Petróleo da Guiné-Bissau e do Senegal/ "Cada um deveria ficar com a sua área", diz investigador Gilberto Charifo
Bissau, 17 Dez 21
(ANG) –O investigador guineense na área
de minas e hidrocarbonetos radicado em Portugal,Gilberto Charifo, em entrevista
à RFI, considera que a repartição dos
rendimentos do petróleo numa fasquia de 30% para a Guiné-Bissau e 70% a favor
do Senegal, não se justifica.
"Se realmente o acordo foi assinado, os
parlamentares simplesmente estão a fazer o trabalho deles", começa por referir o estudioso
que relativamente à repartição 30% contra 70% em benefício do Senegal,
considera que "os argumentos deviam ser o oposto, porque por
exemplo, em 1962, aquela área em que a Guiné-Bissau perdeu em tribunal, isso
fez com que os guineenses sempre ficassem desconfiados. E agora o território
(marítimo) da Guiné-Bissau é a partir do azimute 240 para baixo. A zona que realmente
está em questão é a zona guineense que é do azimute 240 para 220 e da outra
parte, dos 240 para os 266 ou 270. No acordo anterior, a zona promissora era a
zona senegalesa. Hoje, a zona promissora é a parte da Guiné-Bissau."
Assim sendo, na
óptica do especialista em hidrocarbonetos "devia-se partir pela situação anterior,
Guiné-Bissau 85% e Senegal 15%, de acordo com as regras de boa vizinhança.
Agora a melhor solução é que cada um fique com a sua área, mas como há uma
tradição que herdamos, temos de saber conviver com isso. Mas saliento que antes
de qualquer acordo desta envergadura, deve-se fazer uma auditoria total da
gestão desses últimos vinte e tal anos para saber como é que a situação está e
o que é que devemos fazer daqui para a frente. Antes de assinar esses acordos,
é preciso fazer um trabalho de casa extremamente amplo."
Neste contexto, o
estudioso guineense considera que a confirmar-se a assinatura do referido
acordo "é
extremamente grave porque antes podia-se entender que a Guiné-Bissau não tinha
nenhuma informação correcta sobre isso, faltavam quadros, faltavam técnicos,
faltava muita coisa. Estamos a falar do início dos anos 90. E agora, desde a
década de 90 até hoje, já lá vão trinta anos e, nesses trinta anos, temos
engenheiros, doutores e Phd's naquela área, pessoas competentes que poderão
suportar isto e apoiar".
Ao ser questionado
sobre a discrepância entre a previsão de repartição de receitas e a percentagem
de território marítimo com que entraram ambas as partes, o investigador Gilberto
Charifo considera que é preciso ter em conta o valor de cada área para a
repartição ser mais justa. "Não concordo quando se diz que o Senegal
entrou com 54% da área e a Guiné-Bissau entrou com 46% e que o raciocínio seja
de que a partilha deva ser de 54/46. Essa partilha não é linear. Posso entrar
com 40% mas a minha área tem mais valor do que a área de quem entrou com 60%,
por exemplo. Então a partilha aí seria feita consoante o valor acrescentado. O
jogo mudou", acrescenta o estudioso.
Relativamente à possibilidade defendida por alguns sectores de opinião de a Guiné-Bissau desistir de um qualquer acordo com o Senegal sobre o petróleo, Gilberto Charifo mostra-se favorável a esta hipótese argumentando que o país tem estrutura para avançar sozinho.
"O que é a própria agência (AGC) faz? A única coisa que faz é dar
licenças de prospecção e pesquisa que visa a sua exploração
depois. E se nós hoje em dia temos a empresa pública que trata disso, poderia
ser estendida para a outra área. Isto é uma coisa simples. Na minha opinião,
cada um deveria ficar com a sua área. Mas devido a laços de boa vizinhança,
vamos imaginar que o petróleo tinha sido encontrado na área do
Senegal, eventualmente iríamos buscar os 15%. Agora que a incidência está do
lado da Guiné-Bissau, para mantermos a regra de boa vizinhança, devíamos também
inverter a situação, 85% para a Guiné-Bissau e 15% para o Senegal",
considera o investigador.
A confirmar-se a
efectiva existência deste acordo, ele segue-se àquele assinado aquando da
constituição da Zona Económica Conjunta em 1993, em que a Guiné-Bissau entrou
com 46% do seu território marítimo e o Senegal com 54%, sendo que esta zona é
tida como sendo potencialmente rica em petróleo e pescado.
Segundo o que ficou
então estabelecido, previa-se que a Guiné-Bissau ficasse com 15% do petróleo e
o Senegal com 85%, sendo que ambas as partes iriam ficar respectivamente com
50% do pescado.
Só que passaram quase trinta anos e o nível de informação sobre a hipotética existência de petróleo é outro, pelo que diversas vozes dentro e fora do parlamento têm vindo a defender que “cada país explore o seu petróleo”. ANG/RFI
Concordo, Senegal do seu lado malefico e de odio ao vizinho irmão...
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