Ataque dos EUA
mata poderoso general iraniano em Bagdá
Bissau, 03 jan
20 (ANG) - O bombardeio foi ordenado por Donald Trump, três dias após
manifestantes pró-Irã terem atacado a embaixada americana na capital do Iraque,
confirmou o Pentágono.
O líder de uma
milícia iraquiana pró-iraniana, Abu Mehdi al-Muhandis, também morreu no ataque
na noite desta quinta-feira (2) contra o Aeroporto de Bagdá. O aiatolá Ali
Khamenei pediu na manhã desta sexta-feira (3) "vingança".
Segundo o departamento americano de
Defesa, a ordem para liquidar Soleimani partiu diretamente de Donald Trump.
"Sob as ordens do presidente, o Exército americano agiu para proteger o
pessoal americano e estrangeiro e matou Qasem Soleimani", informou o
Pentágono. Minutos antes, Trump havia tuitado uma bandeira americana.
O Congresso americano não foi previamente
informado. O presidente do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara de
Representantes, Eliot Engel, admitiu que Soleimani foi "o autor
intelectual de uma enorme violência" contra americanos, mas afirmou que
"seguir em frente com uma ação desta importância sem envolver o Congresso
cria sérios problemas legais e é uma afronta aos poderes do Congresso".
O ministro iraniano das Relações
Exteriores, Mohammad Javad Zarif, qualificou o ataque de "escalada
extremamente perigosa e imprudente" deflagrada por Washington. Mohsen
Rezai, um antigo chefe dos Guardiães da Revolução, declarou que "Soleimani
se uniu a nossos irmãos mártires e nossa vingança sobre a América será
terrível".
"Uma reunião extraordinária do
Conselho Supremo de Segurança Nacional foi convocada para as próximas horas
para discutir o ataque...", anunciou o porta-voz Keyvan Koshravi, citado
pela agência estatal Isna.
O general Soleimani, 62 anos, liderava a
força Al-Qods dos Guardiões da Revolução, encarregada das operações no
exterior. Era visto como um herói no Irã e exercia um papel-chave nas
negociações políticas para formar um governo no Iraque. O general iraniano foi
um dos principais personagens do combate às forças jihadistas na região e tinha
uma atuação fundamental no reforço da influência diplomática de Teerã no
Oriente Médio, especialmente no Iraque e na Síria.
Al-Muhandis era o número dois da Hashd al
Shaabi e seu chefe operacional. Na terça-feira, milhares de apoiadores,
combatentes e altos comandantes do Hashd al Shaabi protestaram na Zona Verde de
Bagdá contra os ataques dos Estados Unidos a milícias pró-Irã.
Os manifestantes quebraram as janelas e
invadiram as instalações de segurança da embaixada americana, sem que as forças
iraquianas que protegiam o local reagissem.
Os Guardiões da Revolução, o exército
ideológico da República Islâmica, confirmaram que "o glorioso comandante
do Islã Haj Qasem Soleimani morreu como mártir em um ataque dos Estados Unidos
contra o aeroporto de Bagdá", em nota divulgada na TV estatal em Teerã.
As vítimas estavam em um comboio das
Forças de Mobilização Popular (Hashd al Shaabi), uma coalizão de paramilitares
majoritariamente pró-Irã e atualmente integrada ao Estado iraquiano, revelou o
porta-voz do grupo Ahmed al-Assadi. "Três mísseis atingiram o Aeroporto Internacional
de Bagdá próximo ao terminal de carga, e dois explodiram", matando ao
menos oito pessoas, confirmaram funcionários iraquianos, que pediram para não
ser identificados.
O Iraque tem sido palco, nas últimas
semanas, de uma espiral de tensão que ameaça transformar o país em um campo de
batalha entre forças apoiadas por Estados Unidos e Irã. Desde o final de
outubro, militares, funcionários terceirizados e diplomatas americanos são alvo
de ataques no país.
Washington, que acusa as Forças de
Mobilização Popular de estar por trás do ataque à sua embaixada em Bagdá, havia
bombardeado no domingo (29) posições do grupo na zona de fronteira com a Síria,
matando 25 combatentes. O bombardeio dos Estados Unidos foi lançado em resposta
ao disparo de um foguete que matou um empreiteiro americano na sexta-feira (27)
em uma base militar no norte do Iraque, que Washington atribuiu às brigadas do
Hezbollah no país.
Segundo o Pentágono, Soleimani liderou os
ataques às bases da coalizão no Iraque nos últimos meses, inclusive o da
sexta-feira passada. "O general Soleimani também aprovou a invasão da
embaixada dos Estados Unidos em Bagdá esta semana".
Para Phillip Smyth, especialista americano
em grupos xiitas armados, esta "foi a mais importante operação de
“eliminação” já realizada pelos Estados Unidos, superando as mortes de Abu Bakr
al-Baghdadi e de Osama Bin Laden", chefes do Estado Islâmico e da
Al-Qaeda.
"Para os xiitas do Oriente
Médio", o general era uma "mescla de James Bond (espião do cinema),
Erwin Rommel (general alemão) e Lady Gaga", escreveu o ex-analista da CIA
Kenneth Pollack em um perfil de Soleimani para a revista Time, que o situou
entre as 100 personalidades mais influentes de 2017. "Para o
Ocidente", era o "responsável por exportar a revolução islâmica do Irã,
de apoiar os terroristas (...) e de promover as guerras do Irã no
exterior", avaliou Pollack.
Soleimani mostrou todo o seu talento no
Iraque, atuando nos bastidores diante do avanço do grupo Estado Islâmico (EI),
o referendo de independência no Curdistão e a formação do novo governo. Sua
influência era antiga, uma vez que já liderava a Al-Qods quando os Estados
Unidos invadiram o Afeganistão, em 2001.
Após se manter discreto durante décadas,
Soleimani começou a aparecer nas manchetes dos jornais depois do início da
guerra na Síria, em 2011, onde o Irã apoia o regime do presidente Bashar al
Assad.
Após a divulgação da notícia da morte do
general, os preços do petróleo subiram mais de 4% nos mercados asiáticos nesta
sexta-feira.ANG/RFI/AFP
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