Cabo Verde/Save the Children exorta doadores internacionais a travar fome no Corno de África
Bissau, 27 Abr 22(ANG) – A organização não-governamental Save the Children voltou hoje a apelar aos doadores internacionais para prevenir a fome na Somália, Etiópia e Quénia, já lançado por dezenas de entidades humanitárias.
Segundo
a organização, 14 milhões de pessoas estão em risco de fome nestes países
africanos, cerca de metade das quais crianças, mas o número poderá aumentar
para 20 milhões.
A
crise alimentar resulta da grave seca que atravessa o Corno de África, das
consequências da pandemia de covid-19, do conflito armado, das infestações de
gafanhotos e do aumento de preços fruto do conflito na Ucrânia, assuntos que
foram discutidos esta terça-feira na Mesa Redonda de Alto Nível para
a Seca no Corno de África, coorganizada pela União Europeia e o Escritório das
Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitárias (OCHA, na sigla
inglesa).
Mais
de 40 ONG e redes de apoio emitiram pedidos aos doadores, que se
reuniram em Genebra, para reforçarem o financiamento e liderança
humanitários, exortando que eventuais atrasos terão um elevado custo em vidas.
Desde
o início de 2022, mais de meio milhão de pessoas já abandonaram as suas casas
em busca de comida e água só na Somália e, em termos regionais, 5,7
milhões de crianças encontram-se em risco de malnutrição aguda e 1,7 milhões em
risco severo, diz o comunicado.
O porta-voz
da Save the Children para a África Oriental e Sul, Shako Kijala,
afirmou que as crianças são sempre as mais afectadas pelas crises
alimentares, lembrando: “A malnutrição leva a problemas de
crescimento, prejudica o desenvolvimento mental e físico a longo prazo,
aumenta o risco de outras doenças e, em última análise, causa a morte.”.
Os
trabalhadores de várias ONG na Somália, Etiópia e Quénia louvaram o grande
apoio demonstrado para com as vítimas do conflito na Ucrânia, mas lamentaram
não assistir ao mesmo nível de urgência face aos milhões de pessoas que
enfrentam “o peso de alguns dos maiores desafios comuns globais, incluindo a
crise climática”.
Segundo
o comunicado, esta “falta de atenção” faz recear que se repitam os atrasos
de 2011, que permitiram 260.000 mortes devido à seca e à fome só na
Somália, embora em 2017 o governo somali e a comunidade internacional
tenham conseguido actuar a tempo de prevenir uma catástrofe semelhante.
Este
último caso demonstrou, para a Save the Children, que é possível evitar a fome
de forma eficaz a partir de uma “abordagem colectiva de financiamento e
programação sem arrependimentos”, e que atrasar a acção apenas “custará mais
aos doadores a longo prazo e corre o risco de reverter a última década de
investimentos na construção de resiliência” na região.
Esta
visão é ecoada por Issack Malim, director executivo da Plataforma Nexus,
na Somália, que disse ser “crítico que os fundos sejam directamente canalizados
para actores locais que procuram colmatar as causas de raiz da fome numa
resposta humanitária integrada, movida pela comunidade”.
Para
as ONG, é necessário replicar agora esta estratégia de sucesso, pelo que
requisitaram aos doadores mais de 4,4 mil milhões de dólares (4,14 milhões
de euros) para fornecer ajuda a cerca de 29,1 milhões de pessoas na
Somália, Etiópia e Quénia ao longo de 2022.
Visto
que apenas 5% deste valor (61 milhões de euros) foi arrecadado para a
Somália até agora e que a reunião patrocinada pela União Europeia nas
Nações Unidas foi “despromovida de uma conferência de doadores para uma mesa
redonda de alto-nível”, a Save the Children exorta os envolvidos para
que comecem “a actuar com um sentido de urgência e tomem
acções decisivas” de forma a evitar a deterioração da crise. ANG/Inforpress/Lusa
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