COP29/ "Há mais lobistas do que delegações de países expostos às alterações climáticas"
Bissau, 16 Nov 24 (ANG) - Mais de
1.700 lobistas defendem os interesses das empresas envolvidas no carvão,
petróleo ou gás na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, a
decorrer em Baku, no Azerbaijão.
O jornalista do MediaPart
especialista nas questões climáticas, Mickaël Correia, afirma que há mais
lobistas do que delegações dos países mais frágeis às alterações climáticas e
denuncia uma "certa hipocrisia nas negociações".
A coligação de ONG’s
–Kick Big Polluters Out (“Fora com os poluidores!”, numa tradução livre)
lamentou nesta sexta-feira, 15 de Novembro, a presença de mais de 1.700
lobistas de energias fósseis na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações
Climáticas, a decorrer em Baku, no Azerbaijão.
De acordo com o
jornal Le Monde, um grupo de 450 organizações, incluindo Global Witness,
Greenpeace e Transparency International, teve acesso à lista provisória de
participantes publicada pelas Nações Unidas, concluiu que os lobistas
ultrapassam o número de cada delegação nacional, nomeadamente os países mais
vulneráveis às alterações climáticas, como é o caso do Chade, Sudão e
Mali.
A única excepção vai
para a delegação o Azerbaijão, com mais de 2.000 membros, do Brasil, que acolhe
a COP em 2025 com 1.914 membros, e da Turquia, cuja delegação ultrapassa os 1.800
membros.
A coligação de ONG’s
revela que os representantes das indústrias fósseis que trabalham, por exemplo,
para a ExxonMobil, Shell, Chevron ou BP, que normalmente têm o estatuto de
observadores, obtiveram acesso à acreditação através de associações
comerciais.
As ONG’s estão a
fazer pressão, junto das Nações Unidas, para excluir das negociações
organizações que tenham interesses financeiros ou pessoais na produção ou
combustão da indústria fóssil.
Na semana passada, o
jornal on-line Mediapart publicou um artigo onde confirmava a presença de mais
de 200 lobistas oficiais na COP29. Em entrevista à RFI, Mickaël Correia autor
do artigo e especialista nas questões ambientais, referiu que este número dizia
apenas respeitos aos lobistas das grandes empresas, sublinhando que na COP28,
que teve lugar no Dubai, estiveram presentes 2.500 lobistas.
“É só
mesmo um número mínimo, porque na COP 28 - no ano passado, no Dubai - estiveram
presentes mais ou menos 2.500 lobistas das grandes companhias do petróleo, do
carvão e do gás”, refere.
O jornalista do
Mediapart afirma que nos últimos anos se está a assistir a uma grande
penetração do lobby da indústria fóssil e que isso se traduz nas declarações
finais destas conferências.
“No
Dubai, no ano passado, pela primeira vez tivemos uma declaração sobre a saída
das energias fósseis, contudo houve uma tradução muito fraca das ambições dos
diferentes Estados. Ou seja, a pressão dos lobistas fósseis traduz-se desta
maneira: Na declaração final, eles não escreveram que temos de sair - hoje -
urgentemente do petróleo, do carvão e do gás, mas que temos de fazer uma
transição energética que depende da política dos diferentes países”, nota.
Mickaël
Correia denuncia uma certa “hipocrisia nas negociações”, sublinhado que “as Nações Unidas dão uma acreditação a estes
lobistas [que representam uma indústria] que é responsável por 90% das emissões
de carbono”.
O jornalista
especialista nas questões climáticas diz que a Conferência das Nações Unidas
sobre Alterações Climáticas “está a
perder a essência da primeira COP que houve em 1995”, sublinhado que nesta
COP29 o país anfitrião - que considera o petróleo uma “dádiva de Deus” - “vai a
fazer contratos de petróleo ou de gás com os outros países, como a Rússia ou a
Turquia, por exemplo”.
A COP29 decorre em Baku até ao dia 22 de Novembro.ANG/RFI
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