Economia/Exportação de peixe da Guiné-Bissau vale mais que as vendas de castanha de caju
Bissau, 10 Jul 25 (ANG) – O Fundo Monetário Internacional afirmou que as exportação de peixe da Guiné-Bissau estão significativamente sub-representadas, valendo mais do que as vendas de caju, e influenciando decisivamente indicadores como o PIB e a dívida.
Na análise ao setor pesqueiro e às implicações para os
indicadores macroeconómicos da Guiné-Bissau, os economistas do FMI apontam que
“a produção pesqueira industrial é significativa” no país.
Detalhou que “o volume das capturas na Zona Económica
Exclusiva atingiu cerca de 167 mil toneladas por ano nos últimos cinco anos”,
no seguimento da reativação do acordo de pesca com a União Europeia, em 2014.
“O domínio acentuado das exportações
de caju, como é comummente percecionado, não representa adequadamente a
verdadeira situação da diversificação económica na Guiné-Bissau”, lê-se numa
nota técnica de enquadramento para o mais recente relatório de análise do país,
datado deste mês, assinada pelos economistas Nour Bouzouita, Yugo Koshima e
Babacar Sarr.
Na análise ao setor pesqueiro e às
implicações para os indicadores macroeconómicos da Guiné-Bissau, os economistas
do FMI apontam que “a produção pesqueira industrial é significativa” neste país
lusófono africano e detalha que “o volume das capturas na Zona Económica
Exclusiva atingiu cerca de 167 mil toneladas por ano nos últimos cinco anos”,
no seguimento da reativação do acordo de pesca com a União Europeia, em 2014.
“Utilizando os preços de desembarque
do peixe nos portos portugueses obtidos pelo EUROSTAT, estima-se que o valor
das capturas seja de 310 milhões de euros por ano, em média, nos últimos cinco
anos, muito superior ao valor das exportações de caju, que ascendeu a 201
milhões de euros por ano no mesmo período”, acrescenta o FMI.
Contrariando a perceção geral de que o
caju é o principal motor do crescimento económico da Guiné-Bissau, a análise do
FMI mostra que “se todas as capturas dos barcos de pesca industrial fossem
registadas como exportações oficiais da Guiné-Bissau, teriam acrescentado 20,8%
ao PIB por ano, em média, nos últimos cinco anos, mais do que as exportações de
castanha de caju, que representaram 13,4% do PIB”.
Isto, salientam, “alteraria
drasticamente o panorama dos principais indicadores macroeconómicos”, como o
saldo da balança corrente, que passaria a apresentar um excedente significativo
em todos esses anos.
Em 2022, por exemplo, o PIB nominal
seria reajustado em 20%, o que, por seu turno, reduziria o rácio da dívida
pública de 80,7% para 67,1% do PIB nesse ano, com potenciais implicações
significativas nas escolhas dos investidores internacionais.
Na nota técnica, os analistas do
departamento africano do FMI explicam que a exportação de peixe da Guiné-Bissau
está “severamente sub-representada” por falta de atribuição da origem do peixe.
“Os relatórios das contrapartes [dos
países que compram o peixe pescado nas águas da Guiné-Bissau] incluem um volume
significativo de importações de peixe da Guiné-Bissau, que não são registadas
nos dados oficiais de exportação das autoridades; se as exportações de peixe
fossem incluídas, a quota-parte do caju ficaria limitada a 65% do total das
exportações”, lê-se no artigo citado pela Lusa.
As exportações de peixe da
Guiné-Bissau seriam “pelo menos o dobro das registadas nos dados oficiais se as
exportações das capturas dos barcos de pesca industrial fossem formalizadas na
Guiné-Bissau”, ao invés de serem contabilizadas “noutros países da região, de
onde o peixe guineense é enviado para os destinos finais na Europa e na Ásia”.
O FMI afirma também que vários países
‘escondem’ a verdadeira origem do pescado por a Guiné-Bissau não ter a
certificação da União Europeia relativa a pesca ilegal, não declarada e não
regulamentada (IUU), o que fez com que em 2023 mais de 85% das capturas não
estejam nos relatórios dos países compradores, “tornando-se invisíveis nos
dados do comércio internacional”.
O peixe da Guiné-Bissau “ainda não
obteve a certificação de qualidade necessária para exportar para a UE, o que
suscita sérias preocupações em matéria de IUU se um país terceiro importar
peixe da Guiné-Bissau e o reexportar para a UE, sendo suscetível de motivar
os compradores dos países terceiros a não declarar as importações de peixe da
Guiné-Bissau, ocultando a sua origem”, alerta o FMI. ANG/Lusa

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