EUA/Ex-ministro das Finanças de
Moçambique condenado nos EUA
Bissau, 09 Ago 24 (ANG) - O ex-ministro das Finanças
de Moçambique, Manuel Chang, foi condenado, quinta-feira, nos Estados Unidos,
no âmbito do caso das dívidas ocultas.
Não foi ainda divulgada a data da sentença, mas Manuel
Chang incorre numa pena que pode ir até 20 anos de prisão, de acordo com
comunicado do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Esta quinta-feira, a justiça norte-americana considerou Manuel
Chang como culpado no caso das chamadas “dívidas ocultas”, o escândalo
financeiro internacional de fraude massiva e branqueamento de capitais que
mergulhou Moçambique na turbulência financeira.
O antigo ministro das Finanças, de 48 anos, esteve detido na
África do Sul entre 2018 e 2023 a pedido das autoridades norte-americanas e foi
extraditado para os Estados Unidos em Julho de 2023. Foi, agora, julgado
durante quatro semanas num tribunal federal de Brooklyn, em Nova Iorque. De
acordo com um comunicado do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Manuel
Chang incorre numa pena que pode ir até 20 anos de prisão, mas ainda não se
conhece a data de divulgação da sentença.
Ainda de acordo com o comunicado citado pela France Presse,
Manuel Chang foi considerado culpado de “conspiração para cometer fraude
financeira e lavagem de dinheiro, crimes ligados ao seu papel num caso de
fraude e suborno de dois mil milhões de dólares em detrimento de investidores
nos Estados Unidos e em outros lugares”.
Chang declarou-se inocente das acusações e a Defesa promete
recorrer. Os seus advogados disseram que o ex-ministro estava a fazer o que o
seu Governo desejava quando assinou as garantias de que Moçambique pagaria os
empréstimos e que não há provas de uma contrapartida financeira para o então
governante.
Entre 2013 e 2016, três empresas controladas pelo Governo
moçambicano contraíram discretamente empréstimos milionários junto de grandes
bancos estrangeiros. O então ministro das Finanças aprovou, à revelia do
parlamento, garantias estatais sobre os empréstimos da Proindicus, Ematum e MAM
aos bancos Crédit Suisse e VTB. As receitas deveriam financiar uma frota de
atum, um estaleiro naval, navios da Guarda Costeira e sistemas de radar para
proteger os campos de gás natural ao largo da costa do Oceano Índico.
As dívidas foram descobertas em 2016 e estimadas em cerca de 2,7
mil milhões de dólares (cerca de 2,55 mil milhões de euros), de acordo com
valores apresentados pelo Ministério Público moçambicano. Moçambique acabou por
mergulhar numa convulsão financeira, depois de ter sido, durante duas décadas,
uma das dez economias de crescimento mais rápido do mundo.
Nas alegações finais do julgamento, a procuradora adjunta
norte-americana, Genny Ngai, disse que "as provas neste caso mostram que
existe aqui um esquema internacional de fraude, branqueamento de capitais e
suborno de proporções épicas" e que Manuel Chang "escolheu
participar". Os procuradores acusaram-no de recolher 7 milhões de dólares
em subornos, mas a defesa disse que não havia provas de que lhe tivesse sido
prometido ou recebido um cêntimo. Os procuradores norte-americanos disseram,
ainda, que banqueiros e funcionários do Governo desviaram o dinheiro do empréstimo.
Borges Nhamirre, investigador do Centro de Integridade Pública,
acompanhou o julgamento nos Estados Unidos e explica que os procuradores
americanos provaram, em tribunal, que Manuel Chang recebeu 7 milhões de dólares
de suborno da construtora naval Privinvest, para aprovar as garantias do
governo moçambicano para empréstimos às empresas EMATUM, MAM e Proindicus.
“Foi um julgamento curto comparativamente ao anterior, por exemplo, de Jean Boustani que é do mesmo processo. Enquanto aquele julgamento durou seis semanas, este durou aproximadamente três semanas e os dias de audiência foram só treze, incluindo o dia de apresentação de alegações finais”, descreveu Borges Nhamirre ao nosso correspondente Orfeu Lisboa.ANG/RFI
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