NATO/ Trump e extrema-direita europeia são “tempestade
perfeita de problemas” - analistas
Bissau, 08 Jul 24(ANG) - Um potencial regresso de Donald Trump à
Presidência norte-americana e o crescimento da extrema-direita europeia
anti-NATO são a maior ameaça à Aliança Atlântica e, combinados, criarão uma
"tempestade perfeita" de problemas, segundo analistas ouvidos pela
Lusa.
Na véspera da Cimeira da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (NATO), que decorrerá de 09 a 11 de Julho na capital norte-americana, o
analista Collin Anderson avaliou que o futuro da Aliança estará em foco,
acrescentando que "Trump é a maior ameaça" a esse horizonte, seguido
dos "crescentes partidos de extrema-direita anti-NATO na Europa".
"Os dois, combinados, criarão uma tempestade perfeita de
problemas para a Aliança. Numa altura em que a NATO precisaria do apoio firme
dos seus outros maiores Estados-membros, como a França e a Alemanha, estamos a
assistir a um crescente sentimento anti-NATO/anti-Estados Unidos (EUA) que
poderia potencialmente exacerbar quaisquer problemas causados por Trump",
disse à Lusa Anderson, professor do departamento de Ciência Política da
Universidade de Buffalo, em Nova Iorque.
Os norte-americanos irão a votos em 05 de Novembro e os dois
potenciais candidatos presidenciais - Joe Biden e Donald Trump - têm visões
muito distintas de política externa, incluindo sobre a NATO.
Quando assumiu a Casa Branca, em 2021, o actual Presidente
democrata, Joe Biden, declarou que as alianças da América são o seu "maior
activo".
Desde então, Washington tem liderado o apoio à Ucrânia após a
invasão russa, juntamente com os aliados europeus.
Por outro lado, o ex-presidente e potencial candidato
republicano à Casa Branca, Donald Trump, causou polémica ao encorajar a Rússia
"a fazer o que raio quiser" com aliados da NATO que não cumprissem as
directrizes de gastos com Defesa, declarações que causaram preocupação
generalizada na Europa.
De acordo com analistas ouvidos pela Lusa, uma vitória de Biden
não causaria grande alteração ao modelo de actuação da NATO. Por outro lado, um
Trump vitorioso em Novembro poderia pôr em causa o envolvimento norte-americano
na Aliança, deste que é um dos membros fundadores e com o maior exército da
Organização.
"Trump deixou claro inúmeras vezes que está mais do que
disposto a retirar os EUA da NATO, o que seria obviamente um duro golpe para a
Aliança. Não acredito que seria o fim da NATO, mas reduziria significativamente
as suas capacidades e tornaria tanto a Europa como os EUA um lugar
significativamente mais fraco", frisou Collin Anderson.
"Tenho visto vários potenciais planos apresentados pela
campanha de Trump ou aliados. O mais extremo envolve os EUA simplesmente
abandonarem completamente a Aliança, enquanto os outros se concentram em
transformar a NATO numa rede de protecção ao estilo da máfia, onde apenas os
Estados que pagam as suas dívidas obtêm protecção. Trump também criou com
sucesso um sentimento anti-NATO entre os conservadores americanos, o que
significa que a base de apoio tradicionalmente firme que estava presente
naquele grupo desapareceu em grande parte", observou ainda.
Além disso, o republicano manifestou "um elevado nível de
vontade de negociar com os russos, já que a maioria dos planos de Trump inclui
um acordo para travar qualquer expansão da NATO para leste - dando ao
Presidente russo, Vladimir Putin, algo que ele deseja há anos e acabando
efectivamente com a capacidade da Ucrânia de aderir à NATO", acrescentou
Anderson.
Considerando "inegável que os EUA são a espinha dorsal da
NATO", Clara Broekaert, analista de investigação do Soufan Center, um
centro de análise e diálogo estratégico sobre desafios de segurança global,
acredita que o maior desafio que a Aliança enfrenta a curto prazo é manter a
unidade interna, "para que não fique paralisada, politizada ou
simplesmente ineficaz".
"Da mesma forma, outro desafio significativo que a NATO
enfrenta é a incerteza em torno do envolvimento duradouro dos EUA na NATO,
especialmente com a potencial reeleição de Donald Trump. As eleições para o
Parlamento Europeu e as eleições legislativas francesas também demonstram uma
onda crescente de atitudes mais isolacionistas e cépticas em relação ao projecto
transatlântico", observou.
Concretamente, um potencial regresso de Donald Trump à Casa
Branca poderia influenciar o financiamento da NATO, a estabilidade global e o
apoio à Ucrânia, de acordo com a analista.
Um enfraquecimento significativo das capacidades de dissuasão da
NATO contra adversários como a Rússia é possível caso o republicano vença em
Novembro, disse ainda.
"Embora mesmo o cenário extremo da retirada dos EUA da NATO
não deva ser totalmente rejeitado, pessoalmente penso que existe um risco mais considerável
de a NATO se tornar inoperante", alertou Clara Broekaert.
Joshua Shifrinson, professor de política internacional da
Universidade de Maryland e especialista em segurança internacional
contemporânea, vê como "improvável" que Trump ponha termo formalmente
ao compromisso dos Estados Unidos com a NATO, mas admite uma "tensão
intra-Aliança significativa".
Na visão do professor universitário, o regresso de Trump à Casa
Branca resultaria numa redução das forças convencionais dos EUA na Aliança,
além de críticas regulares ao subinvestimento militar dos aliados europeus.
ANG/Inforpress/Lusa
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