África do Sul/ "A grande questão é com quem o ANC irá fazer uma coligação", diz observador
Bissau, 03 Jun 24 (ANG) - O
Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) no poder desde os tempos
de Nelson Mandela (1994) está prestes a perder a maioria absoluta, pela
primeira vez em trinta anos.
Segundo os resultados
dos 98% votos já contabilizados pela Comissão Eleitoral, o ANC conta
apenas com 40% dos votos, seguido pela maior formação da oposição, os liberais
da Aliança Democrática (22%) e pelo MKP do ex-presidente Jacob Zuma
(15%).
Wilker Dias,
coordenador da plataforma DECIDE, que observa o desenrolar das eleições,
explica que os factores étnico e
geracional tiveram muito peso na hora de atribuir preferência a um
ou outro partido.
O factor rural e
urbano pesou para a escolha em alguns pontos, como é o caso de Gauteng (norte
do país), em que tivemos uma corrida um pouco renhida entre o ANC e a Aliança
Democrática (AD). Também nas zona do Western Cape, Limpopo e Malanga este
factor geracional, associado ao domínio do rural e do urbano, pesou muito para
que o ANC tivesse uma uma prestação um pouco maior.
Agora, noutros pontos
como o KwaZulu-Natal, foi mesmo a questão étnica que teve mais peso. É uma
região claramate dominada pela maioria Zulu, que constituiu uma grande parte do
povo sul-africano. Isto pesou para que o MK do Jacob Zuma (também ele da etnia
Zulu) pudesse também granjear maior simpatia. Ou seja, aqui há diversos
factores, não só o rural-urbano, mas o étnico e o geracional também.
Estas eleições
decorreram numa altura em que o país enfrenta uma série de desafios, nomeadamente
em termos de desemprego (que afecta uma em cada três pessoas em idade activa) e
de desigualdades sociais, não esquecendo a elevada taxa de criminalidade.
“As pessoas esperavam
estes resultados em que o ANC não alcançaria a maioria, por conta dos
últimos anos de governação. Os habitantes com quem falámos destacam a
questão do desemprego, a questão dos cortes de electricidade ou a falta de
condições básicas que o ANC não conseguiu promover.
A maior parte dos que
votaram no ANC são pessoas mais crescidas e que, na sua maioria, vivem de
pensões financeiras, neste caso concreto de reformas. A juventude
encontrou-se um pouco mais dividida, alguns desinteressaram-se pela política,
outros não tiberam o seu voto destinado ao ANC.
Neste momento, o que
se procura saber é com quem o ANC se vai coligar nos próximos tempos”, disse.
As clivagens no ANC
tiveram o seu peso nestes resultados eleitorais. Clivagens que, segundo o
analista, o ex-Presidente Jacob Zuma soube aproveitar, de certa forma.
“As clivagens no ANC
automáticamente pesaram nos resultados entre o Zuma e o Ramaphosa porque o
Zuma acabou puxando alguns do ANC para o seu lado, tal como fez com outros
partidos. Isto foi crucial para quebrar a hegemonia [do ANC].
O ANC foi o maior
perdedor nestas eleições. O próximo congresso do ANC sá será em 2027, se não me
engano, e até lá, se as coisas não melhorarem, será ainda mais o decréscimo do
ANC. De recordar também que em 2026 teremos eleições municipais”.
Depois de serem
anunciados os resultados finais, os 400 lugares de deputados serão repartidos.
A nova Assembleia deverá reunir-se durante o mês para eleger o próximo
Presidente.
O ANC, que detém
actualmente 230 lugares (57,5%), continua a ser a maior formação política. Mas,
despojado da sua posição de partido dominante, deverá iniciar negociações nos
próximos dias.
“Aí começará a
grande festa democrática na África do Sul, porque cada partido tem a sua
ideologia. O ANC é um partido conservador. A Aliança Democrática é um
partido liberal, tendência completamente diferente do ANC
O EFF, partido muito
mais radical, tem um factor em comum com o ANC, que é o espírito
pan-africanista. O EFF do Malema põe em cima da mesa temas como a usurpação das
terras, questões raciais, etc, factor que assusta os mercados.
O AD tem um espírito
mais capitalista. é um ponto de diferença entre os dois partidos, neste caso
entre o ANC e o AD.
O MK do
Zuma conseguiu ter os votos "de protesto", os indecisos, etc. Há
a questão étnica, para o grande número de Zulus que já não se viam representados
pelo ANC.
O próprio ANC vai ter
que a mão e assumir a grandeza do Jacob Zuma políticamente.
Vai ser um trabalho
muito difícil esta coligação”, destacou Dias..
Este, que é um "momento
histórico políticamente", segundo Wilker Dias, revela a independência
dos principais actores estatais do país, ainda segundo o analista, como a
Comissão de Eleições "que tem tido um papel extremamente exemplar". "Os
partidos políticos também tiveram um papel exemplar a nível regional e isso
tudo acaba sendo um factor histórico para a África do Sul porque essas
rivalidades, essas disputas pelo poder, acabam fazendo a democracia."
ANG/RFI
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