Mali/ Junta militar acusa França de “espionagem" e "subversão"
Bissau, 27 Abr 22 (ANG) - A junta militar do Mali acusou o exército francês de "espionagem" e "subversão" após a difusão por Paris de vídeos gravados com um drone perto de uma base militar no país.
As acusações da junta militar do Mali aconteceram na noite de terça-feira, 26 de Abril. As autoridades no poder em Bamako acusam o exército francês de "espionagem" e "subversão" após a difusão por Paris de vídeos gravados com um drone perto da base militar de Gossi, recentemente entregue pelos militares franceses às autoridades locais.
O comunicado da junta militar indica que
“desde o início do ano foram constatados mais de 50 casos de violação do espaço
aéreo maliano por aeronaves estrangeiras, nomeadamente operadas pelas forças
francesas” e que “um dos casos mais recentes foi a presença ilegal de um drone
das forças francesas, a 20 de Abril de 2022, na base de Gossi, cujo controlo
tinha sido transferido para as forças armadas malianas na véspera”.
O texto, assinado pelo coronel Abdoulaye
Maïga, porta-voz do governo, acrescenta que “o drone estava presente para
espionar” as forças armadas malianas e acusa também as forças francesas de
“subversão” por publicarem o que classificaram como “falsas imagens para acusar
as forças armadas de serem as autoras de massacres de civis”.
A 21 de Abril, dois dias depois de ter
entregue às forças armadas malianas a sua base de Gossi, o exército francês
publicou um vídeo do que afirma serem mercenários russos a enterrarem corpos
junto a esta base para acusarem a França de crimes de guerra no Mali. Um
“ataque de informação”, explicava o exército francês.
As imagens mostram soldados a taparem cadáveres com areia e, numa
outra sequência, vê-se dois militares a filmarem os corpos parcialmente
enterrados.
O Estado-Maior-General francês garante que se trata de soldados
brancos, deixando a entender que são membros das forças mercenárias russas
Wagner, as quais foram também identificadas em vídeos e fotos tiradas em outros
locais.
No dia seguinte à publicação das imagens, o exército maliano
anunciou ter descoberto “uma vala comum, não longe do quartel antigamente ocupado
pela força francesa Barkhane", nome da operação antijihadista francesa no
Sahel. O Estado-Maior-General do exército maliano acrescenta que “o estado de
putrefacção avançada dos corpos mostra que a vala existe há muito, pelo que a
responsabilidade não pode ser imputada às forças armadas malianas”.
Esta terça-feira, a justiça militar maliana anunciou a abertura de
um inquérito após a descoberta da vala comum de Gossi.
Após quase uma década de intervenção militar contra o
jihadismo no Sahel, Paris decidiu retirar-se do Mali num contexto de
deterioração da segurança e de tensões entre a França e a junta militar,
acusada pelos ocidentais de se ter aproximado de Moscovo. Bamako fala de
“instrutores” vindos da Rússia, enquanto Paris e Washington denunciam a
presença de mercenários do grupo privado de segurança russo Wagner, algo
desmentido pela junta militar maliana.
No contexto da crise diplomática com Bamako, Paris anunciou, em
Fevereiro, a retirada dos soldados destacados no Mali, uma operação a ser concluída
neste verão.
A 8 de Abril, o chefe de diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian,
questionou a versão das autoridades de Bamako que afirmam ter
"neutralizado" 203 jihadistas no final de Março em Moura, no centro,
enquanto a ONG Human Rights Watch acusa os soldados malianos, apoiados por
combatentes estrangeiros, de terem executado sumariamente cerca de 300 civis. A
missão das Nações Unidas no Mali (Minusma) pediu, em vão, a Bamako para se
deslocar ao local para investigações.ANG/RFI
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