Habitantes de Bara saíram do isolamento
Bissau, 14 ago
(Lusa) - Chegar hoje da tabanca de Bara a Mansoa, norte da Guiné-Bissau, demora
apenas 20 minutos de carro devido a uma estrada construída pela população, que
optou por "ficar com fome", mas ter acesso à saúde e sair do
isolamento.
Os 18 quilómetros distância entre Bara e Mansoa, na
região de Oio, centro da Guiné-Bissau, eram na época seca percorridos em três
horas.
Na época das chuvas, as pessoas ficavam isoladas e
para chegar a Mansoa eram obrigadas a caminhar entre mato e bolanhas (arrozais)
e a levarem uma muda de roupa para chegarem limpos à cidade.
Farto do isolamento e das dificuldades para chegar
a Mansoa, Tchikng Athé teve a ideia de construir a estrada e começou a
mobilizar a população.
"Isto era como se fosse uma ilha, na época da
chuva.
Caem as primeiras chuvas e já não há como os carros
chegarem aqui à nossa tabanca. Por isso decidimos ficar com fome (não resolver
outros problemas), mas resolver o problema da estrada", afirmou à agência
Lusa.
Cansado da promessa dos políticos, Tchikng Athé
recordou a sobrinha, que morreu o ano passado a tentar chegar a Mansoa para ir
ao médico e muitas outras mulheres grávidas que perderam a vida.
"Os carros não conseguiam chegar à nossa
tabanca, era preciso carregá-las com macas improvisadas. Agora podemos dizer:
Deus obrigado. Lutamos mas não acabamos, mas agora os carros entram até à
tabanca", disse, lembrando que todos são filho da Guiné-Bissau.
Em Bara já há estrada, mas ainda há dívidas para
pagar aos donos da máquina e a outras pessoas de boa vontade que ajudaram a
população, que contribui com cerca de 20.000 francos cfa (cerca de 30 euros)
por pessoa de trabalho, as crianças e os mais velhos não pagaram.
"Agora é muito fácil andar nesta estrada,
daqui até Mansoa.
Agora podes vestir boa roupa em casa, sair e
apanhar o transporte na tua porta até Mansoa", afirmou.
Para concretizar a ideia de Tchikng Athé contribui
Manuel Jorge Sigá, que era o antigo motorista que fazia a ligação entre Mansoa
e Bara durante a época seca.
"Para fazer três carreiras (de transporte
publico) num dia, vir de Mansoa para aqui, eras obrigado a começar a viagem de
Mansoa para cá às 03:00 para parar às 09:00. Levavas três horas entre a estrada
principal para aqui em Bara. Três horas para vir, três horas para ir",
explicou à Lusa.
Manuela Jorge Sigá foi o engenheiro e o topógrafo
da estrada e quem discutiu os preços, mas sempre acompanhado pelos
representantes da população.
"Não sou nem engenheiro, nem topógrafo, mas
fui eu que alinhei esta estrada com as minhas mãos. É apenas uma curiosidade.
Como se diz em crioulo a cabra não costuma morder (as pessoas), mas se estiver
em apuros morde", afirmou.
Já o presidente do comité da tabanca de Bara, Damna
Mbali, recordou as promessas dos partidos, que "falam coisas bonitas, mas
que não passam disso mesmo".
"Não confiamos mais em nenhum partido, mas sim
nas nossas mãos. Agora uma pessoa sai daqui e rapidamente chega à Mansoa, até
uma criança vai rapidamente e volta à tabanca.
Agora a população está satisfeita, quando passa
pela minha casa, ou vai a passar na estrada, diz-me sim senhor, fizeram um bom
trabalho", afirmou.
ANG/Lusa
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