Ex-chefes
rebeldes anunciam regresso às armas
Bissau, 30 ago 19 (ANG) - O ex-número 2 da rebelião
das FARC, Ivan Marquez que voltou para a clandestinidade há um ano, anunciou
num vídeo difundido na plataforma YouTube, que ele retoma as armas ao lado de
outros líderes da antiga rebelião.

"A modificação unilateral do texto do acordo, a
não-aplicação dos seus compromissos por parte do Estado, as montagens judiciais
e a insegurança obrigam-nos a retomar a guerrilha" lançou Ivan Marquez ao
acusar de "duplicidade" o executivo de direita do Presidente Ivan
Duque, em funções desde 2018, que nunca escondeu a sua hostilidade aos moldes
do acordo validado pelo seu antecessor Juan Manuel Santos.
"Nunca
fomos vencidos, nem desarticulados ideologicamente, é por isso que a luta
continua", acrescentou ainda o antigo número 2 da rebelião neste vídeo de
cerca de meia hora em que aparece juntamente com mulheres e homens armados,
assim como outros antigos responsáveis que regressaram à clandestinidade há
alguns meses, um antigo líder da guerrilha, Hernan Dario Velasquez e um dos
antigos negociadores do acordo de paz, Jesus Santrich, procurado pela justiça
americana por alegado tráfico de droga.
No referido vídeo, Ivan Marquez indicou ainda que o
seu grupo vai procurar coordenar-se com outra guerrilha, a ELN que ainda
recentemente, no passado 22 de Janeiro, reivindicou um atentado contra a escola
da polícia da capital que causou 22 mortos.
Este movimento que continua activo tem vindo a
reforçar-se nos últimos anos, tendo passado de 1.800 a 2.300. Do lado das
antigas FARC, até agora não se sabe ao certo quantos guerrilheiros poderiam
retomar o combate.
Sabe-se apenas que 2.300 nunca chegaram a sair das
matas, havendo informações militares
referindo que estes grupos dissidentes se dedicam essencialmente ao
narcotráfico e à exploração mineira clandestina.
O anúncio feito quinta-feira por este grupo dissidente
das FARC causou choque na Colômbia, contudo não parece ter surpreendido o
executivo de Ivan Duque que pouco depois de lamentar esta decisão anunciou uma
ofensiva contra os ex-guerrilheiros.
Por sua vez, ao apelar à "repressão dos
desertores", o antigo Presidente colombiano Juan Manuel Santos preferiu
relativizar a alçada desta decisão, considerando que "90% das FARC
permanecem comprometidas com a paz".
Apesar de o actual Presidente colombiano ter visto a
sua tentativa de alterar o Acordo de Paz ser chumbada pelo Tribunal
Constitucional no passado mês de Junho, a aplicação do texto não tem sido
totalmente efectiva.
Este compromisso previa nomeadamente subvenções para
os camponeses efectuarem a transição da cultura da coca que alimentou as
guerrilhas, para culturas legais.
Nos últimos meses, muitos teceram alertas sobre a
demora das subvenções e também em torno da insegurança que continua a reinar em
meio rural.
O partido das FARC, quanto a si, denuncia assassinatos
de antigos rebeldes, 135 no total desde 2016. Ainda recentemente, no passado 9
de Julho, antigos rebeldes, Weimar Galíndez Daza e Luis Carlos Yunda Corrales
foram mortalmente baleados.
Neste contexto, para Cristina Matias, artista plástica
portuguesa radicada há mais de 30 anos em Bogotá, esta notícia não é surpreendente.
ANG/RFI
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