Bissau,13 Mai 20(ANG) - O antropólogo guineense
Hamadou Boiro defendeu terça-feira ter chegado a altura de os dirigentes
africanos envolverem a medicina tradicional na busca de soluções para o novo
coronavírus, com estudos laboratoriais das ervas utilizadas pela população.
Investigador
sénior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP) da Guiné-Bissau,
consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a covid-19 e membro do
comité científico guineense contra a doença, Hamadou Boiro disse à Lusa que
África tem de encontrar a sua solução sobre a doença.
Questionado
sobre o chá produzido em Madagáscar e que o Presidente daquele país, Andry
Rajoelina, disse ter propriedades de prevenção e de cura da covid-19, Hamadou
Boiro disse que o assunto já se transformou “numa questão política”.
“Mas
para mim cada país tem o direito de dar a solução que achar que é importante”,
defendeu.
O
Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embale, é um dos entusiastas do chá
de ervas, denominado Covid-organics, que mandou importar para o país para
distribuir para todos os 15 países da Comunidade Económica de Estados da África
Ocidental (CEDEAO).
“Não
devemos menosprezar ninguém. Se o Covid-organics está a curar muita gente lá
(em Madagáscar), porque não”, questionou Hamadou Boiro, que, contudo, recomenda
prudência no uso de qualquer medicamente em grande escala, antes de uma
certificação científica.
O
investigador guineense disse ter chegado a altura de África mostrar o que vale,
o que “passa pela existência de políticos fortes e ousados”, que não vão
esperar por orientações dos outros, notou.
“É
preciso reforçar o trabalho da farmacopeia tradicional africana, levar as ervas
africanas ao laboratório para analisar as suas propriedades”, afirmou Hamadou
Boiro, que alertou ainda para o risco de a iniciativa não ser bem acolhida pela
indústria farmacêutica convencional.
A crise
provocada pela pandemia do novo coronavirus é vista pelo antropólogo como uma
oportunidade para que todo o mundo apresente a sua solução para os problemas,
mas numa perspetiva solidária, observou o investigador guineense.
“Daqui
para a frente é preciso que o mundo trabalhe junto, porque as doenças que aí
vêm vão tocar a todo o mundo. Os monopólios vão acabar, há muita gente que vai
ter de acordar”, observou Hamadou Boiro.
No caso
específico de África, o investigador guineense disse que pode trabalhar e
apresentar ao mundo a farmacopeia tradicional, até porque, frisou, os países
desenvolvem-se depois de crises.
Na
Guiné-Bissau, há 820 casos da covid-19 e três pessoas morreram devido à doença.
O
Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, prolongou segunda-feira o estado de
emergência no país até dia 26.
O
número de mortos da covid-19 em África subiu terça-feira para os 2.406, com
quase 70 mil infetados em 53 países, segundo as estatísticas mais recentes
sobre a pandemia naquele continente.
A nível
global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19
já provocou mais de 290 mil mortos e infetou mais de 4,2 milhões de pessoas em
195 países e territórios. Mais de 1,4 milhões de doentes foram considerados
curados.ANG/Lusa
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