Literatura/Escritora francesa Annie Ernaux galardoada com o Prémio
Nobel de
Literatura
Bissau,07 Out
22(ANG) - A academia sueca atribuiu quinta-feira o prémio Nobel de literatura à
francesa Annie Ernaux. Conhecida pela sua escrita intimista, a autora francesa
foi recompensada pela academia pela "coragem e acuidade clínica
que demonstrou ao revelar as raízes, o distanciamento e as restrições
colectivas da memória pessoal".
Numa primeira reacção, a autora considerou
que se trata de "uma
honra muito grande" e também de uma "grande responsabilidade" que
lhe é concedida de dar um testemunho "de uma forma de rectidão e de
justiça em relação ao mundo".
Depois de Jean-Larie le Clezio em 2008 e
de Patrick Modiano em 2014, sem contar outros autores franceses também
galardoados num passado mais longínquo, o júri da academia sueca optou uma vez
mais por recompensar um escritor gaulês.
A escritora Annie Ernaux era pressentida
para este galardão a par de outro autor francês, Michel Houellebecq.
Aos 82 anos, Annie Ernaux é considerada
aqui em França um ícone do feminismo, baseando boa parte da sua obra nas suas
experiências pessoais de mulher face às regras da sociedade do pós-segunda
guerra mundial em que se insere, num olhar marcado pelo franco desenvolvimento
das ciências sociais em França nos anos 50 e 60, nomeadamente o trabalho do
sociólogo Pierre Bourdieu que efectuou pesquisas sobre a distinção entres as classes
sociais.
Numa escrita simples, sem tabu e sem
lirismo, ela fala da sua mudança de condição social, a passagem de uma infância
na classe popular na Normandia para o estatuto de professora de literatura
nomeadamente no livro "Les
armoires vides" publicado em 1974 e também "La place" editado em 1984,
uma paixão em "Passion
simple" em 1992, um aborto no livro "L'évenement" editado
no ano 2000, ou mais recentemente, um pequeno conto, "Le jeune homme",
editado este ano, sobre um efémero relacionamento com um homem mais novo.
Instalada desde 1977 em Cergy-Pontoise, na
região parisiense, ela escreveu igualmente várias obras retratando esta cidade
e os seus habitantes, sublimando e dissecando momentos aparentemente banais do
seu quotidiano.
Apesar de ter recebido prestigiosos
prémios literários aqui em França e de ter um percurso reconhecido
designadamente com a adaptação de duas das suas obras para o cinema, a
escritora continua a viver de forma discreta e disse ainda recentemente em
entrevista "sentir-se um pouco
ilegitima no meio literário" e apenas se encarar
como "uma mulher que
escreve, só isso".ANG/RFI
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