Tanzânia/Médico denuncia retirada de doentes e corpos de hospital
A denúncia ocorre mais de um mês depois das eleições de 29 de outubro, consideradas fraudulentas pela oposição e observadores internacionais, que mergulharam o país em violência.
De acordo com o médico, que falou à AFP
sob anonimato, mais de 200 feridos em tratamento e "mais de 300
cadáveres" da morgue foram levados em "camiões verdes semelhantes a
veículos militares".
O clínico relatou
intimidação das forças de segurança, que confiscaram telefones para impedir
registos fotográficos ou vídeos.
"A violência
que presenciei fez-me considerar a possibilidade de abandonar este
emprego", disse.
A oposição e
ativistas de direitos humanos acusam o governo tanzaniano de ocultar a dimensão
da repressão, que terá causado mais de mil mortos.
Há relatos de valas
comuns e desaparecimento de corpos, confirmados por peritos da Organização das
Nações Unidas (ONU) e investigações independentes.
Os peritos da ONU
destacaram "relatos arrepiantes de corpos de vítimas a desaparecer de
morgues e argumentos de que restos mortais estão a ser cremados ou enterrados
em valas comuns não identificadas".
Na sexta-feira,
cerca de 15 embaixadas ocidentais apelaram às autoridades tanzanianas para que
devolvam os corpos às famílias.
O governo, que
cancelou as celebrações do Dia da Independência na terça-feira, insiste que a
violência foi "proporcional".
Vídeos verificados
pela AFP e pela plataforma de investigação Bellingcat mostram ainda dezenas de
corpos com ferimentos de bala em morgues na cidade de Dar es Salaam, apesar de
o Ministério da Saúde da Tanzânia negar.
A repressão
continua com detenções de opositores e acusações de traição, crime punível com
pena de morte.
Novas manifestações
estão previstas para terça-feira, apesar do clima de medo.
"Se se
submeter, morrerá. Se lutar, poderá morrer, mas pelo menos há esperança", disse
um jovem manifestante à AFP, em Nairobi (Quénia) sob anonimato.ANG/RFI

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