França/Lecornu tenta convencer partidos da oposição a não recorrerem à censura
Bissau, 03 Out 25 (ANG) - O primeiro-ministro
francês, Sébastien Lecornu, comprometeu-se hoje a não utilizar um artigo da
Constituição que permite aprovar leis sem o voto dos deputados, para evitar uma
moção de censura nos futuros debates parlamentares sobre o orçamento.
"Renunciar ao artigo 49.3",
texto que tem sido utilizado para aprovar todos os orçamentos desde a reeleição
do Presidente Emmanuel Macron em 2022, "não nos deve fazer renunciar ao
facto de que a França tenha um orçamento até 31 de dezembro", afirmou o
primeiro-ministro macronista, que deverá apresentar "nos próximos
dias" o seu governo.
O terceiro chefe de Governo desde junho de 2024, e o quinto desde a reeleição de Macron em 2022, prometeu reduzir a dívida pública, que pesa nas finanças do país, representando 114% do Produto Interno Bruto.
Ao mesmo tempo, Lecornu pretende fazer "rupturas de fundo" em
matéria orçamental, com o objetivo de dar garantias às oposições, que ameaçam
com uma moção de censura na Assembleia Nacional, onde o governo está em
minoria, à semelhança do que aconteceu em dezembro pelo executivo de Michel
Barnier.
"Uma vez que o Governo já não pode interromper os debates, não há mais
qualquer pretexto para que esses debates (parlamentares) não comecem já na
próxima semana", afirmou Lecornu, que deverá proferir o seu discurso de política
geral na segunda ou terça-feira na Assembleia Nacional.
Depois de ter sugerido, na quinta-feira, à margem de mais um dia de
mobilização sindical, algumas pistas sobre os salários e a reforma das
mulheres, Lecornu propôs hoje um "imposto sobre o património
financeiro", em alternativa à "taxa Zucman" sobre os grandes
patrimónios, apesar de este último ser reivindicado pela esquerda.
Lecornu, que tem mantido conversações desde a sua nomeação em 09 de
setembro, reuniu-se hoje com o partido de extrema-direita União Nacional (RN),
que detém o maior grupo parlamentar, e com o Partido Socialista.
Renunciar ao artigo 49.3 é "mais respeitador da democracia",
afirmou a líder do RN, Marine Le Pen, à saída do seu encontro com o
primeiro-ministro, garantindo que esperará pelo discurso de política geral
antes de decidir se vota a favor de uma moção de censura.
O Partido Socialista francês, insatisfeito com as propostas apresentadas
pelo primeiro-ministro relativamente ao orçamento para 2026, anunciou que
votará a favor de uma moção de censura caso não haja uma retificação no
discurso de política geral que o chefe do Governo.
"Não estamos satisfeitos, mantemos as nossas exigências (...)
Damos-lhe mais algumas horas para que reflita sobre elas e nos responda no
discurso de política geral", afirmou o líder socialista, Olivier Faure, à
saída duma reunião com Lecornu que durou mais de duas horas.
Olivier Faure considerou que houve uma "verdadeira evolução" com
o abandono do artigo 49.3 para aprovar o orçamento de 2026, mas sublinhou que
"isso não é suficiente".
O líder socialista exigiu ainda que sejam debatidas e votadas outras leis,
como a muito contestada reforma das pensões aprovada em 2023, precisamente com
recurso ao artigo 49.3, que aumentou para 64 anos a idade mínima da reforma.
Já do lado da esquerda radical, o partido França Insubmissa (LFI) mantém a
intenção de apresentar uma moção de censura "logo após a nomeação" do
Governo de Sébastien Lecornu, avisou o coordenador nacional, Manuel Bompard, na
rede social X.
Também o líder da direita moderada e atual ministro do Interior em funções,
Bruno Retailleau, expressou críticas, alertando que se forem feitas concessões
a todos os partidos, o orçamento poderá pôr em causa o objetivo de reduzir o
défice do país.ANG/Lusa

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