Angola/Até 2050, 60% dos adultos vão ter excesso de
peso ou obesidade
Bissau, 12 Mar 25 (ANG) - Até 2050, se nada for feito, o excesso de peso e a obesidade vão afectar um em cada três adultos e uma criança ou adolescente em cada três.
Os dados constam de
um estudo publicado na revista The Lancet. Os autores consideram que a inacção
dos governos, ao longo dos últimos 30 anos, conduziu a um aumento alarmante do número
de pessoas afectadas. Sobre a questão da obesidade, traçamos neste magazine
Ciência, o panorama em Angola com o especialista em saúde pública Jeremias
Agostinho.
Até 2050, se nada for
feito, o excesso de peso e a obesidade vão afectar um em cada três adultos e
uma criança ou adolescente em cada três. Os dados constam de um estudo
publicado na revista The Lancet, que reúne dados de 204 países e territórios do
mundo.
Os autores consideram
que a inacção dos governos face à crescente crise da obesidade e do excesso de
peso ao longo dos últimos 30 anos conduziu a um aumento alarmante do número de
pessoas afectadas. Entre 1990 e 2021, o número quase triplicou entre os adultos
com mais de 25 anos, passando de 731 milhões para 2,11 mil milhões, e mais do
que duplicou entre crianças e adolescentes dos 5 aos 24 anos, passando de 198
para 493 milhões.
"Sem uma reforma
urgente das políticas e acções concretas, 60% dos adultos, ou seja, 3,8 mil
milhões de pessoas, e quase um terço (31%) das crianças e adolescentes, ou
seja, 746 milhões, deverão ter excesso de peso ou ser obesos até 2050",
alerta o documento.
Mais de metade dos
adultos com excesso de peso ou obesidade vive actualmente em apenas oito
países: China (402 milhões), Índia (180 milhões), Estados Unidos (172 milhões),
Brasil (88 milhões), Rússia (71 milhões), México (58 milhões), Indonésia (52
milhões) e Egipto (41 milhões). Os dados são de 2021.
Sobre a questão da
obesidade, traçamos neste magazine Ciência, o panorama em Angola com o especialista em saúde pública Jeremias
Agostinho.
“Aqui não temos dados concretos em relação à
obesidade, porque não é uma doença de notificação obrigatória. As instituições
de saúde não notificam os casos que identificam para a Direcção Nacional de
Saúde Pública. Então, não temos noção de qual é a situação no geral. Os dados
que temos são apenas de médicos que habitualmente lidam com a doença. Estamos a
falar especificamente, por exemplo, de diabéticos, muitos
diabéticos que são obesos também. Os endocrinologistas habitualmente dão os
seus dados, em torno de cerca de 10% dos pacientes. Estima-se que essa seja a
nossa taxa nacional. É só uma estimativa, porque não temos estudos que nos
mostrem qual é panorama do país.”
Entretanto, no
decorrer da entrevista, o médico contactou a coordenadora do programa do
Ministério da Saúde sobre as doenças crónicas não transmissíveis, que avança a
cifra de 20% a nível nacional e diz que, segundo a OMS, a taxa pode estar em
torno de 28% da população com obesidade. Todavia, Jeremias Agostinho relembra
que isso são dados, "são muito questionáveis, porque não tem uma abordagem nacional."
Os casos de obesidade
concentram-se mais nas “zonas urbanas, principalmente nas das grandes cidades como Luanda,
Huíla, Benguela e Huambo”. “A maior parte da população obesa é feminina”,
explica o especialista.
Questionado sobre as
razões da obesidade, Jeremias Agostinho é peremptório” deve-se, principalmente,
por causa do nosso estilo de vida”. O médico acrescenta que a população é
“sedentária” e o facto de não existirem locais para a prática de desporto ao ar
livre, nem segurança agrava a situação. Além disso, o médico alerta para a
elevada iliteracia alimentar: “Temos níveis de literacia em saúde muito baixos e
as pessoas não sabem da importância da variedade dos alimentos, de consumir
proteínas numa determinada quantidade, açúcares numa determinada quantidade. As
pessoas consomem o que é possível e isto tudo tem o seu impacto. E
infelizmente, na nossa sociedade, o indivíduo obeso ainda é visto como um
indivíduo saudável. Quando a pessoa aumenta de peso, habitualmente ouve sempre:
“a tua vida está a melhorar. Estás bem! Estás gordo, sim
senhor!”. É sinónimo de ostentação.”
Jeremias Agostinho
avança que num debate recente entre a classe médica sobre a obesidade, “nós éramos
unânimes em como, cá entre nós, não representa um problema de saúde pública.
Aqui, o problema é o contrário: a subnutrição."
"A subnutrição é um problema de saúde pública. Estamos a falar de aproximadamente 50 a 60% das crianças. E, infelizmente, a nossa população é maioritariamente jovem. Temos cerca de 70% da população com menos de 35 anos. E as crianças representam provavelmente cerca de 15%, a maior parte delas sofre de subnutrição. Então, hoje o problema que temos é de subnutrição”, conclui.ANG/RFI
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