segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Centenário de Amílcar Cabral/Combatente da Liberdade da Pátria Ana Maria Gomes Soares diz que  Cabral era homem “amável e frontal”

Bissau,11 Nov 24(ANG) – A combatente da Liberdade da Pátria, Ana Maria Gomes Soares qualifica Amílcar Cabral de  um líder “amável, frontal e especial”, que  sempre preocupava com a situação dos todos.

Ana Maria Gomes Soares que falava em entrevista exclusiva à ANG no âmbito da  celebração do Centenário de Amílcar Cabral salientou que, com a sábia liderança de Cabral, os combatentes da Liberdade da Pátria tinham uma convivência sã e sem  distinção de etnia, raça e religião porque partilhavam tudo.

“Hoje em dia, volvidos mais de 50 anos da independência, fico triste porque essa camaradagem não existe e a história do país está a desaparecer”, disse.

Ana Maria Gomes Soares é esposa do Combatente Lúcio Soares, um dos dirigentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde(PAIGC), que participou na assinatura do Acordo de Argel e que culminou no reconhecimento de Portugal da independência da Guiné e Cabo Verde à 10 de Setembro de 1974.

Perguntada sobre onde e quando aderiu a luta armada e como conheceu Amílcar Cabral, Ana Maria disse que conheceu o fundador das nacionalidades guineenses e cabo-verdiana em 1964, em Conacri.

“Os meus pais eram camponeses e vivem na povoação de Calac, setor de Bedanda, região de Tombali, sul do país e a luta armada nos apanhou nessa localidade”, disse.

Acrescentou  que no período de mobilização, os guerrilheiros do PAIGC entraram em contato com os seus pais e toda a população  da  aldeia, com intuito de lhes mobilizar para participarem na luta armada para libertar o povo guineense da dominação colonial portuguesa.

“As pe
ssoas que dirigiram essa mobilização, eram Nino Vieira, Constantino Teixeira(Tchutchu Akson), Victor Saúde Maria, entre outros”, frisou.

Disse que nesta perspectiva os seus país foram sensibilizados de que futuramente vão ter que separar dos seus filhos para integrar a luta.

 “Por isso fomos levados para o primeiro Campo de Preparação na povoação de Catés, setor de Cubucaré, onde recebemos  a instrução militar, nomeadamente as técnicas de defesa do inimigo, formas de proteção no momento de combate entre outros”, informou.

Disse que após essa fase juraram a bandeira na  qualidade de Milícias, salientando que Amílcar Cabral pensava na  criação de Milícias Populares para que na eventualidade de vier a existir  Zonas Libertadas essa força servir para o  controlo e  defesa contra inclusive os próprios elementos da população que tinham ideias opostas.

“Então, foi ali que fizemos o juramento nas mediações de Base Central de Nino Vieira, entre Cafal, Calac e Catchamba e na altura era a Titina Sila que  organizava essa atividade”, frisou.

Ana Maria Gomes Soares sublinhou que assistiram igualmente a rodagem do primeiro filme do partido denominado “Lala Quema”, da autoria de um jornalista russo.

Disse que após a  realização do 1º Congresso do PAIGC em Cassacá, um grupo de mulheres dentre as quais ela, foi selecionado e partiu para a Guiné Conacri, tendo no percurso encontrado com outras colegas provenientes de diversas localidades da região de Tombali, como Satu Camará, e concentraram na povoação de Botchê Sanssé, para depois seguir  para a fronteira.

Informou que, o percurso era muito longe e complicado, frisando que fizeram uma paragem na povoação de Sansalé, e cujo responsável do partido naquela localidade era Armando Ramos que lhes acolheu mediante  orientações  de Amílcar Cabral que lhe ordenou ir buscar o grupo de raparigas.

“Estava prevista  mandar uma viatura para nos levar  e como chovia muito em Conacri as vias estavam cortadas e por isso optaram por viagem de barco para nos levar e como o partido não tinha esse meio, contataram alguns marinheiros de embarcações que transportavam alguns produtos como mancara e que eram igualmente mobilizados para a luta para desviarem esse barco para nos transportar”, afirmou.

Acrescentou  que foi esse barco que os levou para Boké e depois  para Conacri onde foram para o Lar do partido, local que agrupava todo o staff do PAIGC.

“Numa manhã, chegou o Amílcar Cabral na sua viatura de marca Volkswagen e se deparou connosco na formatura e foi-nos apresentado e desde então passou a visitar-nos todos os dias de manhã”, explicou.

Aquela combatente da Liberdade da Pátria disse que posteriormente foram selecionadas para ir ao Gana fazer o estágio do domínio de socorrista de combate e preparação militar.

“A nossa missão no Gana não viria a concluir porque este país se deparava com enormes dificuldades financeiras para nos suportar e por esse motivo regressamos a Conacri”, afirmou.

Ana Maria Gomes Soares disse que quando regressaram a Conacri na primeira reunião que mantiveram com Cabral, este  dizia-lhes que “se alguém for ao poço apanhar água e encontrar o poço seca deve voltar”.

Disse que, seguidamente foram enviadas para a antiga União Soviética concretamente em Kiev, na Ucrânia, e depois do regresso foram colocadas nas zonas libertadas do norte como enfermeiras.

Amílcar Cabral completou o centenário do seu nascimento à 12 de setembro de 2024, mas as  autoridades nacionais prolongaram as celebrações  para até ao  próximo dia 16 de Novembro, Dia das Forças Armadas guineenses, em que simultaneamente  se celebra os  51 anos da proclamação da independência da Guiné-Bissau do jugo colonial português. ANG/ÂC//SG

 

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