Moçambique/Total acusada de “homicídio involuntário” e “não assistência a pessoa em perigo” no ataque a Palma
Bissau, 11 Out 23 (ANG) - Uma
queixa-crime em França foi apresentada segunda-feira contra a TotalEnergies por
“homicídio involuntário” e “não assistência a pessoa em perigo”, aquando do
ataque a Palma, em Moçambique.
Mais de 1.400 pessoas morreram
ou desapareceram neste ataque.
Um grupo de sete queixosos, sul-africanos e
britânicos, entre eles três sobreviventes do ataque e quatro familiares das
vítimas, acusam a multinacional francesa de “homicídio involuntário” e “não
assistência a pessoa em perigo” aquando do ataque jihadista a Palma. Diz a
acusação que o grupo francês e a filial moçambicana Total E & P Mozambique,
falharam no seu dever de proteção dos subcontratados do megaprojeto de gás
natural liquefeito e, depois do início do ataque, de salvamento das pessoas em
perigo de morte imediata.
A denúncia baseia-se principalmente na
investigação do jornalista Alex Perry, que ao longo de 15 meses se debruçou
sobre o que aconteceu em Palma, concluindo que os dados fornecidos pelo Governo
moçambicano sobre o sucedido não correspondiam à realidade, uma vez que morreram
cerca de 1357 pessoas entre civis e trabalhadores das empresas subcontratadas
pela TotalEnergies. Na altura, o Governo falava em dezenas de mortos.
A queixa agora apresentada, refere-se
igualmente ao estudo feito pela organização Uprights, encomendado pela Amigos
da Terra Moçambique, França e Europa, que identificou graves deficiências nas
avaliações do impacto da Total sobre os direitos humanos. O relatório salienta
o facto da empresa francesa não ter levado em conta o conflito armado e não ter
abordado o impacto das suas operações nos direitos humanos.
A 24 de Março de 2021, o grupo terrorista
Al-Chabab, espalhou o terror na província de Cabo Delgado, onde o projeto da
Total está localizado, na península de Afungi, a 10 km da cidade portuária de
Palma.
Diz a acusação que, perante a ameaça
jihadista, a TotalEnergies empenhou-se em reforçar a segurança do local para
criar um "amplo perímetro" de segurança em torno de Afungi e
mobilizar militares das Forças Armadas moçambicanas para o local. Aquando do
ataque, o grupo francês focou-se na retirada do seu pessoal, deixando os
subcontratados à mercê dos jihadistas.
Os queixosos denunciam que "não foi
definido nenhum plano de evacuação para eles" e que a TotalEnergies não
interveio para ajudar aqueles que ficaram encurralados, dando o exemplo do
hotel Amarula, de onde a empresa de segurança privada sul-africana Dyck
Advisory Group (DAG), mandatada pela forças de segurança de Moçambique, tentou
organizar missões de salvamento e resgate por helicóptero. Todavia faltou-lhe
combustível e, citado na acusação, o patrão da DAG, Lyonel Dyck, sublinha que a
Total “recusou fornecer combustível, sublinhando que não poderia apoiar um
grupo de segurança armado”.
Citada pelo jornal francês Le Monde, em resposta, a Total Energies fala em “informações incorretas”, garantindo ter “aplicado os protocolos de segurança”, nomeadamente para a “retirada de numerosos civis e fornecimento de ajuda urgente aos civis que se refugiaram à entrada das suas instalações”. ANG/RFI
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