ONU/Guterres aponta "conflitos" no Sudão, Ucrânia e Gaza como fruto da impunidade
Bissau, 23 Set 25 (ANG) - O secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou hoje que vários países atuam alheios às regras internacionais e avaliou que essa impunidade gerou alguns dos conflitos "mais atrozes" da atualidade, referindo diretamente o Sudão, Ucrânia e Gaza.
"Em todo o mundo, vemos países a agir como se as regras
não se lhes aplicassem. Vemos humanos tratados como menos que humanos. E
precisamos de denunciar isso. A impunidade é a mãe do caos -- e gerou alguns
dos conflitos mais atrozes dos nossos tempos", disse Guterres no arranque
do debate de alto nível da Assembleia-Geral da ONU.
Começando pelo Sudão, o líder da ONU observou que
os civis estão a ser massacrados, mortos à fome e silenciados, num
conflito para o qual "não há solução militar".
Guterres exortou
todas as partes, "incluindo as presentes" no salão da
Assembleia-Geral da ONU, a acabar com o apoio externo que alimenta o
derramamento de sangue no Sudão.
"Lutem pela
proteção dos civis. O povo sudanês merece paz, dignidade e esperança",
insistiu.
De seguida,
Guterres direcionou as suas palavras para a guerra na Ucrânia, onde, frisou, a
violência implacável continua a matar civis, a destruir infraestruturas civis e
a ameaçar a paz e segurança globais.
O antigo
primeiro-ministro português elogiou os recentes esforços diplomáticos dos
Estados Unidos e de outros países em prol da paz na Ucrânia e apelou a um
cessar-fogo total, que leve a uma paz justa e duradoura, em conformidade
com a Carta das Nações Unidas, as resoluções da ONU e o direito internacional.
António Guterres
mencionou depois a guerra em Gaza, "onde a escala de morte e destruição
está além de qualquer outro conflito" que acompanhou ao longo dos seus
dois mandatos como secretário-geral.
Em Gaza, "os
horrores aproximam-se do seu monstruoso terceiro ano" e "são o
resultado de decisões que desafiam a humanidade fundamental", lamentou.
O Tribunal
Internacional de Justiça (o principal órgão jurisdicional das Nações Unidas)
emitiu medidas provisórias, juridicamente vinculativas, no caso intitulado
"Aplicação da Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio
na Faixa de Gaza", recordou o líder da ONU, apelando a que as medidas
sejam implementadas plena e imediatamente.
Contudo, afirmou o
representante, o cenário só piorou desde então, frisando que foi declarado um
período de fome e que as mortes intensificaram-se no território.
António Guterres
voltou a insistir na solução de dois Estados como a única resposta viável para
uma paz sustentável no Médio Oriente e pediu que sejam invertidas urgentemente
as "tendências perigosas" no terreno, como a expansão dos colonatos e
a ameaça iminente de anexação.
"Em todo o
lado -- do Haiti ao Iémen, de Myanmar ao Sahel e mais além -- devemos escolher
a paz ancorada no direito internacional", apelou.
Apesar de admitir
alguns vislumbres de esperança no ano passado, incluindo o cessar-fogo entre o
Camboja e a Tailândia e o acordo entre o Azerbaijão e a Arménia, mediado pelos
Estados Unidos, Guterres reforçou que muitas crises continuam sem controlo.
"A impunidade
impera. A ilegalidade é um contágio. Convida ao caos, acelera o terror e
arrisca uma guerra nuclear sem limites. Quando a responsabilização diminui, os
cemitérios aumentam", disse.
Nesse sentido,
Guterres dirigiu-se àquele que é o órgão mais poderoso da ONU - o Conselho de
Segurança -, cujas resoluções têm cariz vinculativo, para pedir que cumpra com
as suas responsabilidades.
"Deve ser mais
representativo, mais transparente e mais eficaz", insistiu, numa
referência a este órgão que tem a responsabilidade primária pela manutenção da
paz e segurança internacionais, mas que se vê frequentemente impedido de agir
devido a vetos dos membros permanentes - China, Estados Unidos, França, Rússia
e Reino Unido.
Neste que será o
seu penúltimo discurso de abertura da Assembleia-geral da ONU enquanto
secretário-geral, Guterres foi além das guerras e pediu que se combatam as
injustiças que geram exclusão, desigualdade, corrupção e impunidade.
O chefe das Nações
Unidas fez ainda uma ampla defesa dos direitos humanos, defendendo que não são
um ornamento da paz, mas sim "o seu alicerce".ANG/Lusa

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