África do Sul/ Antigo presidente pede
desculpas pelo ‘apartheid’ em vídeo póstumo
Bissau, 12 Nov 21 (ANG) – O antigo presidente sul-africano De Klerk deixou uma mensagem póstuma, divulgada pouco após a sua morte, em que pede “desculpas pela dor e o sofrimento, a indignidade e os danos” causados aos negros, mulatos e indianos.
“Esta é a minha última
mensagem dirigida ao povo da África do Sul”, diz Frederick De Klerk no início
do vídeo, colocado na página electrónica da Fundação FW de Klerk pouco após a
morte do ex-presidente.
De Klerk, que surge
magro e frágil no vídeo, diz que em muitas ocasiões lamentou “a dor e a
indignidade” que o regime do ‘apartheid’ provocou nas pessoas de cor na África
do Sul.
“Muitos acreditaram em
mim, mas outros não”, admitiu.
“Por isso deixem-me
hoje, nesta última mensagem, repetir: Eu, sem reservas, peço desculpa pela dor
e o sofrimento, e a indignidade e os danos aos negros, mulatos e indianos na
África do Sul”, declara o antigo chefe de Estado.
O antigo presidente diz
falar como antigo dirigente do Partido Nacional, que impôs o regime do
‘apartheid’ em 1948, mas também como pessoa.
Reconhecendo que
defendeu a segregação do ‘apartheid’ na juventude e mesmo como deputado e
ministro, De Klerk garante que a sua opinião “mudou completamente” no início
dos anos 1980, evocando uma experiência próxima de uma conversão.
“No fundo do meu
coração, tomei consciência de que o ‘apartheid’ era um erro, que tínhamos
chegado a um local moralmente injustificável”, conclui.
O antigo presidente
sul-africano Frederik W. de Klerk, o último chefe de Estado da era do
‘apartheid’ da África do Sul, morreu hoje na Cidade do Cabo aos 85 anos, vítima
de cancro.
De Klerk morreu após uma
batalha contra o cancro na sua casa, na zona de Fresnaye, na Cidade do Cabo,
confirmou hoje um porta-voz da Fundação F.W. de Klerk.
Foi De Klerk, que
partilhou o Prémio Nobel da Paz com Nelson Mandela, que, num discurso proferido
no parlamento da África do Sul no dia 02 de fevereiro de 1990, anunciou que
aquele que viria a ser o primeiro presidente negro da África do Sul, seria
libertado da prisão após 27 anos de cativeiro.
O anúncio eletrizou na
altura o país, que durante décadas tinha sido desprezado e sancionado por
grande parte da comunidade internacional pelo seu brutal sistema de
discriminação racial conhecido como ‘apartheid’.
Com o aprofundamento do
isolamento da África do Sul e a sua economia outrora sólida a deteriorar-se, De
Klerk, que tinha sido eleito presidente apenas cinco meses antes, anunciou
também no mesmo discurso o levantamento da proibição do Congresso Nacional
Africano (ANC) e de outros grupos políticos anti-‘apartheid’.
Vários membros do
parlamento abandonaram nesse dia a câmara enquanto o presidente discursava.
Nove dias mais tarde,
Mandela saiu em liberdade e quatro anos depois seria eleito o primeiro
presidente negro do país, em resultado de os negros terem pela primeira vez
exercido o direito de voto.
De Klerk e Mandela receberam o Prémio Nobel da Paz em 1993 pela sua cooperação, muitas vezes intensa, no processo de afastamento da África do Sul do racismo institucionalizado e em direcção à democracia.ANG/Inforpress/Lusa
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