Bissau,14
Mai 20(ANG) - O líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo
Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, quarta-feira que a questão da revisão
constitucional levantada pelo Presidente guineense é "uma aberração"
para distrair as pessoas
“Evidentemente
que isto é uma grande aberração, esta questão da revisão constitucional sobre
iniciativa do Presidente da República, mas também é um confronto, uma afronta
às instituições da República”, afirmou Domingos Simões Pereira, numa mensagem
divulgada na rede social Facebook.
O
Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, criou na segunda-feira uma comissão
técnica para elaborar um projeto de revisão da Constituição, para ser adaptada
aos “desafios contemporâneos” e sistema de Governo que “garanta a estabilidade”
do país.
No
decreto que criou a comissão, Sissoco Embaló lembrou que os atores políticos
guineenses assumiram uma série de compromissos internacionais, nomeadamente no
âmbito da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) para
promoverem reformas “necessárias à estabilização” do país, nomeadamente a
revisão da Constituição.
Num
comunicado emitido em abril, a CEDEAO instou as autoridades e classe política
guineense no sentido de encetarem diligências para promover a revisão
constitucional dentro de seis meses, antecedida de um referendo, bem como a
nomeação de um novo Primeiro-ministro e Governo, com base nos resultados
eleitorais das legislativas de março de 2019, até 22 de maio.
Segundo
Domingos Simões Pereira, é preciso ver aquela iniciativa, de criar a comissão
para rever a Constituição, do “ângulo de Umaro Sissoco Embaló”.
“Ele
tem consciência de que não ganhou eleições, ele sabe que está no Palácio da
República porque os militares o colocaram lá, ele sabe que tem reconhecimento
internacional, porque a CEDEAO decidiu jogar essa carta, portanto, tendo
consciência que se aproxima o dia 22 de maio em que todo o mundo vai estar
atento para saber se ele cumpre ou se a CEDEAO está séria em relação ao
comunicado que tinha emitido, toca a distrair as pessoas”, afirmou Domingos
Simões Pereira, que disputou as presidenciais com Sissoco Embaló.
Para o
líder do PAIGC, vencedor das legislativas de março de 2019, o chefe de Estado
guineense “vai distrair, vai lançar aquele elemento de debate” para que todos
fiquem a discutir um “assunto que não existe” dentro da Constituição do país,
nem nas “regras que instruem” a Guiné-Bissau.
“Que
não fiquemos surpreendidos que chegados em 22 de maio surjam um ou outro
Estado-membro da CEDEAO que vá dizer aos seus pares: bom é possível que ele não
tenha cumprido na totalidade, mas viu-se que ele tentou encontrar alguma
solução”, advertiu Domingos Simões Pereira.
Para o
líder do PAIGC, é preciso começar a “tratar as coisas com a seriedade que é
necessária”.
“Nós,
até ao dia 22 fizemos uma trégua, aguardando que se cumpra os pressupostos da
tal solução política que a CEDEAO disse ao mundo que estava à procura. Não se
cumprindo isso, a partir do dia 22 de maio vamos ativar todos os direitos que
nos assistem enquanto partidos políticos, enquanto atores políticos e fazer
valer os direitos junto das instâncias que têm competência para o dirimir”,
afirmou.
A
Guiné-Bissau tem vivido desde o início do ano mais um período de crise
política, depois de Sissoco Embaló, dado como vencedor das eleições pela
Comissão Nacional de Eleições, se ter autoproclamado Presidente do país, apesar
de decorrer no Supremo Tribunal de Justiça um recurso de contencioso eleitoral
apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira.
Na
sequência da sua tomada de posse, o Presidente guineense demitiu o Governo
liderado por Aristides Gomes, apesar deste manter a maioria no parlamento, e
nomeou para o cargo de primeiro-ministro Nuno Nabian, líder da APU-PDGB, que
formou um Governo com o Movimento para a Alternância Democrática (líder da
oposição), Partido de Renovação Social e elementos do movimento de apoio ao
antigo Presidente guineense, José Mário Vaz, e do antigo primeiro-ministro
Carlos Gomes Júnior.
A
CEDEAO, que tem mediado a crise política na Guiné-Bissau, reconheceu Umaro
Sissoco Embaló como vencedor da segunda volta das eleições presidenciais do
país e pediu a formação de um novo Governo até 22 de maio com base na
Constituição e nos resultados das legislativas de março de 2019.
Domingos
Simões Pereira não aceitou a derrota na segunda volta das presidenciais de
dezembro e considerou que o reconhecimento da vitória do seu adversário é “o
fim da tolerância zero aos golpes de Estado” por parte da CEDEAO.
A União
Europeia, União Africana, ONU, Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)
e Portugal elogiaram a decisão da organização sub-regional africana por ter
resolvido o impasse que persistia no país, mas exortaram a que fossem
executadas as recomendações da CEDEAO, sobretudo a de nomear um novo Governo
respeitando o resultado das últimas legislativas.
O
Supremo Tribunal de Justiça remeteu uma posição sobre o contencioso eleitoral
para quando forem ultrapassadas as circunstâncias que determinaram o estado de
emergência no país, declarado no âmbito do combate à pandemia provocada pelo
novo coronavírus.ANG/Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário