Política/Presidente Sissoco acusa Simões Pereira de “estar por trás” de tentativa de golpe de Estado
Bissau, 07 Dez 23 (ANG) - Esta
quarta-feira, em entrevista à France 24, o Presidente Umaro Sissoco Embaló,
acusou o presidente da Assembleia Nacional, Domingos Simões Pereira, de “estar
por trás” de "uma tentativa de golpe de Estado”, em entrevista
quarta-feira à France 24.
Na primeira
entrevista desde que dissolveu o parlamento, o Presidente Umaro Sissoco
Embaló insistiu que houve “uma
tentativa de golpe de Estado” no país e que “a oposição está por trás”,
nomeadamente o presidente da Assembleia Nacional, Domingos Simões Pereira.
“Foi
uma tentativa de golpe de Estado. Hoje, o Chefe de Estado-Maior mostrou as
armas apreendidas. Infelizmente, hoje está na moda na região oeste-africana os
golpes de Estado, mas, como eu disse, eles vão sempre falhar na Guiné-Bissau”,
afirmou, em entrevista à France 24.
Umaro Sissoco Embaló reiterou que “a oposição está por trás disto”
e disse: “Como é o
Parlamento que está implicado no golpe de Estado, é por isso que o Presidente,
em nome da segurança nacional, tomou a decisão de dissolver o Parlamento”.
Questionado sobre o facto de o presidente
da Assembleia, Domingos Simões Pereira, denunciar um “golpe de Estado constitucional”,
Umaro Sissoco Embaló acusou-o de ser “ele
quem está por trás do golpe de Estado” e disse que há escutas
telefónicas que fazem a ligação entre Simões Pereira e o comandante da Guarda
Nacional.
“O
procurador-geral da República deteve o ex-ministro das Finanças e o secretário
de Estado para o Tesouro por desvio de fundos de um montante de dez milhões de
dólares - é preciso ver o que representa na Guiné-Bissau 10 milhões de dólares
e o que podemos fazer com esse montante – e foi quando o presidente da
Assembleia deu instruções. Eu estava no Dubai e ele deu instruções ao
comandante da Guarda Nacional para os ir buscar à prisão da polícia judiciária
para que o inquérito fosse interrompido porque, toda a gente sabe, ele está
implicado nesta corrupção”, acusou Umaro Sissoco Embaló.
“A
Guiné-Bissau é um país com leis e não posso aceitar a desordem aqui na
Guiné-Bissau”, declarou.
Ainda que tenha afirmado que “já não há ameaças” e que “há 75 pessoas presas neste momento”,
o Presidente guineense acrescentou que “ainda
há pessoas a monte” e que o país está “neste momento, em estado de sítio”,
precisando que “já não há
ameaça de golpe de Estado, mas ainda há pessoas a monte com armas”.
Foi assim que Umaro Sissoco Embaló justificou ainda não ter avançado com data
para legislativas antecipadas depois de ter dissolvido o Parlamento. “Primeiro temos que garantir a
segurança para todos, a população está em pânico”, afirmou.
“Como
sabe, eu sou Presidente há três anos, não se trata de um debate que o
Presidente não queira realizar eleições. Não, eu sou um democrata. Na próxima
semana vamos ter um novo Governo e esse Governo vai me propor novas datas para
as eleições legislativas antecipadas. Assim poderei assinar um decreto para
fixar a data”, declarou.
Na segunda-feira,
o presidente do parlamento guineense, Domingos Simões Pereira, afirmou que a
decisão do chefe de Estado de dissolver a Assembleia é um golpe de Estado
constitucional, menos de um ano após a constituição da Assembleia.
"A
lei fundamental do meu país me diz que a ANP (Assembleia Nacional Popular) não
pode ser dissolvida dentro de 12 meses após a sua constituição,
independentemente dos argumentos que foram utilizados neste caso, estamos em
presença de uma subversão da ordem democrática",
disse Simões Pereira.
O presidente da Assembleia notou ainda que
não se pode falar de realização de eleições conforme a lei, 90 dias após a
dissolução do parlamento, porque, frisou, a decisão atual não está dentro do
quadro legal.
"Todos
os guineenses têm a consciência do que está a acontecer e nada vai, de forma
alguma, em alinhamento com as normas constitucionais, portanto é esperar para
ver", destacou Domingos Simões Pereira.
Na segunda-feira, o Presidente guineense
dissolveu o parlamento na sequência de uma série de acontecimentos dos últimos
dias, nomeadamente a detenção preventiva, pelo Ministério Público, de dois
membros do Governo mais tarde retirados das celas da Polícia Judiciária por
soldados da Guarda Nacional.
Os membros do Governo, ministro da Economia
e Finanças, Suleimane Seidi, e o secretário de Estado do Tesouro, António
Monteiro, estão a ser investigados num processo que a oposição diz ser crime de
prevaricação e desvio de normas orçamentais ao pagarem uma dívida de cerca de
10 milhões de dólares a um conjunto de 11 empresários.
Umaro Sissoco Embaló justificou a
decisão de dissolver o parlamento por se tratar de um "caso de
corrupção".
Durante a madrugada de sexta-feira e nas
primeiras horas do mesmo dia, elementos das Forças Armadas dispararam sobre o
quartel da Guarda Nacional para retirar os dois governantes daquelas
instalações e que, depois, devolveram às celas da PJ. Desta ação militar
morreram duas pessoas.
O Presidente guineense considerou os acontecimentos como uma tentativa de golpe de Estado. ANG/RFI
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