Covid-19/Pandemia agravou qualidade das democracias globais – diz investigador
Bissau, 22 Nov 21(ANG) – Os efeitos políticos mundiais da pandemia de covid-19 ainda se vão fazer sentir nos próximos anos, à medida que a qualidade das democracias se degrada, defendeu Kevin Casas-Zamora, secretário-geral da International IDEA.
No dia em que o Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Social (International IDEA) divulga o Relatório Global sobre o Estado da Democracia, o seu secretário-geral traçou um panorama sombrio sobre o futuro dos regimes democráticos.Em
declarações à Lusa, Kevin Casas-Zamora mostrou-se preocupado com os resultados
do mais recente relatório que revela que o planeta está a tornar-se mais
autoritário, com o número de países que seguiram uma trajetória autoritária em
2020 a superar o número daqueles que seguiram uma trajetória democrática.
A
pandemia de covid-19 agravou a estabilidade de vários regimes democráticos, mas
a tendência de degradação das democracias no mundo já se fazia sentir há vários
anos, explicou Casas-Zamora.
O
secretário-geral da International IDEA teme mesmo que os efeitos políticos da
pandemia de covid-19 ainda não se tenham feito sentir e que os próximos anos
revelem dados ainda mais preocupantes sobre a qualidade das democracias.
“Eu
não vejo qualquer sinal de inversão da tendência que se verifica há, pelo
menos, cinco anos. Bem pelo contrário, as consequências políticas da pandemia
podem ainda vir a reflectir-se negativamente no futuro próximo”, disse
Casas-Zamora.
A
versão deste ano do relatório sobre o estado das democracias, hoje divulgada,
mostra que o número de Estados democráticos onde se verificaram retrocessos nos
parâmetros avaliados duplicou na última década, incluindo países como os
Estados Unidos e alguns países da União Europeia, como Hungria, Polónia e
Eslovénia.
“O
facto de democracias populosas – como os Estados Unidos, a Índia e o Brasil –
estarem a demonstrar sinais de fragilidade deve preocupar-nos, pelo efeito que
pode ter sobre outras democracias”, explicou o secretário-geral da organização
com sede em Estocolmo.
Casas-Zamora
alertou ainda para o facto de o problema não residir apenas no avanço dos
regimes autocráticos, mas também na fragilização dos regimes democráticos.
“Vários
parâmetros analisados revelam que a qualidade geral das democracias, mesmo as
estabilizadas, está a diminuir. E isso sente-se na forma como as pessoas
participam na vida democrática ou na forma como os governos são monitorizados”,
explicou o investigador.
Apesar
deste diagnóstico pessimista, Casas-Zamora lembra alguns dados positivos
revelados pelo relatório sobre o estado das democracias nesta era de pandemia.
“Apesar
das condições particularmente difíceis, vários países mantiveram o seu
calendário eleitoral e conseguiram realizar eleições de forma transparente e
pacífica”, disse o secretário-geral, dando o exemplo da Coreia do Sul, que
conseguiu evitar um adiamento das suas eleições, em plena pandemia.
“Por outro lado, o nosso relatório revela que o activismo cívico tem vindo a aumentar em várias regiões do mundo”, acrescentou Casas-Zamora, referindo a situação em Myanmar ou na Bielorrússia, onde movimentos pro-democracia têm feito ouvir a sua voz, apesar das ameaças autocráticas dos regimes.ANG/Inforpress/Lusa
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