Moscovo/Vladimir Putin visita China à procura de apoio económico e diplomático
Bissau,
16 Out 23 (ANG) - O Presidente russo, Vladimir Putin, deve reunir esta semana
com os líderes chineses em Beijing, numa visita que sublinha o apoio económico
e diplomático da China a Moscovo, sob crescente isolamento, devido à invasão da
Ucrânia.
A
visita de Putin constitui também uma demonstração de apoio à Iniciativa Faixa e
Rota, um gigantesco projeto internacional de infraestruturas que se tornou no
principal programa da política externa de Beijing.
A
China considera a parceria com a Rússia fundamental para contrapor a ordem
democrática liberal, numa altura em que a sua relação com os Estados Unidos
atravessa também um período de grande tensão, marcada por disputas em torno do
comércio e tecnologia ou diferendos em questões de Direitos Humanos, o estatuto
de Hong Kong ou Taiwan e a soberania dos mares do Sul e do Leste da China.
O
líder russo é um dos convidados mais importantes a participar no fórum que
assinala o 10.º aniversário da iniciativa "Faixa e Rota", ao abrigo
da qual as empresas chinesas construíram portos, estradas, linhas ferroviárias,
centrais eléctricas e outras infraestruturas em todo o mundo, financiadas por
bancos de desenvolvimento chineses. O programa cimentou o estatuto da China
como líder e credora entre os países em desenvolvimento.
O
programa da visita de Putin não foi confirmado, mas as autoridades chinesas
sugeriram que o líder russo chega hoje a Pequim.
Questionado
pelos jornalistas na sexta-feira sobre a visita à China, Putin disse que vai
conversar com os líderes chineses sobre projetos relacionados com a Faixa e
Rota, que Moscovo pretende associar aos esforços empreendidos por uma aliança
económica entre nações da antiga União Soviética, maioritariamente localizadas
na Ásia Central, para "alcançar objetivos de desenvolvimento comum".
Putin
também minimizou o impacto da influência económica da China numa região que a
Rússia há muito considera como a sua área natural de influência e onde tem
trabalhado para manter a hegemonia política e militar.
"Não
temos contradições, pelo contrário, existe uma certa sinergia", afirmou o
líder russo.
Putin
referiu que ele e Xi também vão abordar os crescentes laços económicos e
financeiros entre Moscovo e Pequim.
"Um
dos principais domínios são as relações financeiras e a criação de novos
incentivos para fazer pagamentos em moeda nacional", disse Putin. "O
volume está a crescer rapidamente, há boas perspectivas nas áreas da alta
tecnologia e no sector da energia", contou.
Alexander
Gabuev, diretor do Centro Carnegie Rússia - Eurásia, afirmou que, do ponto de
vista da China, a Rússia é um "país vizinho seguro e amigável e uma fonte
de matérias-primas baratas, que apoia as iniciativas chinesas na cena
internacional e que é também fonte de tecnologia militar, alguma da qual a
China não possui".
"Para
a Rússia, a China é a tábua de salvação económica na sua repressão brutal
contra a Ucrânia", disse Gabuev, citado pela agência de notícias
Associated Press.
"É
o principal mercado para as matérias-primas russas, é um país que fornece a sua
moeda e sistema de pagamento para regular o comércio da Rússia com o mundo
exterior - com a própria China, mas também com muitos outros países, e é também
a principal fonte de importações tecnológicas sofisticadas, incluindo bens de
dupla utilização que entram na máquina militar russa", descreveu.
Gabuev
afirmou que, embora seja improvável que Moscovo e Pequim forjem uma aliança
militar formal, a sua cooperação em matéria de defesa vai aumentar.
"Não
espero que a Rússia e a China criem uma aliança militar", disse.
"Ambos os países são autossuficientes em termos de segurança e beneficiam
de parcerias, mas nenhum deles exige realmente uma garantia de segurança do
outro. Ambos pregam a autonomia estratégica", lembrou.
"Mas
vai haver uma cooperação militar mais estreita, mais interoperabilidade, mais
cooperação na projeção de forças em conjunto, incluindo em locais como o
Ártico, e mais esforços conjuntos para desenvolver uma defesa antimíssil que
torne o planeamento nuclear dos Estados Unidos e dos seus aliados na Ásia e na
Europa mais complicado", acrescentou.
China
e a antiga União Soviética foram rivais durante a Guerra Fria, disputando entre
si influência entre os Estados comunistas. Desde então, estabeleceram parcerias
nas esferas económica, militar e diplomática.
Poucas
semanas antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, Putin e Xi declararam, em
Pequim, uma amizade "sem limites".
As
tentativas de Pequim de se apresentar como mediador de paz neutro na guerra
foram amplamente rejeitadas pela comunidade internacional.
A
China condenou as sanções internacionais impostas à Rússia, mas não abordou
diretamente o mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional
contra Putin, acusado de envolvimento no rapto de milhares de crianças na
Ucrânia. ANG/Angop
Sem comentários:
Enviar um comentário