Clima/COP 27 é "exercício de
agenda" sobretudo em período de guerra na Europa
Bissau, 08 Nov 22
(ANG) - A COP 27 começou em Sharm El-Sheikh, no Egipto,
reunindo cerca de 100 chefes de Estado e
de Governo de forma a encontrar soluções conjuntas para o combate às alterações
climáticas, numa altura em que é quase certo que Mundo vai aquecer 1,5 graus
nos próximos cinco anos.
Um dos pontos mais importantes neste encontro
é a negociação das compensações para os países que emitem menos gases de efeito
de estufa, muitos deles situados no Hemisfério Sul, e são, no entanto, os
países que mais sofrem com o aquecimento global. No Egipto, muitos deles vão
pedir que se cumpra a promessa de 100 mil milhões de dólares de ajudas nunca
cumpridos até agora.
Para Viriato Soromenho Marques, filósofo e
professor universitário, há vários anos envolvido no movimento ambiental em
Portugal, esta é uma COP que parte de dois erros, nomeadamente a ideia de uma
ajuda dos países industrializados aos países do sul que deveria ser substituída
por uma cooperação efectiva, e a negociação de emissões que hoje em dia já não
faz sentido.
"Esta reunião vai ter uma agenda que se prende
com as perdas e os danos e essencialmente isso é analisar os impactos negativos
sobre os países em vias de desenvolvimento das alterações climática,s há uma
consciência de que embora as alteraçoes climáticas sejam um processos mundial e
global, a verdade é que existem países mais responsáveis e outros que são menos
e existe uma certa assimetria. Temos países como Moçambique que tem emissões
irrisórias, quase indetectável, e que é um dos países que mais sofre com as
alterações climáticas", disse o académico.
Para Viriato Soromenho Marques, esta forma
de olhar para os países do Sul, numa óptica "caritativa" não faz
sentido hoje em dia, já que países como China, Índia ou Brasil figuram agora
entre os países que mais emitem e não fazem parte da OCDE, tendo de haver uma
verdadeira cooperação entre os países para que a industrialização não aconteça
com combustíveis fósseis.
Viriato Soromenho Marques, que segue as reuniões do clima há quase
30 anos, referiu que as suas expectativas para a COP 27 são nulas,
especialmente numa altura em que a guerra voltou à Europa.
"Acompanho este processo desde o início e as minhas
expectativas em relação a esta COP 27 são nulas [...] Estamos a viver uma
situação de grande perigo, num contexto em que, pela primeira vez desde 1945,
podemos ter uma situação de guerra nuclear na Europa, mas com possibilidade de
alastramento e, ao mesmo tempo, as tensões dos Estados Unidos com a China
têm vindo a subir e o clima das relações entre países não vai permitir avanços
nenhuns, mas mesmo sem a guerra seria difícil, com a guerra será um exercício
de agenda", concluiu.
A COP 27 decorre no Egipto até 18 de Novembro de 2022 ANG/RFI
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