Bissau,08 Mai 20(ANG) - O líder parlamentar do
Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Califa Seidi,
qualificou quinta-feira de "ato bárbaro" a ocupação da Assembleia
Nacional Popular (ANP) guineense pelas forças de segurança.
As
forças de segurança ocuparam quinta-feira durante várias horas o parlamento da
Guiné-Bissau, depois de anunciada uma conferência de imprensa de deputados que
mantêm o apoio ao Governo de Aristides Gomes, demitido por Umaro Sissoco
Embaló, impedindo a entrada de pessoas.
O
PAIGC, a Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau
(APU-PDGB), Partido da Nova Democracia e União para a Mudança assinaram em
março de 2019 um acordo de incidência parlamentar, na sequência da realização
de legislativas, ficando com 53 dos 102 deputados eleitos.
Representantes
dos quatro partidos realizaram quinta-feira uma conferência de imprensa, na
qual reafirmaram a sua fidelidade ao acordo rubricado em 18 de março de 2019.
É “um
dos atos mais bárbaros na história democrática” do país, afirmou Califa Seidi,
em conferência de imprensa, que acabou por ser realizado no parlamento.
“Tivemos
conhecimento que a sede do ANP esteve invadida por forças de segurança, com
armas e tudo, impedindo a entrada de pessoas, mas o que é verdade é que isto é
a casa do povo, onde se faz política e ser fechada a isso é condenável”,
declarou Califa Seidi.
Para o
líder da bancada parlamentar do PAIGC, a responsabilidade pelo ato é do Governo
“investido com força e que continua com a lógica da força, indo contra a
democracia”.
A
Guiné-Bissau tem vivido desde o início do ano mais um período de crise
política, depois de Sissoco Embaló, dado como vencedor das eleições pela
Comissão Nacional de Eleições, se ter autoproclamado Presidente do país, apesar
de decorrer no Supremo Tribunal de Justiça um recurso de contencioso eleitoral
apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira.
Na
sequência da sua tomada de posse, o Presidente guineense demitiu o Governo
liderado por Aristides Gomes, apesar daquele manter a maioria no parlamento, e
nomeou para o cargo de primeiro-ministro, Nuno Nabian, líder da APU-PDGB, que
formou um Governo com o Movimento para a Alternância Democrática (líder da
oposição), Partido de Renovação Social e elementos do movimento de apoio ao
antigo Presidente guineense, José Mário Vaz, e do antigo primeiro-ministro
Carlos Gomes Júnior.
A
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que tem mediado
a crise política na Guiné-Bissau, reconheceu Umaro Sissoco Embaló como vencedor
da segunda volta das eleições presidenciais do país e pediu a formação de um
novo Governo até 22 de maio com base na Constituição e nos resultados das
legislativas de março de 2019.
Na
conferência de imprensa, participou também Marciano Indi, líder da bancada da
APU-PDGB, que corroborou as palavras de Seidi e ainda indicou que quatro dos
cinco deputados do seu partido estão ao lado da coligação que sustenta o
Governo de Aristides Gomes.
“A
maioria parlamentar está do nosso lado”, observou Indi, que se assume desavindo
com o líder da APU-PDGB, Nuno Nabian.
Nas
declarações aos jornalistas, Califa Seidi instou a CEDEAO a permitir que seja
Aristides Gomes a liderar o Governo da Guiné-Bissau.
“Se
assim não for e nada acontecer até dia 22, a CEDEAO terá que assumir as suas
responsabilidades perante os guineenses e a comunidade internacional”, defendeu
Seidi.
Os
quatro partidos da maioria parlamentar entendem o posicionamento da CEDEAO
“como algo contraditório” já que o Governo de Aristides Gomes tem a maioria no
parlamento, que aprovou o seu programa de Governo.
“Não se
compreende o porquê de solicitar a nomeação de um novo executivo ao invés de
exortar simplesmente a reinstalação do Governo que tem a maioria no parlamento
guineense”, afirmaram.
Nas
declarações aos jornalistas, os representantes dos quatro partidos exortaram
também as “instituições da república e a comunidade internacional a
empenharem-se na criação de condições que permitam ao Supremo Tribunal de
Justiça decidir num futuro próximo sobre o contencioso eleitoral”.ANG/Lusa
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