ONU/Mais de uma em cada quatro crianças vive em pobreza alimentar grave
Bissau, 06 Jun 24 (ANG) - Mais de uma em cada quatro crianças com menos de 5 anos vive em situação de "pobreza alimentar grave", alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Isto significa que mais
de 180 milhões de crianças correm o risco de sofrer consequências graves para a
saúde se não tiverem uma alimentação nutritiva e diversificada, de acordo com
um relatório da Unicef divulgado na quarta-feira à noite.
Um "número
chocante" de crianças "sobrevive com uma dieta muito pobre,
consumindo produtos de dois ou menos grupos alimentares", disse Harriet
Torlesse, uma das autoras do relatório, à agência de notícias France-Presse.
De acordo com as
recomendações da Unicef, as crianças pequenas devem consumir diariamente
alimentos de pelo menos cinco dos oito grupos alimentares (leite materno,
cereais, frutas e legumes ricos em vitamina A, carne ou peixe, ovos,
laticínios, leguminosas, outras frutas e legumes).
No entanto, 440 milhões
de crianças com menos de 5 anos (ou 66%), a viver em cerca de uma centena de
países de baixo e médio rendimento analisados, não têm acesso a estes cinco
grupos todos os dias, vivendo assim em situação de “pobreza alimentar”.
E destes, cerca de 181
milhões (27%) consomem, no máximo, alimentos de dois grupos.
Estas “crianças que
comem apenas dois grupos de alimentos por dia, por exemplo arroz e um pouco de
leite, têm 50% mais probabilidades de sofrer de formas graves de malnutrição”,
como definhamento e emaciação extrema, que pode levar à morte, alertou a
diretora da Unicef, Catherine Russell, em comunicado.
Estas crianças sobrevivem
e crescem, mas “não prosperam. Têm menos sucesso na escola e, quando adultas,
têm mais dificuldade em ganhar a vida, o que mantém um ciclo de pobreza de
geração em geração", explicou Torlesse.
“O cérebro, o coração e
o sistema imunitário, que são importantes para o desenvolvimento e a proteção
contra as doenças, dependem das vitaminas, dos minerais e das proteínas”,
insistiu a especialista em nutrição.
Esta grave pobreza
alimentar concentra-se em 20 países, com situações particularmente preocupantes
na Somália (63% das crianças com menos de 5 anos afetadas), na República da
Guiné (54%), na Guiné-Bissau (53%) e no Afeganistão (49%).
E, embora não existam
dados disponíveis para os países ricos, as crianças de agregados familiares
pobres enfrentam também estas carências nutricionais.
O relatório presta
especial atenção à situação na Faixa de Gaza, onde a ofensiva israelita
provocada pelo ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas
em 07 de outubro, levou ao “colapso dos sistemas alimentares e de saúde”.
A nível global,
constatando apenas “progressos lentos” nos últimos 10 anos na luta contra a
pobreza alimentar, o relatório defendeu a introdução de mecanismos de proteção
social e de ajuda humanitária para os mais vulneráveis.
Mas também uma transformação
do sistema agroalimentar, responsabilizando as bebidas com elevado teor de
açúcar e os pratos industriais ultraprocessados “comercializados de forma
agressiva junto das famílias e que se tornaram a norma para a alimentação das
crianças”.
Estes produtos são
frequentemente “baratos, mas também muito calóricos, muito salgados e gordos.
Suprimem a fome, mas não fornecem as vitaminas e os minerais de que as crianças
necessitam", sublinhou Harriet Torlesse.
ANG/Lusa
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