Suíça/Negociações
para tratado sobre plásticos bloqueadas: "Diálogo de surdos"
Bissau, 07 Ago 25 (ANG) - As negociações em Genebra para estabelecer o primeiro tratado mundial de combate à poluição plástica estão bloqueadas por países petrolíferos, que se recusam a aceitar qualquer restrição à produção de plástico virgem, segundo fontes ouvidas pela AFP.
"Estamos num diálogo de surdos, com muito
poucas pistas para chegar a um acordo" ou fazer progressos nas
negociações, disse uma fonte diplomática de um país da chamada "coligação
ambiciosa", que deseja impor no texto objetivos de redução da produção.
Do outro lado, um grupo de países essencialmente petrolíferos
opõe-se firmemente a tal.
Este projeto de tratado "juridicamente vinculativo"
destina-se a permitir a regulação a nível mundial da produção, do consumo e do
fim de vida do plástico, numa altura em que, todos os anos, 22 milhões de
toneladas de resíduos plásticos são lançados no ambiente, envenenando os solos,
os oceanos e a biodiversidade, e penetrando até nos tecidos humanos.
Cerca de 184 dos 193 países da ONU participam nesta nova ronda
de negociações, decidida após o fracasso da última sessão no final de 2024 em
Busan, na Coreia do Sul.
"As posições estão a cristalizar-se", confirmou à AFP
outra fonte, observador da sociedade civil que assistiu a várias sessões de
negociação à porta fechada.
Os documentos apresentados pelas delegações mostram que a Arábia
Saudita, os países árabes, a Rússia e o Irão, que dizem "partilhar as
mesmas ideias" num grupo denominado "like minded", recusam
qualquer medida vinculativa sobre a produção.
Uma posição que é defendida com veemência desde Busan. Estes
países desejam que o tratado não abranja a origem petrolífera do plástico, para
se concentrar apenas na fase a jusante, quando se torna resíduo (financiamento
da recolha, triagem e reciclagem, nomeadamente, nos países em desenvolvimento),
enquanto a resolução inicial para começar as negociações incide sobre
"todo o ciclo de vida" do plástico.
Se o texto deve refletir apenas uma ajuda aos países em
desenvolvimento para que eles gerenciem melhor seus resíduos, "não
precisamos de um tratado internacional para fazer isso", avaliou uma fonte
diplomática, acrescentando: "estamos num impasse com países dispostos a
não ter nenhum tratado".
Também não há consenso sobre outro ponto delicado, o artigo 3.º
do futuro tratado: o estabelecimento de uma lista de substâncias químicas
consideradas potencialmente perigosas para o ambiente ou a saúde humana:
aditivos, corantes, poluentes ditos "eternos" (PFAS), ou ftalatos, à
qual os industriais da química também declararam a sua oposição.
"Alguns não querem nenhuma lista, ou então que cada país
possa fazer a sua própria lista de produtos perigosos, o que já pode ser feito
sem necessidade de um tratado internacional", observou a mesma fonte, que
se disse surpreendida "com a falta de abertura da China".
A China é o maior produtor mundial de plástico, fabricando
sozinha 34% dos quatro polímeros mais comuns. Sete países, liderados pela
China, Estados Unidos e Arábia Saudita, produziram dois terços (66%) dos quatro
tipos de plásticos mais comuns no mundo: polietileno (PE), polipropileno (PP),
tereftalato de polietileno (PET), das garrafas de água, e poliestireno (PS).
Depois dos 34% da produção da China seguem-se os 13% dos Estados
Unidos e Arábia Saudita. O único país europeu no ranking dos dez principais
produtores, a Alemanha, produz 2% desses quatro plásticos.ANG/Lusa

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