Itália/Papa alerta para “tentações populistas” e mostra-se
preocupado com “crise da democracia”
Bissau, 08 Jul 24(ANG) – O Papa Francisco alertou no domngo para
a "cultura da rejeição" e as "tentações ideológicas e
populistas", manifestando preocupação com a "crise da
democracia", tendo criticado também o abstencionismo.
"É evidente que no mundo actual a democracia, digamos a
verdade, não está de boa saúde. A questão interessa-nos e preocupa-nos porque
está em jogo o bem da humanidade", lamentou o pontífice perante um milhar
de pessoas reunidas em Trieste, no nordeste de Itália, para o encerramento da
Semana Social organizada pela Igreja Católica italiana.
Sem nomear nenhum país, Francisco alertou contra as
"tentações ideológicas e populistas", no mesmo dia em que a França
vota na segunda volta das eleições legislativas, que poderão ser ganhas pela
extrema-direita.
"As ideologias são sedutoras. Há quem as compare ao homem
que tocava flauta em Hamelin. São sedutoras, mas obrigam-nos a negarmo-nos a
nós próprios", disse.
Antes das eleições europeias, os bispos de vários países já
tinham manifestado a sua preocupação com a ascensão do populismo e do
nacionalismo na Europa, com a extrema-direita já no poder em Itália, na Hungria
e na Holanda.
O líder da Igreja Católica manifestou também a sua preocupação
com o aumento da taxa de abstenção em todo o mundo: "Estou preocupado com
o pequeno número de pessoas que vão votar: o que é que isso significa?".
"A própria palavra 'democracia' não coincide simplesmente
com o voto popular, mas exige que sejam criadas as condições para que todos se
possam exprimir e participar. E a participação não se improvisa, aprende-se
desde tenra idade, tem de ser 'treinada', também com sentido crítico face às
tentações ideológicas e populistas", disse.
O Papa, na sua intervenção, denunciou ainda o que considera
obstáculos à democracia, como a corrupção e ilegalidade, exclusão social,
marginalização e indiferença.
"Sempre que alguém é marginalizado, todo o corpo social
sofre. A cultura da rejeição cria uma cidade onde não há lugar para os pobres,
os nascituros, os frágeis, os doentes, as crianças, as mulheres e os
jovens", lamentou, apelando a que se promova a participação desde a
infância.
No seu discurso, Francisco destacou, por outro lado, a
contribuição que o cristianismo pode dar ao desenvolvimento cultural e social
europeu, especialmente em questões relacionadas com a vida e a dignidade das pessoas,
como propôs ao Parlamento Europeu no final de 2014.
O Papa, foi também muito crítico para com certas formas de
assistencialismo, a ajuda pública aos cidadãos que não se podem sustentar
inteiramente por si mesmos.
"Todos devem sentir-se parte de um projecto comunitário,
ninguém deve sentir-se inútil. Certas formas de assistência que não reconhecem
a dignidade das pessoas são uma hipocrisia social. O assistencialismo, por si
só, é inimigo da democracia e do amor ao próximo", afirmou, acrescentando:
“A indiferença é o cancro da democracia". ANG/Inforpress/Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário