Estocolmo/Metade dos regimes democráticos em todo o mundo em declínio
O mais recente relatório sobre o Estado Global das Democracias, relativo ao ano de 2021, do Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral (IDEA), que vai ser hoje apresentado num evento público, indica que o número de países democráticos em regressão é o mais elevado da última década.
“O
número de países a nível mundial que avançam na direção do autoritarismo excede
o dobro do número de países que avançam numa direção democrática”, acrescenta o
relatório, que mostra que mesmo democracias estabelecidas, como a
norte-americana, estão hoje a braços com problemas que minam a sua
credibilidade junto dos eleitores.
Nos
últimos cinco anos, o progresso das democracias a nível global tem estagnando
nos índices destes relatórios do IDEA, verificando-se mesmo algumas regressões
e, em vários parâmetros, não estão melhores do que em 1990.
O
relatório do IDEA mede o desempenho democrático de 173 países desde 1975 e
procura fornecer um diagnóstico sobre o estado das democracias em todo o mundo.
“Estamos
perante uma situação muito grave. Mesmo países com sistemáticos bons resultados
nos índices refletem quedas, provando que há um problema global com as
democracias”, disse à Lusa o secretário-geral do IDEA, Kevin Casas-Zamora.
O
declínio da democracia global reflete-se em diferentes parâmetros, incluindo a
credibilidade dos resultados eleitorais, restrições às liberdades cívicas e de
expressão, a desilusão dos jovens com a atividade política.
Quando
os investigadores do IDEA procuram encontrar causas para o declínio dos regimes
democráticos detetam explicações no afastamento dos eleitos perante os
problemas reais dos eleitores, o aumento da corrupção e a ascensão de partidos
demagógicos e populistas que polarizam e radicalizam a atividade política.
Ao
mesmo tempo, o relatório deste ano mostra que os regimes autoritários são cada
vez mais numerosos e estão a aprofundar a sua atividade repressiva, tendo 2021
sido o pior ano de que há registo.
“Mais
de dois terços da população mundial vivem agora em democracias em regressão ou
sob regimes autoritários e híbridos”, conclui o relatório, que ainda assim
deixa alguns sinais de otimismo, relativamente ao cenário político global.
“As
pessoas estão a unir esforços de forma inovadora, para renegociar os termos dos
contratos sociais, pressionando os seus governos a satisfazer as exigências do
século XXI, desde a criação de estruturas comunitárias de cuidados infantis, na
Ásia, até às liberdades reprodutivas na América Latina”, conclui o estudo do
IDEA.
Em
declarações à Lusa, o secretário-geral deste instituto com sede em Estocolmo
reconheceu que há muitos casos interessantes de atividade cívica, como os
movimentos ambientais, as manifestações a favor dos direitos das mulheres no
Irão ou os protestos políticos na Tailândia, revelando que “os cidadãos mostram
vontade de ultrapassar os limites do politicamente possível”.
“Os
próximos anos vão ser desafiantes”, garante Casas-Zamora, lembrando que “ao
contrário do que os pessimistas democráticos podem sugerir, os regimes
autoritários e os sistemas alternativos de governação não superaram o
desempenho dos seus pares democráticos”.
Ainda
assim, o relatório sobre a saúde das democracias no planeta apresenta
indicadores preocupantes para quem acredita nesta forma de regime político,
como o facto de, no final de 2021, metade dos 173 países avaliados terem
revelado declínio em pelo menos um dos atributos democráticos.
Na
Europa, por exemplo quase metade de todas as democracias, num total de 17
países, sofreram erosão nos últimos cinco anos, e Portugal não foi exceção,
depois de, em 2020, ter registado uma queda em três dos parâmetros que medem a
qualidade das democracias.
Portugal,
apesar de tudo, mantém-se como uma democracia saudável e partilha com outros
países europeus algum défice na componente da corrupção e na falta de maior
abertura à participação dos cidadãos nas decisões governativas.
Nos
continentes asiático, africano e sul-americano persistem problemas sistémicos e
históricos de graves défices democráticos, com países como Afeganistão,
Bielorrússia, Comores ou Nicarágua a repetir desempenhos de declínio dos parâmetros
democráticos.
“A
democracia não parece estar a evoluir de uma forma que reflita a rápida
evolução das necessidades e das prioridades. As melhorias são pouco
significativas, mesmo nas democracias em que se regista um desempenho de médio
ou alto nível”, conclui o relatório.
O
documento do IDEA recomenda uma série de medidas políticas para renovar e
reativar os regimes democráticos, nomeadamente com a adoção de contratos
sociais mais equitativos e sustentáveis, com reformas das instituições
políticas e com o fortalecimento das defesas contra o autoritarismo.
ANG/Inforpress/Lusa
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