sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Chade/Governo expulsa activista de defesa dos Direitos Humanos, Reed Brody

Bissau, 04 Out 24 (ANG) - O advogado americano e activista da Human Rights Watch, Reed Brody, foi expulso quinta-feira do Chade, numa altura em que se encontrava na capital do país para apresentar o seu livro intitulado "A perseguição de Hissène Habré: julgar um ditador num mundo de impunidade",  acerca da luta que travou para fazer julgar e condenar o antigo ditador chadiano.

No âmbito desta apresentação organizada pela embaixada dos Estados Unidos no Chade que devia decorrer no Centro de Estudos de Treinamento para o Desenvolvimento, estava igualmente previsto que o jurista de 71 anos animasse um painel com uma colega do Chade, a advogada Jacqueline Moudeina.

Todavia, antes que a conferência começasse, a polícia evacuou o anfiteatro e colocou o advogado dentro de um veículo que o levou para a Direcção Geral de Inteligência e Investigação (DGRI), os serviços secretos do Chade, fontes policiais indicando que ele foi levado, de seguida, para o aeroporto e forçado a embarcar num voo da Air France rumo a Paris no início da noite.

Questionada sobre as circunstâncias da interpelação do militante de defesa dos Direitos Humanos, a advogada Jacqueline Moudeina disse não ter conhecimento dos motivos desta decisão das autoridades que até a tarde desta quinta-feira não tinham comunicado sobre o sucedido.

Reagindo a esta ocorrência, o conselheiro nacional e antigo presidente da Associação das vítimas de Hissène Habré, Clément Abaïfouta, denunciou "uma vergonha para o país".

Reed Brody foi um elemento central do processo que levou ao julgamento e condenação de Hissène Habré por Crimes contra a Humanidade em 2016 por um tribunal especial, sendo que a advogada Jacqueline Moudeina defendeu, como ele, as vítimas do ex-presidente chadiano.

No poder de 1982 a 1990, até ser deposto pelo pai do actual chefe de Estado, Hissène Habré foi condenado a 30 de Maio de 2016 à prisão perpétua após ser declarado culpado de Crimes contra a Humanidade, violações, execuções, trabalho forçado e sequestro.

Uma comissão de inquérito chadiana estimou em 40 mil o número de mortos causados pelo regime do antigo ditador que faleceu em Dakar em Agosto de 2021.

A interpelação ontem de Reed Brody aconteceu numa altura em que existe um intenso debate sobre a eventual repatriação do corpo de Hissène Habré, actualmente sepultado em Dakar, e sua possível reabilitação. Isto sucedeu igualmente quando a junta no poder em N'Djamena acaba de anunciar no final de Fevereiro o pagamento de 10 bilhões de francos CFA de indemnização para as vítimas do antigo ditador, sendo que diferentes tribunais têm reclamado o pagamento de valores bem superiores, ou seja, mais de 100 bilhões de francos CFA.

Por outro lado, ONGs nacionais e internacionais denunciam regularmente as "violações dos Direitos Humanos" e a "repressão", por vezes sangrenta, que persistem neste país da África central.

Em meados do mês passado, a Organização Mundial contra a Tortura (OMCT) deu conta de um aumento das detenções e prisões extrajudiciais por parte dos serviços de inteligência chadianos.ANG/RFI

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