FMI/Encontros/ “Não
há uma varinha mágica para acabar com a dívida”, diz presidente do Banco Mundial
Bissau,
11 Out 23 (ANG) – O presidente do Banco Mundial considerou hoje que “não há uma
varinha mágica para acabar com a dívida” e alertou que é preciso ter cuidado
com os novos instrumentos em desenvolvimento para lidar com o crescimento do
endividamento.
“Não
há uma varinha mágica para acabar com a dívida, não me parece que seja possível
acabar de repente com a dívida dos países”, disse Ajay Banga na conferência de
imprensa de lançamento oficial dos Encontros Anuais do Fundo Monetário
Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que decorrem esta semana em Marraquexe.
Questionado
sobre as hipóteses em cima da mesa para um novo mecanismo de resolução da
dívida excessiva que muitos países enfrentam num contexto de recuperação dos
efeitos da pandemia, altas taxas de juro, inflação elevada e crescimento
económico mais baixo, Ajay Banga salientou que “é preciso ter muito cuidado
sobre os contornos de um novo mecanismo”, que substitua o atual Enquadramento
Comum organizado pelo FMI, Banco Mundial e o chamado Clube de Paris, uma
organização informal de países doadores que detém uma boa parte da dívida dos
países mais endividados.
“Não
há dúvida de que a dívida prejudica o crescimento, seja medido em termos de
desenvolvimento local, seja em termos de obtenção dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável”, vincou o presidente do Banco Mundial na sua
primeira participação nos Encontros Anuais, depois da sua eleição em meados
deste ano.
Os
países em desenvolvimento, em particular os africanos, têm enfrentado um
aumento da dívida externa não só pela desvalorização das suas moedas, mas
também pela subida das taxas de juro decididas pelos principais bancos
centrais, nomeadamente a Reserva Federal dos Estados Unidos, o que colocou as
finanças públicas sob maior pressão relativamente à capacidade de financiar os
investimentos necessários para desenvolver as economias.
A
Zâmbia, o primeiro país africano a entrar em Incumprimento Financeiro no
seguimento da pandemia, logo em 2021, aderiu ao Enquadramento Comum para
reestruturar a sua dívida, devendo assinar em breve o acordo final com os
credores, mais de dois anos depois do início do processo que implicou a descida
do rating e o afastamento dos mercados financeiros internacionais.
“A
Zâmbia está a sair da situação de endividamento excessivo, o Gana está a fazer
progressos, mas o que é preciso perceber é que o mercado financeiro está
completamente diferente do que era, com o Clube de Paris a deixar de ser o
maior dos credores, há outros membros e há muita dívida comercial que está
protegida por cláusulas de confidencialidade que tornam o processo mais
complicado”, disse o líder do Banco Mundial, vincando que “sem conhecer os
números, nenhum novo enquadramento vai conseguir resolver a situação”.
Os
quatro países africanos que aderiram ou mostraram interesse em usar o
Enquadramento Comum para reestruturar as suas dívidas – Zâmbia, Chade, Etiópia
e Gana – receberam mais de 12 mil milhões de dólares nos últimos três anos,
dividido a meio entre doações e financiamento concessional, ou seja, com taxas
de juro próximas de zero, acrescentou Ajay Banga, quando questionado sobre o
tipo de apoio que o Banco Mundial pode dar a estes países.
Na
conferência de imprensa, o responsável lembrou ainda que o FMI e o Banco
Mundial estão a liderar as reuniões da Mesa Redonda sobre a Dívida Soberana,
uma iniciativa que visa juntar os credores bilaterais e institucionais, além
dos credores comerciais, que têm mostrado resistência à reestruturação da
dívida dos países, já que implicam perdas para os investidores.
A
dívida externa da Zâmbia, um país que tem um Produto Interno Bruto (PIB) de 22
mil milhões de dólares (20,1 mil milhões de euros), está estimada em 17,3 mil
milhões de dólares (15,8 mil milhões de euros).
A
Zâmbia, um dos principais produtores de cobre do mundo, entrou em incumprimento
da sua dívida externa no início da pandemia de covid-19, sendo o primeiro país
africano a falhar pagamentos de dívida e assim entrar em ‘default’, o que lhe
valeu uma revisão em baixa por parte das agências de notação financeira,
acarretando maior dificuldade em conseguir financiamento.
O
país recorreu ao mecanismo do Enquadramento Comum criado pelo G20 para
reestruturar a dívida dos países mais pobres do mundo, na esperança de um
acordo entre os seus credores, mas até agora sem acordo final.
O Enquadramento
Comum para o tratamento da dívida foi o mecanismo acordado no seguimento da
Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), um acordo lançado pelos
principais credores oficiais para diferir os pagamentos do serviço da dívida e
assim dar espaço de manobra para os países mais fragilizados conseguirem lidar
com o aumento de despesas originado pela pandemia de covid-19.
ANG/Inforpress/Lusa
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