“PR e ex-ministro receberam dinheiro para campanhas”, diz arguido
Bissau,
21 nov 19 (ANG) – O principal arguido de um caso de
corrupção, em julgamento nos Estados Unidos, afirmou na quarta-feira que o
Presidente de Moçambique e um antigo ministro das Finanças do país receberam
milhões de dólares para campanhas eleitorais
Presidente moçambicano |
O
negociador da empresa Privinvest, acusada de subornar governantes e políticos,
Jean Boustani disse que a companhia pagou quatro milhões de dólares (3,6
milhões de euros) para o partido Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo,
no poder) para “apoiar a campanha presidencial” do Presidente Filipe Nyusi, em
2014.
Mas o arguido,
que enfrenta acusações de fraude económica, fraude de valores mobiliários,
suborno de membros do governo e branqueamento de capitais, declarou que nenhum
pagamento foi “um suborno” relacionado com os projectos das empresas
moçambicanas Ematum, MAM ou Proindicus que, entre 2013 e 2016, assumiram
empréstimos internacionais à revelia do Governo de Moçambique e causaram uma
“dívida oculta” de 2,2 mil milhões de dólares (dois mil milhões de euros).
Além da
contribuição para a campanha presidencial de Nyusi, a Privinvest também
contribuiu com cinco milhões de dólares (4,5 milhões de euros) para a “campanha
para o parlamento” do antigo ministro das Finanças moçambicano Manuel Chang.
Jean
Boustani prestou depoimento sobre as acusações de subornos pagos pela empresa
Privinvest a membros do Governo e autoridades de Moçambique, como Manuel Chang,
António do Rosário, Isaltina Lucas, Renato Matusse e outros, durante o qual
negou que se tratassem “de subornos”, e considerou serem apoios a “negócios
privados” ou a “planos pessoais”.
A
explicação começou por uma reunião na sede da empresa Privinvest em Abu Dhabi,
em 2014, onde estavam presentes o fundador e presidente executivo, Iskandar
Safa, e o responsável de vendas, Jean Boustani.
“Acho
que era em Maio de 2014, por essa altura já sabíamos qual era a dimensão dos
projectos em Moçambique. Era, também, a campanha do futuro Presidente Filipe
Nyusi, para a qual contribuímos”, indicou Jean Boustani, antes de ser
interrompido pelo advogado Michael Schachter.
Mais
adiante no depoimento, a Defesa mostrou um ‘e-mail’ de Jean Boustani para o
director financeiro da empresa Privinvest de acordo com o qual uma entidade “A”
devia receber quatro milhões de dólares.
Aquele
valor referia-se “especificamente (…) no período de tempo da campanha do
partido pelo futuro Presidente Nyusi. Estes quatro milhões foram uma
contribuição para o partido Frelimo pela campanha nas eleições presidenciais”,
explicou Jean Boustani em tribunal.
O
advogado de Boustani perguntou se o antigo ministro das Finanças Manuel Chang
“tinha falado dos seus planos”, numa das visitas da delegação moçambicana às
instalações da Privinvest em França e na Alemanha.
Jean
Boustani disse que Manuel Chang respondeu, em confidência, “estar cansado” de
cargos políticos e que pensava em abrir um banco.
“Quando
forem as eleições para o Presidente Nyusi, ele [Manuel Chang] disse não
acreditar que ia continuar a ser ministro das Finanças, por estar cansado e
estar a fazer isso há quase duas décadas”, relatou Jean Boustani, em tribunal.
De
acordo com o negociador da Privinvest, Chang disse que “tinha vários negócios,
tinha uma empresa de consultoria e estava a planear abrir um banco” e “anunciou
que queria concorrer para ser membro do parlamento ou congressista”.
Segundo
o depoimento, Manuel Chang perguntou se havia interesse “em financiamento” ao
que Iskandar Safa concordou e disse que “podia dar apoio para a campanha
parlamentar”.
“Perguntámos
quanto ele estimava os custos para a campanha e para a licença do banco (…),
ele disse que cinco milhões (…) eram suficientes para iniciar o processo”,
afirmou Jean Boustani.
Foi
assim que Jean Boustani mandou um comprovativo de transferência para uma
entidade, a Thyse International Incorportation, no valor de cinco milhões de
dólares, numa altura em que Manuel Chang tinha aprovado o empréstimo para a
Proindicus há oito meses. O projecto foi assinado em Fevereiro e a
transferência foi efectuada em Outubro.
Para a
empresa Privinvest, as transferências de dinheiro interceptadas pela
Procuradoria dos Estados Unidos eram para “influência e lóbi”, disse Boustani,
citando o Presidente da empresa, o bilionário Iskandar Safa.
Os
pagamentos faziam partes de “um orçamento” criado por Iskandar Safa para
“diferentes actividades, investimentos, construção de relações, ‘lobbying’ e
influência, disse o arguido. “Tudo o que queríamos construir para o longo
futuro de Moçambique”, acrescentou.
Manuel
Chang, detido na África do Sul, enfrenta dois mandados de extradição para os
Estados Unidos e para Moçambique, por envolvimento no esquema de subornos.
O caso
está a ser investigado nos Estados Unidos porque algumas transferências
bancárias de alegados “subornos” terão passado por bancos intermediários em
Nova Iorque e porque investidores norte-americanos sofreram grandes perdas com os
investimentos em Moçambique. ANG/Inforpress/Lusa
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