ONU/Peritos tornam a apontar papel do Ruanda no conflito no leste da RDC
Bissau, 09 Jul 24 (ANG) - Peritos
mandatados pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas apresentaram o seu
relatório sobre a RDC em que se
fala das violências dos grupos rebeldes activos no leste do país, e deram conta do papel possivelmente
desempenhado pelo Uganda.
O documento fornece igualmente mais dados sobre a participação activa das tropas ruandesas e sobre o recrutamento de menores neste conflito.
No seu novo relatório, os peritos da ONU
estimam que oficiais ruandeses tomaram na prática "o controlo e a direcção das operações do M23", movimento rebelde que Kinshasa acusa
há anos de ser apoiado por Kigali.
Ao afirmar que as autoridades ruandesas "violaram a integridade e a soberania da RDC", os peritos da ONU
consideraram-as "responsáveis
pelas acções do M23" pelo apoio que dão à sua "conquista territorial".
Desde finais de 2021, o
movimento M23 e as tropas ruandesas têm estado a avançar dentro
do Norte-Kivu, no leste da RDC, onde têm infligido derrotas ao
exército congolês bem como aos seus aliados e instalaram uma administração
paralela nas áreas sob o seu controlo.
Até ao final do ano passado, as autoridades
ruandesas negavam com veemência qualquer participação no conflito vigente no
leste da RDC. Todavia, no passado dia 20 Junho, em entrevista concedida ao
canal France 24, o Presidente ruandês já não fez qualquer espécie de
desmentido, dizendo estar "disposto
a lutar" contra
a RDC, se necessário.
Desde há vários meses que os Estados Unidos,
a França, a Bélgica e a União Europeia pedem ao Ruanda que retire os seus
militares e os seus mísseis terra-ar da RDC e que cesse o seu apoio
ao M23. Estes pedidos, contudo, não têm surtido efeito.
No seu novo relatório que apresenta várias
fotografias das zonas controladas pelos M23 e as tropas ruandesas e
onde se vêm homens fardados, armas sofisticadas e blindados, os peritos da ONU
estimam que no passado mês de Abril, os efectivos das forças ruandesas "igualavam ou superavam em número os
combatentes do M23", estimados em cerca de 3 mil
homens.
Segundo os autores desse documento, existem
provas de que membros dos serviços secretos do vizinho Uganda estão a fornecer
um apoio activo ao M23, isto apesar de as autoridades ugandesas terem
também estado a cooperar com Kinshasa na luta contra um movimento rebelde
ligado ao grupo Estado Islâmico.
Ainda segundo o relatório divulgado nesta
segunda-feira, crianças, "a
partir dos 12 anos", foram recrutadas com falsas promessas
ou à força "em quase todos os campos de refugiados
no Ruanda" (80 mil congoleses estão refugiados no
Ruanda, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados) para
serem enviados para campos de treino em zonas rebeldes, sob o controlo de
militares ruandeses e de homens do M23.
De acordo com os peritos da ONU, no âmbito
das suas ofensivas, os M23 e as forças ruandesas "visaram especificamente localidades
maioritariamente habitadas por hutus, em zonas conhecidas por serem bastiões
das FDLR",
as Forças Democráticas de Libertação do Ruanda, um grupo rebelde ruandês
formado por antigos líderes hutus do genocídio ruandês de 1994, e refugiados no
Congo desde então.
A presença desse grupo na RDC, junto à
fronteira com o Ruanda, é vista por esse país como uma ameaça à sua segurança.
Uma situação perante a qual tanto Kigali como a comunidade internacional têm reclamado que Kinshasa, acusada de apoiar esse grupo, tome as suas distâncias. Sem também mudar o rumo dos acontecimentos. ANG/RFI
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