Japão autoriza
testes para “fabricar” órgãos humanos dentro de animais
Bissau, 02 ago 19 (ANG) - Cientistas japoneses começarão a
fabricar órgãos humanos dentro de animais,e os testes para o efeito já foram autorizados pelo
governo pela primeira vez no país.
Bandeira de Japão |
A técnica controversa consiste em implantar, em embriões animais
modificados, células-tronco humanas.
Essas células-tronco, chamadas "iPS", têm a capacidade
de produzir qualquer tipo de célula de acordo com a parte do corpo em que são
implantadas e podem, assim, servir de base para a criação de um órgão em
particular.
Este é apenas um primeiro passo de uma experiência que poderia
levar à fabricação, dentro de animais, de órgãos humanos para transplante.
Os trabalhos conduzidos por Hiromitsu Nakauchi, um geneticista
da Universidade de Stanford, são os primeiros do tipo a obter aprovação do
governo depois que o Japão mudou suas regras sobre a implantação de células
humanas.
Antes, o Japão exigia que os pesquisadores destruíssem em 14
dias os embriões, nos quais células humanas haviam sido introduzidas, e proibia
que embriões desse tipo fossem implantados em úteros de animais para
desenvolvimento.
Essas restrições foram abandonadas em março, permitindo aos
pesquisadores solicitarem aprovações individuais para seus projetos.
"Levou quase dez anos, mas agora poderemos começar o experimento",
celebrou Nakauchi.
O processo consiste em desenvolver embriões animais
(camundongos, ratos, ou porcos) que carecem de um determinado órgão, como o
pâncreas, por exemplo.
As células iPS humanas destinadas a se multiplicar para formar o
pâncreas ausente serão implantadas. Os embriões serão, em seguida, introduzidos
no útero de um animal, onde, em tese, vão se desenvolver até eventualmente
gerar um pâncreas humano em funcionamento.
Pesquisas preliminares mostraram sinais promissores, como a
criação de pâncreas de camundongos em ratos. Esses órgãos reimplantados em
camundongos funcionaram bem e regularam o nível de glicose em camundongos
diabéticos.
Outros testes se mostraram mais complicados: os pesquisadores
conseguiram desenvolver rins de camundongos em ratos, mas as células-tronco
dos ratos implantadas em camundongos não se desenvolveram.
Para Nakauchi, as pesquisas autorizadas vão ajudar a entender os
obstáculos nessa área. Ele adverte, porém, que ainda está muito longe do
objetivo.
Mesmo se resultados positivos foram obtidos usando roedores,
"não é fácil cruzar a distância genética entre humanos e porcos",
disse o cientista. "O estudo está apenas começando, não espere que geremos
órgãos humanos em um ano ou dois".
A implantação de embriões animais com células humanas cria o que
é chamado de "quimera": uma entidade composta de células animais e
humanas.
Esse processo abre questões éticas complexas, particularmente o
medo de que não seja inteiramente possível saber com certeza quais órgãos as
células iPS humanas produzirão no animal.
No entanto, especialistas apontam que qualificar esse processo
de criação de "híbridos entre humanos e animais" é um erro. Há uma
grande diferença entre "híbridos e quimeras", diz William Lensch, um
conselheiro de estratégia da Harvard Medical School.
"Em um híbrido humano-animal, metade do DNA de cada célula
seria humana, e a outra metade animal, diferentemente de uma quimera
homem-animal, que contém uma mistura de células totalmente animais e outras
completamente humana", afirmou. "É importante usar o termo
certo", insiste.
Nakauchi assegura que sua equipe será extremamente cuidadosa.
"Teremos dois estágios de controle durante o desenvolvimento embrionário
das quimeras", explicou o cientista. "A cada passo, verificaremos a
presença, ou a ausência, de células humanas no cérebro. Uma vez que a ausência
delas estiver garantida, passaremos para o próximo estágio", completou.
ANG/RFI/AFP
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