Nova Deli/Índia acolhe um G20
dividido, com Biden mas sem Xi nem Putin
Bissau, 07 Set 23 (ANG) – A Índia acolhe no
próximo fim-de-semana uma cimeira do G20 na qual o Presidente norte-americano,
Joe Biden, tentará beneficiar da ausência dos homólogos chinês e russo para
reforçar as suas alianças dentro do bloco fortemente dividido.
Na reunião de dois dias em Nova Deli, as fortes
divergências sobre a guerra na Ucrânia, a eliminação progressiva das energias
fósseis e a reestruturação de dívida deverão dominar os debates e,
provavelmente, impedir qualquer acordo do grupo, que agrega as 19 maiores
economias do mundo e a União Europeia (UE).
Joe Biden falará de “uma série de
iniciativas conjuntas para enfrentar os problemas globais“, nomeadamente as
alterações climáticas e “mitigar as consequências económicas e sociais da
guerra travada pela Rússia na Ucrânia”, declarou o conselheiro para a Segurança
Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.
O Presidente chinês, Xi Jinping, não
participará na cimeira, que decorre numa altura em que se exacerbam as tensões
comerciais e geopolíticas com os Estados Unidos e a Índia, com a qual a China partilha
uma longa fronteira de traçado contestado.
Beijing está também irritada com o facto de
a Índia ser membro do Quad (Diálogo de Segurança Quadrilateral), uma parceria
de segurança com a Austrália, o Japão e os Estados Unidos que a China vê como
uma iniciativa para combater a sua influência.
As autoridades chinesas não explicaram por
que razão Xi não participará na cimeira de 9 e 10 de Setembro, tendo-se
limitado a confirmar que o primeiro-ministro, Li Qiang, se juntará aos
dirigentes do G20, cujos países representam cerca de 85% da economia mundial e
das emissões de gases com efeito de estufa.
A ausência do Presidente chinês poderá
afectar os esforços de Washington para que o G20 continue a ser o principal
fórum de cooperação económica mundial.
Sem a participação da China, existe o risco
de haver questões que não vejam a luz do dia ou de não se chegar a uma
conclusão lógica”, considerou o professor de Ciência Política indiano Happymon
Jacob, da Universidade Jawaharlal Nehru.
Outra sombra que paira sobre a cimeira é a
guerra na Ucrânia, e o Presidente russo, Vladimir Putin, estará também ausente,
substituído pelo seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov.
Putin é desde Março alvo de um mandado de
captura do Tribunal Penal Internacional (TPI), que o acusa de crimes de guerra
pela deportação ilegal de crianças ucranianas. O Kremlin (presidência russa)
classificou tais acusações como “nulas e inválidas”.
Enquanto a Rússia não puser fim a esta
guerra, não será possível haver ‘business as usual’ (que as coisas decorram com
normalidade)”, considerou o porta-voz do Governo alemão, Wolfgang Buechner.
As crises globais com as quais o G20 se
confronta são “muito mais difíceis, mais complicadas e mais preocupantes do que
foram durante muito tempo”, sublinhou, por sua vez, o ministro dos Negócios
Estrangeiros indiano, S. Jaishankar.
A Índia, que acaba de consolidar o seu
estatuto de potência espacial, ao colocar uma nave espacial na Lua em Agosto,
vê na sua presidência do G20 um momento de viragem que fará definitivamente
dela um actor global de primeira ordem.
O primeiro-ministro, Narendra Modi,
apresenta a Índia como o autoproclamado líder do “Sul global”, que quer ser uma
ponte entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento e exerce
pressão para que o bloco seja alargado à União Africana, tornando-se o “G21”.
Modi está a tentar utilizar o G20 para reformar as instituições multilaterais,
tais como a ONU, e dar mais peso aos países em desenvolvimento.
A emergência da Índia enquanto a economia de
mais rápido crescimento do mundo e a sua abordagem inclusiva são boas notícias
para os países do Sul”, defendeu o antigo diplomata indiano Sujan Chinoy,
director do Instituto Manohar Parrikar de Estudos e Análises de Defesa.
Mas os esforços do dirigente indiano para
pressionar os homólogos do G20 a ultrapassarem as suas divergências e
solucionarem os problemas globais mais importantes foram vãos nas reuniões
ministeriais que precederam a cimeira.
Em Julho, os ministros da Energia do G20
não conseguiram chegar a acordo sobre um calendário para reduzir a utilização
de combustíveis fósseis. E nem sequer falaram sobre o carvão, um combustível
sujo que continua a ser uma fonte de energia essencial para a Índia e a China.
Estes dois países estão entre os maiores
poluidores do planeta, mas afirmam que os países ocidentais, que começaram a
poluir durante a Revolução Industrial, há dois séculos, devem assumir uma
responsabilidade histórica muito maior na actual crise climática.
Qualquer esperança de consenso no G20 sobre
a energia e o clima enfrenta também a resistência de países como a Arábia
Saudita e a Rússia, que temem que uma transição em direcção ao abandono dos
combustíveis fósseis fragilize as suas economias.
Dezenas de milhares de agentes de
segurança, incluindo franco-atiradores de elite posicionados nos telhados de
Nova Deli, forças especiais, tecnologia anti-‘drones’ (aeronaves
não-tripuladas), limusinas blindadas e “homens-macaco” recrutados para manter
afastados os macacos que proliferam na capital indiana são algumas das medidas
de segurança adoptadas pelas autoridades para acolherem a cimeira do G20.
Uma grande parte do centro da cidade foi
fechada ao trânsito e as lojas foram obrigadas a encerrar. Foi também declarado
feriado público, o que mergulhou no silêncio a habitualmente sobrelotada e
ruidosa megalópole ultra poluída de cerca de 30 milhões de habitantes.
Os bairros da lata ilegais foram
destruídos, os sem-abrigo que viviam debaixo das pontes e ao longo das ruas
foram transferidos para “albergues”, as fontes foram ligadas e os sinais de
trânsito desbotados há anos receberam uma nova camada de tinta.
Cerca de 70 mil vasos de flores foram
também distribuídos por toda a cidade. De acordo com o Times of Índia, foram
utilizados 35 camiões-cisterna para os regar.
Foram ainda erigidas várias estátuas ao deus hindu Shiva, incluindo uma com 8,5 metros de altura, colocada à entrada do local da cimeira: o Bharat Mandapam, um centro de conferências recentemente renovado, perto do memorial Raj Ghat a Mahatma Gandhi, onde se espera que os líderes do G20 plantem árvores. ANG/Angop
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