França /Presidente Macron reconhece “responsabilidade” na
guerra colonial nos Camarões
Bissau, 13 Ago 25 (ANG) - O Presidente Emmanuel Macron reconheceu que a França travou "uma guerra" nos Camarões contra os movimentos de libertação antes e depois da independência em 1960.
Numa carta enviada ao seu homólogo camaronês, Paul
Biya, Macron admitiu que lhe cabe “assumir hoje o papel e a responsabilidade de
França nos acontecimentos”.
Este
reconhecimento oficial surge na sequência de um relatório de uma comissão de
historiadores, apresentado em Janeiro ao Presidente francês e que, segundo a
carta assinada por Emmanuel Macron, "mostrou
claramente que ocorreu uma guerra nos Camarões, durante a qual as autoridades
coloniais e o exército francês exerceram violência repressiva de vários
tipos".
Por
isso, Macron admitiu que lhe cabe “assumir
hoje o papel e a responsabilidade de França nos acontecimentos”, ou seja, a guerra levada a cabo pelo
exército francês contra os movimentos independentistas e de oposição nos
Camarões entre 1945 e 1971. O Presidente francês é explícito na carta ao
acrescentar que “a
guerra continuou para além de 1960 com o apoio de França às ações levadas a
cabo pelas autoridades independentes camaronesas".
Emmanuel
Macron não abordou a questão das reparações, como pedem muitos antigos
combatentes camaroneses.
O
relatório da comissão, presidida pela historiadora Karine Ramondy, analisa,
também, a passagem por parte das autoridades coloniais francesas da repressão
para uma "guerra" que teria feito “dezenas de milhares de vítimas"
e que ocorreu no sul e oeste do país entre 1956 e 1961. Por outro lado,
sublinha que "a independência formal [dos
Camarões em Janeiro de 1960] não constitui de forma alguma uma ruptura
clara com o período colonial". Lembra, também, que Ahmadou Ahidjo, primeiro-ministro e
depois Presidente em 1960, estabeleceu "um
regime autocrático e autoritário com o apoio das autoridades francesas,
representadas por conselheiros e administradores, que deram carta branca às
medidas repressivas adoptadas", segundo os historiadores. De
notar que o atual Presidente Paul Biya foi um colaborador próximo de Ahmadou
Ahidjo na década de 1960, até se tornar primeiro-ministro em 1975 e Presidente
em 1982. Hoje, aos 92 anos, vai concorrer a um oitavo mandato nas presidenciais
de 12 de Outubro e o Conselho Constitucional rejeitou a candidatura do seu
principal adversário, Maurice Kamto.
O
reconhecimento da responsabilidade de França na guerra nos Camarões é mais um
passo na política memorial do Presidente Macron relativamente a África, após
documentos semelhantes sobre o Ruanda e a Argélia, outras páginas sombrias da
história colonial francesa em África.ANG/RFI

Sem comentários:
Enviar um comentário