. No Corno de África também há seca. Portanto, muitos países no sul de
Angola e na SADC estão afectados pela seca, como a Namíbia e Botsuana.
As discussões em Roma marcam o primeiro
encontro internacional deste ano dedicado ao meio ambiente e acontece num
contexto internacional complicado. Os Estados Unidos não são membros da
Convenção sobre Diversidade Biológica, e o Presidente Trump não se pode retirar
do Acordo de Kunming-Montreal da mesma forma que saiu do Acordo Climático de
Paris. No entanto, os Estados Unidos participam das discussões da convenção
como observador e financia vários programas de biodiversidade. Este contexto
internacional pode também afectar as questões ambientais?
Sim, isso vai afectar, certamente. Temos os nossos planos de adaptação e mitigação para resolver esses problemas. No entanto, com a decisão dos Estados Unidos de se retirar da agenda ambiental, isso terá, sem dúvida, um grande impacto na implementação dos nossos programas.ANG/RFI
Sem comentários:
Enviar um comentário