Afeganistão/Imprensa vive grave crise após um ano de talibãs no poder
“Os
movimentos dos talibãs para reprimir os meios de comunicação estão a ter um
impacto devastador. As medidas particularmente restritivas contra as
jornalistas equivalem a uma tentativa de apagar as mulheres da vida pública”,
disse num comunicado a presidente da CPJ, Jodie Ginsberg.
O
relatório da CPJ baseia-se em entrevistas a profissionais e documenta também
casos de ataques e restrições impostas aos meios de comunicação social desde
que, em Agosto do ano passado, os talibãs recuperaram o poder no Afeganistão.
Segundo
a CPJ, desde então, o número de órgãos de comunicação sofreu uma redução
significativa e o número de mulheres jornalistas caiu a pique.
O
documento indica que a situação se deve tanto às políticas dos talibãs, como à
profunda crise económica que se vive no país, cujo novo regime a maior parte da
comunidade internacional não reconheceu.
Ao
mesmo tempo, a CPJ destaca o compromisso que demonstram ter com a profissão
muitos jornalistas, tanto os que permaneceram no país como os muitos que estão
no exílio, e pede mais apoio internacional para eles.
“Os
talibãs devem sofrer uma pressão internacional significativa, para mudarem de
rumo e pararem de atacar a imprensa livre”, sustentou Ginsberg.
Segundo
outro relatório publicado esta semana, pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF),
o Afeganistão perdeu cerca de 60% dos seus jornalistas desde a queda de Cabul
nas mãos dos talibãs – tendo as mulheres sido as profissionais mais afectadas –
e quase 40% dos seus meios de comunicação social.
Segundo
o estudo da RSF, sediada em Paris, o Afeganistão perdeu no último ano 39,95%
dos seus órgãos de comunicação social e 59,86% dos seus jornalistas.
Três
quartos das mulheres jornalistas estão agora no desemprego, num contexto de
profunda crise económica e de repressão da liberdade de imprensa, indicou a
organização.
“Dos
11.857 jornalistas contabilizados antes de 15 de Agosto de 2021, agora só há
4.759. As mulheres são as mais afectadas: 76,19% perderam o emprego”, precisou
a RSF no documento.
O
secretário-geral da organização, Christophe Deloire, lamentou num comunicado
que o jornalismo tenha sido dizimado no Afeganistão e os meios de comunicação
social submetidos a regulamentação “que restringe a liberdade de imprensa e
abre caminho à repressão e à perseguição”.
“As
autoridades devem comprometer-se a pôr fim à violência e ao assédio aos
trabalhadores nos meios de comunicação e devem permitir-lhes fazer o seu
trabalho sem serem importunados”, acrescentou.
A
“carnificina” infligida ao jornalismo afegão foi particularmente forte no caso
das mulheres: elas desapareceram completamente em 11 das 34 províncias do país,
referiu a RSF.
“Das
2.756 mulheres jornalistas e trabalhadoras nos meios de comunicação social
antes de 15 de Agosto [do ano passado], só 656 continuam a trabalhar. Dessas,
cerca de 84,6% trabalham na região de Cabul”, precisa a ONG no documento.
A RSF
recolheu o testemunho de várias jornalistas refugiadas em países vizinhos, mas
também o de Meena Habub, directora da Rouidad News, uma agência de notícias que
criou após o regresso ao poder no país dos talibãs.
“Preferi ficar no meu país para continuar a dar notícias e a defender o que as mulheres conquistaram nos últimos 20 anos. As condições de vida e de trabalho das mulheres jornalistas no Afeganistão sempre foram difíceis, mas a situação actual não tem precedentes”, lamentou Habub. ANG/Inforpress/Lusa
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