Mais de 300 militares
desertaram
Bissau, 27 fev 19 (ANG) – Um total de 326 elementos das forças
armadas e de segurança da Venezuela desertaram e pediram refúgio na Colômbia
desde sábado, segundo um novo balanço dos serviços de migração colombianos.
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Nicolas Maduro |
No domingo, a mesma fonte dava conta de cerca de 100 deserções.
Estas deserções acontecem em pleno clima de tensão na fronteira
entre os dois países.
Para travar a entrada da ajuda humanitária internacional em
território venezuelano, especialmente os bens provenientes dos Estados Unidos,
o Presidente Nicolás Maduro decidiu, no sábado, encerrar parcialmente a
fronteira com a Colômbia.
A maioria dos militares e dos polícias atravessou a fronteira no
departamento Norte de Santander, onde fica localizada a cidade de Cúcuta.
Alguns cruzaram a fronteira em Arauca (sul) e em Guajira (nordeste), precisaram
os serviços de migração colombianos.
O director dos serviços de migração colombianos, Christian
Krüger, afirmou que estes elementos das forças armadas e de segurança da
Venezuela fugiram da “ditadura” do Presidente Nicolás Maduro.
Christian Krüger salientou que estes militares atravessaram a
fronteira para procurar melhores condições de vida, nomeadamente para ter
acesso a alimentos, mas também por causa da “pressão exercida pelos
colectivos”, denominação por que são conhecidos os grupos de civis armados
afectos ao regime de Maduro.
O representante colombiano relatou que alguns destes desertores
entram na Colômbia com as respectivas armas e com os respectivos uniformes, mas
também envergando roupas civis e acompanhados pelas famílias.
Desde sábado passado, a agência noticiosa francesa France Presse
(AFP) relatou que testemunhou a chegada a Cúcuta de pelo menos 20 desertores,
nenhum deles armados ou de altas patentes militares.
Christian Krüger explicou que os serviços de migração
colombianos analisaram os antecedentes de cada desertor, cujas identidades e
patentes não foram divulgadas.
A estes militares, as autoridades colombianas atribuíram
salvo-condutos temporários.
O opositor Juan Guaidó, reconhecido por cerca de 50 países como
Presidente interino da Venezuela, prometeu uma amnistia aos militares e
polícias que rompessem com o governo de Nicolás Maduro, que tem nas forças
armadas e de segurança um importante pilar.
O relato das primeiras deserções surgiu no sábado passado, dia
que tinha sido determinado por Guaidó para começar a levar a ajuda humanitária
enviada pelos Estados Unidos, e armazenada há vários dias no território
colombiano, para a Venezuela.
Os camiões com a ajuda humanitária (alimentos e medicamentos)
acabaram por não conseguir chegar ao território venezuelano, por causa do
bloqueio das fronteiras ordenado pelo regime.
A situação degenerou em confrontos e pelo menos quatro pessoas
foram mortas e outras centenas ficaram feridas nas fronteiras da Colômbia e do
Brasil.
A Venezuela conta actualmente com 365.000 militares e polícias,
bem como 1,6 milhão de elementos de milícias civis.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de Janeiro,
quando o presidente da Assembleia Nacional (parlamento), Juan Guaidó, se
autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os
poderes executivos de Nicolás Maduro.
Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados
Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, denunciou a
iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado
liderada pelos Estados Unidos.
A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de Janeiro
provocou mais de 40 mortos e cerca de mil detenções, incluindo menores, de
acordo com várias organizações não-governamentais e o parlamento venezuelano.
A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal,
reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições
livres e transparentes.
Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou
luso-descendentes.
Os mais recentes dados das Nações Unidas estimam que o número
actual de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo situa-se nos 3,4
milhões.
Só no ano passado, em média, cerca de 5.000 pessoas terão
deixado diariamente a Venezuela para procurar protecção ou melhores condições
de vida. ANG/Lusa/Inforpress