FMI/Previsões:
Impacto da guerra é muito negativo e muito grave em África
Bissau,29
Abr 22(ANG) – O conselheiro do Departamento Africano do Fundo Monetário
Internacional (FMI), Alex Segura, disse quinta-feira à Lusa que o impacto da
guerra na Ucrânia é “muito negativo e muito grave em África”, devido às
vulnerabilidades já existentes.
Em
entrevista à Lusa no dia do lançamento do relatório sobre as Perspetivas, Alex
Segura afirmou que “o impacto em África da guerra na Ucrânia é muito negativo,
é muito grave, porque os países de baixo rendimento já tinham mecanismos mais
limitados para lutar contra a pandemia de covid-19, e tiveram um choque
importante, com mecanismos muito menos desenvolvidos do que os países avançados
para gerir a pandemia”.
Agora,
continuou o conselheiro do departamento africano, “chegam numa situação de
grande vulnerabilidade, e a preocupação principal do FMI é o aumento dos preços
dos combustíveis e dos produtos alimentares”.
A
Ucrânia e a Rússia são dois dos principais produtores de cereais, nomeadamente
trigo, que é a base da alimentação em vários países africanos, nomeadamente do
norte do continente.
“O
impacto sobre os produtos alimentares é particularmente grave nos países de
baixo rendimento, porque são muito importantes nas camadas mais vulneráveis da
população”, acrescentou o conselheiro espanhol, que é também o representante do
FMI em Cabo Verde.
Questionado
sobre como pode o FMI ajudar os países africanos, já confrontados não só com os
efeitos da pandemia, mas também com a escassa margem de manobra orçamental,
Alex Segura disse que o apoio assenta em três pilares.
“Primeiro,
o financiamento, através de programas de emergência e aumento dos recursos em
novos programas, depois, conselhos, um diálogo profundo para discutir com as
autoridades as medidas de política económica necessárias, e por último a
assistência técnica, que serve para fortalecer as instituições e ajudar a
definir políticas mais robustas nesta situação tão complicada”, disse o
economista espanhol.
Uma
das medidas fortemente recomendadas pelo Fundo é a introdução de “medidas
diretas de apoio às camadas vulneráveis da população, com programas sociais
específicos, em vez de um apoio generalizado ao controlo dos preços, que tem um
impacto muito forte no Orçamento e não beneficia as camadas mais baixas da
população”, explicou.
Questionado
sobre como o apoio às camadas mais baixas da população pode ser feito num
contexto de grande escassez de recursos e de alto endividamento, Alex Segura
disse que o curso adequado de ação depende e varia de país para país.
“Angola,
por exemplo, beneficiou muito do aumento dos preços dos combustíveis, porque é
um país exportador de petróleo, a taxa de câmbio apreciou-se e a
vulnerabilidade da dívida desceu muito, por isso o panorama é variável, em Cabo
Verde, por outro lado, a taxa de crescimento baixou e a vulnerabilidade da
dívida pode aumentar, por isso o cenário depende de país para país”, argumentou
o conselheiro do departamento africano.
Ainda
assim, explicou, há dois princípios que todos os países têm de gerir: preservar
a sustentabilidade da dívida e apoiar os mais vulneráveis.
“Cada
país tem de preservar a sustentabilidade da dívida, que se não for sustentável
tem de ser reestruturada, que é um processo que demora tempo e precisa de um
diálogo profundo com os credores, mas se for sustentável, é preciso
preservá-la, e esse é um dos pilares da estabilidade”, afirmou.
O
outro pilar é o da introdução de medidas de apoio às camadas mais vulneráveis
da população, salientou, admitindo que preservar as finanças públicas “pode
implicar um país ter de imprimir medidas de consolidação orçamental” e vincando
que “é normal utilizar dívida como mecanismo de financiamento, mas de uma forma
moderada porque o espaço orçamental é reduzido”.
O
importante, concluiu, “é encontrar o equilíbrio entre preservar a
sustentabilidade da dívida e introduzir medidas de apoio para proteção das
camadas mais vulneráveis da população”.
DÍVIDA
PÚBLICA em relação ao PIB 2021…..2022…..2023
África
subsaariana…… .56,9…..55,1…..54,3
Angola………………..............................86,3…..57,9…..54,6
Cabo
Verde…………............................154,1….159,2….152,7
Guiné-Bissau………….............................80,7…..79,7…..77,7
Guiné
Equatorial……… 39,9…..27,8…..30,4
Moçambique…………..............................102,3….102,0…..94,8
São
Tomé e Príncipe……...........................61,3…..63,1…..60,0
CRESCIMENTO
DO PIB…….2021…..2022…..2023
África
subsaariana…….............4,5……3,8……4,0
Angola………………..................0,7……3,0……3,3
Cabo
Verde……………...............6,9……5,2……5,8
Guiné-Bissau………….................3,8……3,8……4,5
Guiné
Equatorial……..-.................3,5……6,1…..-2.9
Moçambique…………….................2,2……2,7……4,5
São
Tomé e Príncipe……...............1,8……1,6……2,8
FONTE:
World Economic Outlook, abril 2022
ANG/Inforpress/Lusa