Médio Oriente/"É necessário um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, diz professora universitária
Bissau, 18 Out 23 (ANG) - Há 10 dias que a escalada de violência
entre Israel e a Palestina está a colocar novamente o foco da atenção da
comunidade internacional no Médio Oriente, com mais de quatro mil mortos nos dois
lados do conflito e uma ofensiva militar israelita a decorrer no Norte da Faixa
de Gaza.
O conflito está agora a alastrar-se também ao Líbano e ao Irão,
com Joe Biden, Presidente norte-americano, a visitar Israel e a Jordânia já
amanhã para tentar encontrar uma solução para esta guerra.
Giulia Daniele, Professora Auxiliar Convidada do ISCTE, em Portugal,
que acompanha este conflito no terreno desde 2005, considera que é imperativa a
intervenção da comunidade internacional para assegurar um cessar fogo e a
passagem da ajuda humanitária enviada pelas Nações Unidas e actualmente
bloqueada às portas da Faixa de Gaza.
"É necessário por parte da comunidade internacional um
cessar-fogo imediato e outra coisa ainda mais importante para os civis
palestinianos é a entrada da ajuda humanitária que neste momento está à espera
em Rafa para entrar na Faixa de Gaza e ajudar com medicamentos, comida e tudo
que é necessário para a vida das pessoas. Tem de entrar imediatamente",
defendeu a investigadora.
Para Giulia Daniele esta actual escalada de violência é
"uma continuação" do que se vive na região há várias décadas.
"Estamos numa continuação do que está a acontecer há 75
anos. Isto é uma escala de violência, tensão e morte, mas faz parte de um
processo de violação dos direitos humanos e de limpeza étnica que decorre há 75
anos. As imagens destes últimos dias lembram muito o que aconteceu 1948 e 1949
durante a Nakba [o êxodo forçado dos palestinianos após a criação do
estado de Israel], logo após a criação do Estado de Israel quando dezenas de
milhares pessoas foram forçados a deixar as suas casas e terras e isso continua
a acontecer agora do Norte para o Sul da Faixa de Gaza", declarou.
Joe Biden visita amanhã Israel e a Jordânia para tentar
encontrar uma solução para a escalada de violência no Médio Oriente que dura há
10 dias, depois de ter dito que Israel tinha todo o direito de se defender.
Para Giulia Daniele, Professora Auxiliar Convidada do ISCTE, em Portugal, esta
visita vai servir para o Presidente norte-americano apaziguar as críticas a
nível interno.
"Biden apoiou completamente Israel, falou do direito de
defesa de Israel, continua a apoiar, mas começa a perceber que o que está a
acontecer pode ser muito grave a nível internacional, mas também dentro do
debate do partido Democrata e este ano temos eleições nos Estados Unidos em
2024, então a relação entre política nacional e política interna é algo que
temos de ter em conta", analisou.
Com Israel a bombardear o Líbano e o Irão a alertar para uma
possível “acção preventiva” contra Israel nas próximas horas, este é um
conflito que se estende a todo o Médio Oriente.
"Este conflito não tem só como foco a Faixa de Gaza, também
a Cisjordânia está a explodir, há muitos mortos e detidos, especialmente jovens
palestinianos. Também o Líbano e o Irão vão ser actores importantes, com o
Líbano a responder aos ataques israelitas e com o Irão a já ter dito muitas
vezes que com uma possível invasão terrestre da Faixa de Gaza vai agir contra
Israel", indicou a professora universitária.
Quanto aos consecutivos ataques terroristas a que se tem
assistido nos últimos dias no Estados Unidos, onde um menino muçulmano de seis
anos foi morto, em França, onde um professor foi morto, ou na Bélgica onde dois
adeptos suecos foram mortos, Giulia Daniele alerta que se trata de
fenómenos diferentes.
"É preciso ter muito cuidado porque estamos a falar de
fenómenos diferentes, estamos a falar de uma reacção nacional quando falamos do
que aconteceu em França, na Bélgica e nos Estados Unidos, mas quando falamos do
Hamas falamos de tentar continuar uma luta que pode ser violenta para combater
a ocupação militar de Israel", concluiu. ANG/RFI
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