Saúde Pública/OMS pede
“operação maciça e urgente” para levar vacina da malária ao maior número de
crianças
Bissau, 06 Dez 21(ANG) – O director do Programa Global da Malária da OMS apelou a uma “operação maciça e urgente” para garantir que a vacina contra a malária chega ao maior número de crianças possível e o mais depressa possível.
“Uma
vacina que pode salvar todos os anos entre 40 e 80 mil vidas de crianças
africanas é algo que precisa de ser abordado com o máximo de ambição e sentido
de urgência. Por isso, uma escalada lenta e gradual, se me perguntam, não seria
aceitável”, disse Pedro Alonso na conferência de imprensa em que apresentou aos
jornalistas o Relatório Mundial da Malária 2021, hoje publicado.
O
responsável falava após, em 06 de Outubro, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
ter recomendado a utilização em larga escala da vacina contra a malária RTS,S,
que já estava a ser aplicada em três países africanos – Gana, Maláui e Quénia –
ao abrigo de um projecto-piloto que já abrangeu 830.000 crianças, segundo disse
Alonso.
A
RTS,S, com uma eficácia de 30% na prevenção da malária grave, foi a primeira
vacina que demonstrou reduzir a malária em crianças.
Provocada
por um parasita que é transmitido por um mosquito, a malária pode ser contraída
várias vezes ao longo da vida e pode comprometer o desenvolvimento e a vida das
crianças quando contraída em idade precoce.
Após
o “anúncio histórico” da OMS, disse Alonso, começa “o trabalho duro”: A procura
potencial da vacina pode ser de 80 a 100 milhões de doses por ano, enquanto a
capacidade de produção actual é de 15 milhões de doses por ano.
“Este
é um exemplo de onde os mecanismos internacionais têm de entrar no jogo, para
garantir financiamento adequado que permita a expansão da capacidade de
produção e a distribuição urgente da vacina”, disse.
O
epidemiologista congratulou-se com o anúncio da Aliança Global para as Vacinas
(GAVI), que na terça-feira deu luz verde ao programa de vacinação contra a
malária na África subsaariana, desbloqueando uma primeira tranche de 155,7
milhões de dólares (137,7 milhões de euros) para financiá-lo.
Questionado
sobre o facto de a vacina só ter uma eficácia de 30%, Alonso sublinhou que uma
redução de 30% dos casos de malária grave – que são ainda hoje a primeira ou
segunda maior causa de hospitalização de crianças em África – tem “um impacto
maciço na saúde pública, provavelmente maior do que o impacto de qualquer outra
vacina contra qualquer outra doença em uso actualmente”.
Se a
utilização de instrumentos de eficácia moderada como as redes mosquiteiras
impregnadas com insecticida permitiram evitar 10 milhões de mortes nos últimos
20 anos, esta vacina, a acrescentar a esses instrumentos, permitirá salvar
outros milhões nos próximos anos, argumentou.
“Representa
um avanço científico maciço, e uma oportunidade histórica para a saúde pública
em África”, acrescentou.
Admitindo
que existem desafios no objectivo de alargar a vacinação contra a malária nos
países da África subsaariana, onde em 2020 ocorreram 96% das mortes por malária
no mundo, Alonso disse que as dificuldades “podem ser facilitadas se houver
compromissos financeiros”.
“E
isto leva-me àquilo que é a grande barreira: a solidariedade internacional. O
mundo vai permitir que exista uma primeira vacina contra a malária que pode
salvar as vidas de milhares de crianças africanas e deixá-la ficar na
prateleira? Ou vai dar um passo em frente, assumir a responsabilidade global
que tem e, com urgência, facilitar os recursos financeiros que permitirão
aumentar a produção e ajudar-nos a levá-la até onde as mortes podem ser
evitadas”, lançou o responsável.
Para Alonso, “se a comunidade global não responder a este desafio, será um falhanço maciço”. ANG/Inforpress/Lusa
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