Portugal tentou derrubar Sékou
Touré
Bissau, 26 set 18 (ANG) - A Rádio França Internacional
(RFI) ouviu vários testemunhos da invasão portuguesa da Guiné-Conacri, em 1970,
entre os quais o do então sargento aviador António Lobato, no quadro da
comemoração dos 60 anos da independência da Guiné Conacri, no próximo dia 2 de Outubro.
Batizada com o nome de “Mar Verde”, a
operação anfíbia secreta foi a primeira vez que tropas portuguesas invadiram um
país africano independente.
O objectivo da dita Operação Mar Verde era
libertar os prisioneiros portugueses e derrubar o regime de ditadura marxista
do então presidente Sékou Touré, sendo que os navios lusitanos transportavam
membros do futuro governo provisório, constituido por militares da Frente
de Nacional de Libertação da Republica da Guiné, treinados na então Guiné
portuguesa.
Apenas 3 pessoas conheciam todos os segredos desta
operação: Marcelo Caetano, então presidente do Conselho de ministros, o então
governador da Guiné-Bissau, brigadeiro António Spínola e o comandante do centro
de operações especiais Alpoim Calvão que concebeu e dirigiu esta
operação.
A 22 de Novembro de 1970 as forças coloniais portuguesas
invadem Conacri com o objectivo de derrubar o regime de Sékou Touré, e o
arsenal bélico do PAIGC em Conacri, onde residia designadamente o seu fundador
Amilcar Cabral, ausente de Conacri nesse dia tal como o presidente Sékou Touré.
Esta operação secreta, que causou mais de 400 mortos do lado
guineense e 3 mortos e 3 feridos graves do lado português, permitiu libertar 26
prisioneiros lusos, detidos durante 7 anos em prisões do PAIGC em Conacri, caso
do então sargento aviador António Lobato.
Mas no plano político “Mar
Verde” foi um fracasso, condenado pelas Nações Unidas, o que fez
com que Marcelo Caetano não tenha assumido as responsabilidades do Estado
português nesta operação, até hoje não reconhecida por Portugal, como refere o
correspondente da RFI em Conacri Carole Valade.
Um dos objectivos principais da operação era derrubar o regime
de Sékou Touré, com vários inimigos na Europa.
António Lobato comentou o suposto envolvimento dos serviços
secretos franceses ou alemães na preparação do “Mar Verde”.
O general Spínola, então governador militar da Guiné portuguesa,
considerou a operação um “fracasso”,
já o comandante Alpoim Calvão, chefe das operações especiais que planificou e
dirigiu o ataque considerou-a um “sucesso”.
António Lobato, antigo prisioneiro português solto em Conacri em
1970 no âmbito da operação “Mar
Verde”, ouvido pelo
correspondente da RFI em Conacri, Carole Valade, comentou esta discrepância de
leituras sobre os resultados do “Mar Verde”.
Para aprofundar a operação “Mar
Verde” e a forma como a antiga potência colonial da Guiné Conacri,
a França, tentou desestabilizar o regime de Sékou Touré, bem como a repressão
que este veio a exercer sobre a população a RFI sugere a consulta, em francês, de uma grande
investigação sobre a história da violência político nesse país vizinho da
Guiné-Bissau, com arquivos inéditos e entrevistas exclusivas na Internet
em savoirs.rfi.fr
A RFI se implicou também
numa obra colectiva de investigação sobre a repressão política na Guiné
Conacri, publicada terça-feira -"Mémoire collective: une Histoire
plurielle des violences politiques en Guinée". ANG/RFI
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