Jammeh sem legitimidade pode ser obrigado a sair
Bissau, 19 Jan 17 (ANG) -A crise política na Gâmbia, que
desde terça-feira está em Estado de Sítio por decreto de Yahya Jammeh, cujo
mandato legítimo terminou quarta-feira, é até agora o maior teste para a
política de prevenção de conflitos que o novo Secretário-Geral das Nações
Unidas, António Guterres, e a União Africana querem privilegiar.
Perante o Conselho de Segurança , António Guterres disse
recentemente que a organização gasta muito tempo e recursos na resposta às
crises, sublinhando que as pessoas pagam um preço alto demais e defendendo “uma
nova abordagem” baseada na mediação de conflitos e na “diplomacia pela paz” e
mais empenho “para prevenir a guerra e apoiar a paz ao invés de nos
concentrarmos em responder aos conflitos”.
O mundo espera de António Guterres um papel mais activo
na tentativa de resolução dos problemas internacionais e acredita, como afirmou
recentemente o Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que o novo
Secretário-Geral da ONU vai dar um “notável impulso a uma nova abordagem dos
problemas internacionais”.
O conflito na Gâmbia, por conseguinte, é a oportunidade
para António Guterres demonstrar uma diplomacia preventiva mais actuante que
busque soluções efectivas para os conflitos actuais e evite novos conflitos,
rompendo deste modo com o consulado de Ban Ki-moon, muito criticado pela sua
inacção.
Para a União Africana, é uma oportunidade para que possa
adoptar um novo paradigma e enviar uma clara mensagem aos líderes africanos
sedentos de poder, a de que já não vai permitir que líderes depostos pela
vontade do povo manifestada nas urnas governem à revelia da soberania popular.
A crise na Gâmbia ainda não resvalou para uma guerra civil, mas o evoluir da
situação caminha para tal, a menos que a ONU e a União Africana invertam o
percurso.
A organização mundial e a entidade regional, que defendem
o mesmo “modus operandis” e cooperam em matéria de paz e segurança, também
serão marcados, pela positiva ou pela negativa, sobretudo o mandato de António
Guterres e a actuação da União Africana.
A France Press noticiou, citando um site de informação
marroquino, que Marrocos promove “uma mediação discreta” na Gâmbia para
convencer Yahya Jammeh a abandonar o poder. De acordo com a fonte, que cita
“meios diplomáticos concordantes”, o ministro marroquino dos Negócios
Estrangeiros, Nasser Bourita, e Yassine Mansouri, chefe dos serviços de
inteligência externa, “cumprem há alguns dias” uma “missão delicada em Banjul”
para o agora Presidente ilegítimo “ceder o poder e aceitar a derrota nas
eleições com a eventualidade de uma retirada dourada em Marrocos”.
Solicitado pela France Press para confirmar essas
informações, o Governo marroquino recusou-se a comentar. Rabat mantém boas
relações com a Gâmbia.
Vários meios de
comunicação sociais noticiaram esta semana, citando fontes do Governo e do
Exército nigeriano, que a Comunidade Económica de Desenvolvimento da África
Ocidental (CEDEAO) prepara uma intervenção militar na Gâmbia, caso Yahya Jammeh
continue a recusar abandonar o poder.
Entre os países implicados na acção destacam-se a Nigéria
e o Senegal, que têm uma força conjunta para desdobrar em território gambiano.
“Tomou-se a decisão de não permitir que o Presidente cessante da Gâmbia
permaneça no poder e isso vai ocorrer através de uma intervenção militar, a
menos que Yahya Jammeh renuncie”, disse uma fonte militar citada pela Prensa Latina.
“Vamos mobilizar-nos muito rápido para Dacar, no
Senegal”, disse outra fonte, citada pela France Press, que mencionou o envio de
“pilotos, técnicos e pessoal de manutenção dos aviões” relacionado “com os
acontecimentos em curso na Gâmbia”. Especialistas militares convergem na ideia
de que as Forças Armadas gambianas “não têm capacidade de enfrentar uma
eventual força regional” se avançar a intervenção militar.
No plano interno, o Presidente cessante está cada vez
mais isolado. Quatro novos ministros deixaram o Governo já assolado por uma
série de demissões, noticiou na terça-feira a agência de notícias France Press
citando fonte próxima do poder.
Os últimos ministros a demitir-se são o dos Negócios
Estrangeiros, Neneh Macdoual-Gaye, das Finanças, Abdou Colley, do Comércio,
Abdou Jobe e do Turismo, Benjamin Roberts, disse uma fonte próxima do governo
cessante, que pediu anonimato.
Benjamin Roberts foi nomeado na segunda-feira para as
Finanças, em substituição de Abdou Colley, mas permaneceu menos de 24 horas no
cargo. Os ministros da Informação e dos Desportos tinham sido substituídos na
semana passada.
Mudanças também ocorreram no Exército, onde oficiais que
se recusam a apoiar Yahya Jammeh contra o Presidente eleito Adama Barrow, como
solicitado pelos comandantes da Guarda republicana, que garante a protecção do
agora Chefe de Estado ilegítimo, foram detidos domingo, segundo fontes dos
serviços de segurança e da oposição.
Esta última reclama pela libertação imediata dos
militares detidos.
Yahya Jammeh decretou o estado de emergência na
terça-feira, justificando a medida com “um nível de ingerência estrangeira
excepcional e sem precedentes” no processo eleitoral do país - em
pronunciamento transmitido pela televisão e no qual lamentou “a atmosfera hostil
injustificada que ameaça a soberania, a paz e a estabilidade”.
O agora Presidente ilegítimo diz querer permanecer no
cargo até que a Justiça se pronuncie sobre o recurso apresentado por si.
A Constituição da Gâmbia estabelece que o estado de
emergência dura sete dias a partir do decreto, mas pode ser prorrogado por até
90 dias com a aprovação do Parlamento, que já deu sinal verde para tal.
O estado de emergência, refere, vigora até o Tribunal
Supremo se pronunciar em relação a uma reivindicação do partido de Yahya Jammeh
sobre alegadas irregularidades na votação.
O Tribunal Supremo devia ter decidido o caso no dia 10,
mas adiou a decisão para Maio, por alegada falta de juízes para uma
deliberação.
ANG/JA
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